ENTREVISTA ESPECIAL : Luiz Ayrão
O
rei da verdadeira MPB
Luiz Ayrão completa 32 anos de
estrada e prova a riqueza da música nacional através de suas composições
Mais de 5 mil shows completados esse ano, discos de platina, ouro, diamante por suas expressivas vendagem, milhares de composições inesquecíveis, muitas regravadas por artistas de todas as gerações, poeta, escritor, ou seja, um verdadeiro ícone da MPB. Assim podemos definir Luiz Ayrão, o cantor que está na estrada há 32 anos e tem uma carreira marcada por muitas alegrias e conquistas. Conquistas essas que ficarão enrraizadas de vez na história da música brasileira. Luiz é o tipo de artista que com o passar dos anos vai ficando cada vez melhor. Só pra ter idéia, suas músicas não têm preconceitos e conseguem chegar aos ouvidos das pessoas dos mais variados gostos. São sucessos em forma de bolero, sambas de raíz, sambas-de-breque, marchinhas, músicas românticas, enfim, uma riqueza de sonoridades. Luiz Gonzaga Kedi Ayrão nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Lins de Vasconcelos. Desde pequeno vivia cercado de artistas, já que o avô era maestro, compositor e professor de música. Seu pai, assim como seus tios, nas horas de lazer, dedicava-se a compor, cantar, à poesia e aos instrumentos musicais. Freqüentemente, todos seus familiares se reuniam na casa dos mais velhos. Aí era possível encontrar, de vez enquando, mestres da música popular brasileira, amigos da família, como Pixinguinha e João da Bahia, dentre outros. Por aí, dá para perceber toda qualidade que Luiz foi adquirindo com o tempo. Ainda na adolescência, Luiz Ayrão continuava com seu interesse pela arte de cantar. Seus cadernos escolares, por exemplo, eram cheios de letras e melodias de sua autoria em todos os gêneros musicais. Coincidentemente, nessa época, veio morar no seu bairro, recém-chegado do Estado do Espírito Santo, aquele que mais tarde iria se tornar o maior ídolo da chamada música jovem: Roberto Carlos. Em meados da década de 60, explode a Jovem Guarda movimento musical que domina todas as paradas de sucesso. Nossa Canção (1967), gravada por Roberto, e recentemente por ele regravada ao vivo em seu CD/99, torna-se um grande êxito e solidifica a carreira do novo compositor. Era o primeiro sucesso romântico da carreira do Rei. Outros viriam ainda na voz de Roberto Carlos, como Ciúme de Você (1970), relançado por Zizi Possi (1990) e pela Banda Raça Negra (1994 e 1999), voltando aos primeiros lugares de execução e vendagem em todo o Brasil. Devido a todo esse sucesso, não parou de chover convites para Luiz se lançar como cantor. E isso veio acontecer no início de 1974, através da Emi-Odeon. Seu primeiro trabalho foi preoponderante para que vários sucessos começassem a enriquecer a música brasileira. A partir daí muitos discos foram lançados, shows eram cada vez mais requisitados por todo o Brasil e suas canções eram topo em todas as paradas musicais. Porta Aberta, Conto até Dez, Quero que Volte, Reencontro, O Lobo da Madrugada, Mulher à Brasileira, Os Amantes (regravado atualmente pelo Cantor Daniel e que faz parte da trilha sonora da novela Global América), Amor Dividido, A Saudade que Ficou, O Lencinho,Bonequinha, Meu Canarinho (para a copa de 82), Águia na Cabeça, Separados foram alguns dos muitos destaques na carreira do cantor. Apesar dos esquecimento da mídia a cantores que fizeram história na música brasileira, Luiz Ayrão continua firme e forte empolgando e encantado a todos, de norte a sul, independente de faixa etária social. A força do guerreiro não pára jamais. Seus Cds continuam estourando e muitas de suas obras relançadas para que a nova geração possa perceber o que realmente é MPB. Para falar mais de sua vitoriosa carreira e de todos os seus planos para a música, fomos entrevistar nada mais nada menos que Luiz Ayrão. Confira, sem cortes, a longa matéria que fizemos com esse ícone da música brasileira. |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 28/06/2005
1) Faça um balanço pra gente desses longos anos na estrada . São 5027 shows completados no sábado passado, em Águas de Lindóia. São 32 anos de carreira profissional, ou seja, cantando e recebendo cachês para isso. Tive a oportunidade de conhecer o Brasil todo, desde Roraima até o fim do Rio Grande do Sul. Comheci também alguns países e constatei como nossos governantes perdem tempo em não aproveitar a música e o futebol para abrir caminho para suas atividades, como o americano usou o cinema, por exemplo. Fiz muitos amigos mo meio e fora dele e fãs de carteirinha em todas as camadas sociais e intelectuais, que me deram a certeza de que a mídia, principalmente escrita, não me faz justiça, tendo olhos só para alguns dos meus talentosos colegas, mas sempre os mesmos. Vendi milhões de discos e tive premiações do que denominam ser ouro, platina e diamante. Caracterizei-me por repertório variado, como foi a minha formação musical, ouvindo todos e de tudo. Fiz sambas de raíz, sambas-de-breque, marchas, boleros, canções, frevos, chotes, sátiras, protestos, músicas engraçadas, românticas, tristes e alegres, enfim, andei por todas as praias, sem preconceitos. Tive poucos parceiros, mas de talento. Procurei, buscando inovar e informar, usar em minhas letras, palavras evitadas pela maioria dos letristas, como: fenômeno, arribou, adroginou-se, demodê, etc. Em cada disco procurei sempre algo de novo na letra, na melodia, nos estilos, na interpretação e nos arranjos.
4) Vanessa da Mata, Felipe Dylon e atualmente o cantor Daniel regravam algumas de suas músicas e estão no topo das paradas. Como você viu essa nova roupagem dado às suas composições ? Gostei muito, sobretudo do arranjo para violão feito para a gravação de "Nossa Canção", da Vanessa. Quanto aos intérpretes, cada qual dentro do seu estilo merece nota 10. 5) Fale pra gente sobre seu mais recente CD. É um CD com 7 sucessos gravados ao vivo no Teatro Fallabela, no Rio e 7 músicas inéditas. "Quer ver eu ir, me puxe!" é muito boa, modéstia à parte. As gravadas ao vivo, são ao vivo mesmo, sem truques ou retoques de estúdio. Foram gravadas de cara, sem repetição e é emocionante a particpação do público de todas as idades que lotou o teatro numa segunda-feira chuvosa e às 7 da noite.
7) Podemos ver com o decorrer dos tempos que a mídia está deixando de fora muitos artistas que tem uma história na música e optando por outros sem essa dimensão. Você, em algum momento, se sentiu injustiçado? Como encara isso? Não só eu como vários dos meus colegas. Depois que resolvi botar a boca no trombone e reclamar por justiça, alguns críticos já estão achando que eu posso virar cult. É mole? 8) Isso em algum momento fez você repensar sua carreira e optar por um mercado estrangeiro ? Já ganhei discos de ouro em vários países da America Latina cantando em espanhol. É um trabalho cansativo e desesperador. A coisa chega a tal ordem que você vive 24 horas por dia para não cair da parada aqui e ali. É uma loucura que ninguém agüenta manter por muito tempo. Veja os exemplos.
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