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O acesso crítico ao
mercado fonográfico


Preços exorbitantes e pouco investimento colocam em cheque a vida dos jovens talentos que estão se lançando no mercado

(28/01/2011)

Nos dias de hoje, o aspirante a artista tem que pensar e planejar muito para seguir adiante. Não estou criando um pânico antecipado, mas fazer música, aprender a tocar um instrumento, montar uma banda, ensaiar, deixar tudo afinado e pronto para ser ouvido não é uma tarefa fácil. A dificuldade se acentua quando o músico pretende registrar o resultado de tanto esforço, mas não tem meios financeiros para isso. Diariamente o mercado deixa de fora jovens talentos que, por falta de condições financeiras de levar um projeto pra frente, acaba desistindo de seu sonho e tornando a indústria a mesmice de sempre. Alguns dão sorte de conseguir um apoio de algum empresário, apresentador de TV, cantor, enfim, padrinhos fortes. Outra parcela é obrigada a deixar os projetos nas lembranças e na incerteza de que, ``quem sabe um dia consigo algo``. É, meus amigos, a realidade é uma só: quem quer fazer sucesso atualmente não basta ter valor ou sorte, mas sim dinheiro ou apoio de uma pessoa influente.

Outra prova do que venho dizendo vem de encontro com uma superficial levantamento que fiz. Atualmente, os estúdios estão cobrando preços que variam, em média, de 50 a 150 reais por hora de uso. Imagine-se então o tempo necessário para fazer gravação, mixagem e masterização, de uma ou de várias faixas. Isso sem contar o pagamento de cachês dos músicos convidados, participações especiais, arte gráfica e prensagem. Há relatos no mercado que um CD precise de, aproximadamente, dez mil reais para ficar pronto. E muitos artistas, não possuindo este montante, ficam travados na evolução de seus trabalhos e tornando seus sonhos em pesadelos. Vale lembrar que um dos grandes desafios dos músicos é encontrar um estúdio que possibilite gravação de áudio de qualidade por um preço acessível. Tendo um material de acordo com as exigências do mercado fonográfico, as chances da sua divulgação aumentam, assim como encontrar um bom investidor para o produto, seja junto a grandes gravadoras, seja junto ao crescente mercado independente.

Mas opções existem para tentar driblar essas adversidades. Uma delas tem sido apresentar os projetos de gravação de CDs às leis de incentivo à cultura, o que significa antes ter que passar por mais dois ostáculos: o crivo e aprovação tanto do poder público quanto da iniciativa privada. Outra alternativa para a produção e divulgação dos trabalhos tem sido a Internet, que já relatei aqui em colunas anteriores. Com o desenvolvimento tecnológico e a internet, tornou-se prática gravar músicas em qualidade aceitável no seu próprio computador, com a utilização de programas apropriados, e divulgá-las na rede, através de sites como o My Space e genéricos, além do site de cada banda. Isso não significa que  a música vai tocar na rádio, mas em sua própria casa o artista pode fazer um CD que pode estourar no mundo.

Porém devemos ficar atentos que, mais que uma gravação perfeita, a produção é uma etapa essencial. A grande maioria das figuras do mercado não tem acesso à produção, à pessoa que vai ajudar no repertório. Na temática, alguém que ajude a fazer com que o trabalho não seja apenas mais um CD com músicas. Alguém com um cuidado com o produto final, com as letras, com o som. Devemos lembrar que a falta de qualidade de áudio pode prejudicar demasiadamente um trabalho, trazendo problemas pra qualidade artística. Nas gravadoras independentes ou multinacionais, sempre há, de diferentes formas, uma cobrança, seja ela na vendagem ou na produção do CD. No caso das gravadoras multinacionais, há uma preferência pelos artistas do mainstream (expressão da língua inglesa que se entende por: “dentro da mídia”). Elas dão preferência para contratação de músicos que rendem muito dinheiro, devido ao alto investimento no artista, seja na produção do CD, na publicidade e/ou na distribuição.

Andei me informando que, com o objetivo de dar suporte aos artistas, algumas associações de moradores de áreas mais carentes estão se mobilizando e criando estúdios comunitários, que permitirão aos artistas das vilas e favelas gravarem seus discos a baixo custo, com qualidade e apoio técnico. Esses estúdios estão sendo viabilizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e também tem captação autorizada via Lei Rouanet. Espero que isso não seja focado em apenas algumas localidades e que haja uma abrangência maior por estados.

Para concluir não poderia deixar de fornecer aqui algumas dicas essenciais para a gravação de um CD, a fim de você, artista independente, viabilizar os custos e mão de obra desse projeto e se organizar. O primeiro passo, e talvez o mais trabalhoso, é ensaiar intensamente para que na hora da gravação tudo esteja preparado. Com isso, serão poucas horas de gravação no estúdio. O ideal é  arranjar um produtor musical para indicar quais músicas devem ser colocadas no CD e quais devem ser aprimoradas. No quesito gravação, os instrumentos são gravados separadamente e cada um gasta, em média, 30 a 60 minutos para ser concluído, o que dá uma média de 8 horas de gravação para cada faixa.

Em relação à mixagem esse é o momento de destacar o que está melhor na música e conter o que não ficou tão bom. Nesse processo, ocorre a equalização do som (graves, médios e agudos), o equilíbrio dos volumes de cada instrumento e da voz e da aplicação dos efeitos: reverb, delay, chorus etc. É necessário que haja uma boa mixagem para não comprometer as outras etapas de gravação. Em seguida vem a masterização. O termo vem da expressão “passar para o master”, a fita matriz que contém o material pronto. Hoje é possível masterizar direto no CD. Para finalizar você precisa fazer o encarte do CD. Nesse caso você pode contratar um design gráfico, um artista que tenha experiência, ou fazer por contra própria, se souber mexer com isso. Já a prensagem depende da quantidade de cópias, das cores do silk do CD, quantidade de dobras no encarte e quantidade de cores. No momento de fazer o orçamento da prensagem, verifique se o preço inclui itens como capa, encarte colorido, caixa e lacre plástico. Ufa, quanta coisa, não é mesmo ?! Essa é a vida dura que se leva para ser um artista...


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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