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MPB: será que há falta de poesia ? |
Há muito tempo venho discutindo aqui sobre a qualidade de música de nosso país. Parece que sou do contra, mas é inevitável para uma pessoa que faz parte do universo musical, como eu, aceitar e engolir a seco a qualidade das canções brasileiras. Será que por trás de toda essa inferioridade a falta de poesia é realmente a principal vilã ? E os nossos verdadeiros artistas, será que eles estão sendo bem divulgados pela grande mídia ? Ou será que a cultura dos ouvintes e apreciadores de música está tão baixo a ponto de qualquer música ser considerada um fenômeno ? É meus caros, por mais que a gente tente encontrar uma explicação não dá pra crucificar apenas um responsável. A falta de poesia das músicas é visível, mas isso é apenas a ponta do iceberg. Pra se levar a esse estágio, muitos outros detalhes é que são determinantes para o agravamento dessa questão. Bom, na minha humilde opinião os versos musicais brasileiros estão pobres, porém a questão não é só essa, mas sim a falta de divulgação dos verdadeiros artistas ou dos talentos que estão escondidos pelo país. E isso vai fazendo com que a cultura de nós brasileiros fique pobre. Quem não tem a prática de ouvir uma música mais elaborada, acaba não se acostumando com qualidade, ou seja, vai se criando um círculo vicioso que interessa a quem vende música descartável. É muito mais fácil entender a letra de um funk qualquer do que entender um Djavan, por exemplo. Não estou chamando o povo de ignorante e nem Djavan de incompreendido. A culpa não é de nenhum dos dois, mas sim da falta de educação de qualidade no país. Enquanto o povo não for corretamente instruído, ele irá preferir um ritmo com letras pobres e refrões de fácil assimilação. Com isso, creio que a MPB deveria se popularizar, porque o povo em geral que escuta forró, funk, pagode, axé ( não discriminando os ritmos, pois acho que tudo é a expressão da cultura brasileira) acaba considerando esse gênero mais requintado e de dificil compreensão. A verdade é que temos canções lindíssimas que são verdadeiras poesias. Eu trabalho com música e sei do que estou falando. Só que essa música não chega aos ouvidos da população. O que é divulgado pela mídia é aquele tipo de canção com linhas melódicas simples e sem versos de qualidade. Culpa da mídia também?! Sim, claro, mas nós brasileiros também precisamos estar atentos e cobrar coisas melhores. Caso contrário vamos sempre ouvir aquele velho comentário:`` já não se faz mais música como antigamente``. O universo brasileiro está com muitos jovens valores. Chico Saraiva, Guinga, Mônica Salmaso, Ná Ozzeti, Vitor Ramil, por exemplo, são alguns desses talentos que eu poderia citar. Porém, não possuem uma divulgação tão forte na mídia. E aí, ao ligarmos uma rádio, vamos ouvir sempre os mesmos artistas. Tem hora que cansa, né mesmo? O que falta para os músicos é a valorização e oportunidade de mostrar o trabalho, porque ja vi profissionais talentosos fazendo musica ruim pra poder sobreviver dentro da carreira. Não tenho dúvida em afirmar que a música popular brasileira é melhor conhecida no exterior do que aqui. Semana passada, por exemplo, eu baixei da internet partituras de chorinhos de páginas... da Alemanha! E veja que são músicas pouco conhecidas entre nós como Ernesto Nazareth, João Pernambuco, Dilermando Reis, dentre outros... Por aí você percebe como o mercado anda mal das pernas. Também, é a mesma mesmice. Sou da geração que defende os famosos festivais de música. Antigamente eram feitas caravanas nas faculdades para assistí-los e prestigiá-los. Creio que esse público era muito mais "brasileiro" que a geração de hoje e apesar da repressão, sempre tentavam lutar e dar o recado. Hoje você não vê mais isso. Apesar dos bons e poucos trabalhos sendo desenvolvidos, em contrapartida há muito lixo inútil sendo produzido. E um apelo muito forte pra sexualização da música. Se não fizermos nada, assistiremos de camarote, ao invés de verdadeiros espetáculos, artistas fabricados, programados para vender discos, sem que nada tenham a passar a seu público, a não ser superficialidade.
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