ENTREVISTA ESPECIAL : Claudio Nucci

Um mestre na arte de compor

Trabalho de Claudio Nucci à frente da música, desde a época do Grupo Boca Livre, o evidencia e traz a tona uma vasta riqueza sonora

Exímio compositor, mas também com atuação destacada como cantor, violonista e produtor. Esse é Claudio Nucci, que integrou o inesquecível Boca Livre na 1ª formação oficial do grupo (sendo Zé Renato, Maurício Maestro e David Tygel os outros integrantes) - tendo participado do 1º LP da banda - homônimo - lançado em 1979 de forma independente. Só pra ter idéia, o disco foi, logo de cara,  recordista de vendas até então para um trabalho lançado e distribuído desta forma no Brasil. Esse trabalho colocou em evidência Claudio para o mundo da música e nos trouxe a certeza de que muita riqueza sonora ainda estava por vir através desse completo artista.

A história de Claudio Nucci na música nos dá a certeza da gana que um artista tem que buscar desde o início da carreira. Claudio, que nasceu em Jundiaí e foi criado em Campinas, percebeu a veia musical que lhe fazia presente e partiu para o Rio de Janeiro ainda na adolescência. No Rio, conheceu melhor os trabalhos de Tom Jobim, de Dorival Caymmi, Carlos Lyra, Paulinho da Viola e descobriu também Francis Hime, Dori Caymmi, Milton Nascimento e o "Clube da Esquina". No Colégio Rio de Janeiro, onde estudou, o ambiente musical era de efervescência, com vários de seus colegas, ligados à música: Zé Renato, Mu Carvalho, Zé Luís Oliveira, Alberto Rosenblit, Lobão e Claudio Infante, entre outros.

Em 1976, fez seu primeiro show solo, dirigido por Mauro Assumpção. Já em 1977, fez parte da banda Semente ao lado de Zé Luís Oliveira, Mário Adnet, Claudio Infante, Márcio Resende, Paulinho Soledade e Ricardo Mará. Em 1978, conforme já dissemos acima,   fundou com Zé Renato, Maurício Maestro e David Tygel, o quarteto vocal Boca Livre. Em 1980 ele partiu para a carreira solo e gravou seu primeiro disco solo pela EMI Odeon. Lançou outros dois discos em 1983 e 1984 pela mesma gravadora. Amor Aventureiro, Quero Quero (com Mauro Assumpção), Acontecência (com Juca Filho) e Sapato Velho (com Mu Carvalho e Paulinho Tapajós) são alguns dos seus sucessos. Em 1985 lançou o LP Pelo Sim, Pelo Não com Zé Renato, que teve duas músicas incluídas na trilha da novela Roque Santeiro, da TV Globo. Mais tarde, ainda com Zé Renato e mais Ricardo Silveira, Zé Nogueira, Marcos Ariel, Jurim Moreira e João Batista fundou a banda Zil, que participou da edição do Free Jazz Festival de 1988 e gravou um disco, Zil, no mesmo ano.

Como compositor, Claudio tem atuação destacada, e já teve dezenas de músicas gravadas por intérpretes como Nana Caymmi, César Camargo Mariano, Roupa Nova e outros. Como intérprete, participou de trilhas sonoras e discos. No começo dos anos 90 chegou a trabalhar em parceria com a cantora Ithamara Khoorax. No ano seguinte participou do premiado (Grammy) CD Brasileiro, de Sérgio Mendes, interpretando Ramo de Delírios, de Guinga. Seus trabalhos em CD são Ê Boi (1995), dividido com o vocal mineiro Nós e Voz, Casa da Lua Cheia (1999). De volta ao Boca Livre, entre 1999 e 2004, no lugar de Zé Renato, que decidiu dedicar-se integralmente à carreira solo, participou do premiado CD (Grammy 2002) de Ruben Blades, Mundo, e do lançamernto deste Album num tour pelos Estados Unidos em 2003.

O último trabalho de Claudio foi Ao Mestre, Com Carinho, (2004) em homenagem a Dorival Caymmi, pela gravadora Lua Music.Vale lembrar que em sua carreira, Claudio desfrutou da companhia do compositor baiano e sempre cantou músicas do “mestre” em seus shows, de forma que essa homenagem já estava “na mão”, como ele gosta de dizer.

Mas para quem achava que parou que sua história e conquistaras pararam  por aí, se enganou redondamente. Confira a entrevista de Claudio à nossa equipe e veja o que ele ainda tem pra falar !

Site: http://www.claudionucci.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 02/03/2010

1) Qual o balanço que você faz de sua vasta carreira até aqui ?

Aprendi a gostar de música desde pequeno e trabalhar com algo que se gosta de fazer é um privilégio, pra qualquer pessoa. Nesse aspecto sou totalmente realizado como ser humano, pois faço profissionalmente aquilo que gosto. Mas por outro lado ? – assim como trabalhar em outras áreas ? – a música tem um mercado muito competitivo e, se isso ajuda por um lado, por outro "afunila" as oportunidades. Sinto falta de publicar mais meus projetos, deixar mais rastros, pra dar conta da produção, que é muito grande. Nesse aspecto, sou totalmente inquieto e me sinto faltante com meu público, por não lançar tantos produtos quanto gostaria. Estou no momento exato de iniciar uma reviravolta nesse quadro e isso me estimula bastante.

2) Como compositor, você tem atuação destacada e já teve dezenas de músicas gravadas por intérpretes como Nana Caymmi, César Camargo Mariano, Roupa Nova, entre outros. Você tem alguma uma preferência entre compor e cantar ?

São duas atividades muito interessantes, trabalhosas e também divertidas e não tenho muito preferência por nenhuma em especial, mas se fosse pra escolher, numa situação radical meio inverossímil, tipo "ou só posso cantar, ou só compor daqui por diante" eu escolheria compor, por um motivo simples: as canções têm mais permanência, sem me desfazer do prazer de cantar e de reconhecer as belíssimas vozes que tivemos, temos e vamos ainda ter, no mundo.

3) Você, apesar de ser um exímio compositor de música MPB, tem uma trabalho com tendência acentuada ao estilo regional. O que você tem a nos dizer sobre isso?

Eu sou nascido em Jundiaí, SP e passei toda minha infância no interior, com muitas férias na fazenda onde moraram meus avós, aprendendo uma parte do cancioneiro da roça. Fui pro Rio de Janeiro só em 1972, com 15 anos. Toda essa oportunidade de aprender a cultura regional quando criança, me aguçou esse sentido, que não perdi até hoje. Sou um caipira-caiçara ou um rural-urbano, com muito prazer.

4) Você foi integrante do famoso quarteto vocal Boca Livre, junto do qual gravou o 1º LP, que é considerado um dos 100 mais importantes produtos em vinil da indústria fonográfica brasileira de todos os tempos, além do que é considerado também o disco independente que mais exemplares vendeu até então. Como se sentiu fazendo parte desse vitorioso projeto ?

As pessoas certas na hora e lugar certos, eu digo que foi o que aconteceu conosco no início do Boca Livre. O Boca Livre, no seu início, faz parte de uma época em que não se pagava pra tocar na mídia, onde programadores das emissoras decidiam as programações sem questionamentos dos "donos" dessas emissoras, onde havia espaço para o espontâneo sucesso nas rádios e até televisão. Daí, por também não termos espaços nas gravadoras (tivemos várias reuniões com gravadoras, que nos desprezaram, todas) fomos forçados a produzir um disco "independente" (que dependia de um monte de coisas pra acontecer, inclusive eprincipalmente pelo apoio das nossas famílias) Foi um prazer poder, através desse maravilhoso trabalho vocal, vivenciar a base profissional que trago até hoje, na minha carreira.

5) Depois que saiu do Boca Livre, nos deu a impressão que você seguiria de vez sua carreira solo. Mas entre 1999 e 2004 você retornou ao grupo. A sua volta ao Boca Livre foi uma recaída?

Continuei de fato a carreira solo, que tinha começado até mesmo antes do Boca, porque sempre tinha planejado ser cantor e compositor, independente dos trabalhos coletivos que pintassem. Fui convidado pelo Boca Livre para reintegrar o grupo em 1999. Foi um tempo bacana, onde tive oportunidade de conviver com Fernando Gama e Lourenço Baeta, com quem nunca tinha trabalhado antes. Fizemos coisas muito gratificantes, entre elas a participação no CD do Rubén Blades. Foi muito legal e não foi uma recaída não, aliás, eu sempre fui e sempre vou ser um "Boca Livre". Tenho um lugar garantido na história do grupo e se me chamarem pra projetos possíveis de relaizar, estarei sempre aberto, porque somos amigos e nos respeitamos muito profissionalmente também.

6) Como você está vendo a música brasileira que está sendo divulgada pelas emissoras ?

Existe um monte de coisas interessantes sendo produzidas por muita gente boa, sempre houve isso e a música brasileira é das mais prolíficas do planeta (eu ouço no MySpace direto) , mas não existe espaço para tudo aparecer, é assim que eu vejo o panorama. No mercado "oficial", o "varejão" como sempre abiscoitando a maior parte do "bolo", deixando espaços muito reduzidos para os outros segmentos. Uma pena..Mas esse é o resultado da política de cultura de massa, que visa mais o lucro imediato, o negócio de ganhar grana rápido em detrimento do dersenvolvimento de uma cultura musical forte.

7) Fale pra gente um pouco sobre seu mais recente CD.

Ao Mestre Com Carinho, é o meu CD mais recente, o primeiro só como intérprete e ele nasceu da idéia de homenagear os 90 anos do grande, maravilhoso e imortal mestre, o compositor Dorival Caymmi. Esse CD, produzido por Luiz Fernando Gonçalves e lançado em 2004 pela Lua Music. Fiquei muito feliz quando, um ano depois do lancamento, no início de 2005, recebi através do meu querido parceiro e amigo Danilo Caymmi, a ligação do casal Stella e Dorival Caymmi, dizendo-se muito felizes pela homenagem, contando pra mim que escutavam sempre o CD e gostaram muito do resultado. Pra mim, isso é maravilhoso, porque ter essa aprovação do exigente Caymmi, é um aval e tanto.

8) Zé Renato é sem dúvida um dos seus principais parceiros vocais que você teve na carreira. Como é a sua parceria com ele?

O Zé Renato é parte indissociável da minha história musical e eu tenho por ele um carinho e admiração muito especiais, acredito que ele também por mim. Recentemente, participamos de um DVD, o do grupo vocal feminino "Mulheres de Hollanda" e adoramos estarmos no palco juntos novamente. Infelizmente, não temos nos visto muito mas sempre que nos vemos, é uma festa!

9) Quais seus próximos planos dentro da música ?

Pretendo deixar mais meus rastros. Por isso, finalizo um estúdio aqui em casa, de onde vou produzir a maior parte meus trabalhos daqui pra frente. De cara, penso em colpilar todo meu repertório em "tomos" e lançar CDs que tenham as partituras, cifras e letras dessas músicas. Fico feliz em compartilhar essa notícia aqui nesse espaço, justamente um website de cifras musicais.

10) Deixe um recado final pra legião de fãs que acompanha seu trabalho desde longa data.

Antes disso, quero agradecer esse espaço aqui e desejar boa sorte e vida longa a essa ótima iniciativa que vocês estão conseguindo levar adiante. Para o público, tenho a dizer que, depois de muito tempo, vou poder produzir meus trabalhos de uma forma mais constante, estando muito mais ao lado das pessoas que acompanham meu trabalho, do que tenho estado. Pra mim, isso é motivo não só de satisfação, mas também é uma forma de me redimir com aqueles que me cobram uma presença maior no cenário musical. E podem me cobrar. Promessa é dívida! Abraços a todos.

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