A volta do Vinil |
Para quem acreditava que o vinil, o velho bolachão que rodava nas vitrolas e foi aposentado pelo CD, não iria mais voltar, pode ir se preparando. Enquanto as vendas de CD continuam em declínio e MP3s são trocados sem barreiras, o antes "jogado às traças" LP está ensaiando seu retorno. Cada vez mais encontro discos lacrados em lojas especializadas, sebos e outros picos mais alternativos. O vinil é uma tendência comum a muitos países ocidentais, independente da vitalidade de seus mercados fonográficos. As vendas de LPs subiram tanto na Inglaterra quando na Alemanha no ano passado. Nos EUA, por exemplo, as vendas de vinis aumentaram 39% em relação ao nível do ano anterior. Na Espanha foram de 16 mil em 2005 para 104 mil em 2010. Este aumento se dá a partir de uma base minúscula, mas qualquer aumento de vendas no destroçado mercado midiático espanhol é digno de nota. Este já é o segundo revival do vinil. O primeiro, ao fim dos anos 90, foi propiciado sobretudo pela dance music. Adolescentes compravam toca-discos da marca Technics e sonhavam em se tornar DJs em Ibiza. Mas ser um DJ é difícil e envolve o deslocamento de caixas pesadas. Hoje em dia, a matéria prima do DJ foi transferida para laptops e pendrives. Atualmente os entusiastas do vinil mais fervorosos são roqueiros. A maioria dos discos vendidos é de relançamentos dos clássicos do gênero. Apesar dos avanços tecnológicos (como o CD) terem prejudicado seriamente o LP, as novas tecnologias têm sua parte no ressurgimento das bolachas de vinil. LPs antigos podem ser convertidos para MP3 graças a novos equipamentos de toca-discos equipados com portas USB. A empresa Numark, uma das maiores fabricantes desses modelos, desenvolveu os produtos para DJs de boates e se surpreendeu com o sucesso também entre os consumidores comuns: a companhia recentemente vendeu o toca-discos de número 1 milhão. O que também colabora com a volta do vinil é a crescente desilusão com o som do CD e do MP3. O CD é há muito tempo conhecido por seu áudio límpido mas excessivamente "magro" (e às vezes metálico). Ao meu ver as grandes vantagens do CD quando esse tipo de mídia surgiu eram a facilidade de se escolher a música a ser ouvida (apertando apenas um botão) e a portabilidade, que permitia carregar uma quantidade grande de músicas num item relativamente pequeno. Com a popularização do MP3, isso deixou de ser vantagem. Hoje há aparelhos sonoros com entradas USB, SD e que sequer tocam CDs. E é nesse ponto que entra o vinil novamente. Para alguém que valoriza uma coleção de discos, que gosta de ter o material fisicamente, o LP é muito mais atrativo. É maior, mais bonito, exige um pouco mais de cuidado para a sua reprodução e consequentemente você acaba dando um valor maior ao disco. Como ítem de coleção, o vinil é muito melhor, mas pra quem não liga pra coleções, o MP3 é mais do que o suficiente. Os audiófilos que viveram nas décadas de 50, 60, 70 e 80 sabem que esses foram os anos de glória do disco de vinil. Para muitos, naquela época, os vinis eram de difícil manuseio, grandes demais para serem guardados em segurança, sensíveis à poeira e isso acabou resultando no seu declínio. A chegada do CD (Compact Disc) - que prometia maior capacidade de armazenamento das músicas, maior durabilidade e clareza sonora - tornou o disco de vinil obsoleto. Porém, agora o efeito está se revertendo. Levando em consideração que um disco é prensado sob condições ideais e tocado em um sistema de alta capacidade, o vinil pode restaurar algumas propriedades perdidas do som. Além disso, um LP que teve o acetato bem cortado, as partes metálicas bem produzidas e a prensagem feita dentro dos padrões básicos tem o som infinitamente melhor do que qualquer MP3 ou coisa que o valha, porque não há compressão do som por processos digitais binários. O vinil conserva uma profundidade do som que se perde claramente nos formatos digitais. Mas nem tudo são flores para que essa realidade volta à tona de vez. O vinil pode recuperar a popularidade de duas décadas atrás ? Pode, porém o fator custo deve pesar na balança. Graças ao aumento no preço do petróleo (matéria-prima para a confecção do vinil, e os LPs são distribuídos por caminhão) e a escassez de fábricas, um LP pode custar até US$ 4,50 por unidade para ser fabricado, comparado ao custo de menos de US$ 1 por um CD. Os custos de produção são muito altos e os impostos altíssimos do Brasil oneram muito o produto. Acredito que se houver um movimento das gravadoras para popularizar o LP, talvez a volta do vinil nas prateleiras das lojas e nas coleções dos apreciadores de música seja uma realidade concreta. Afinal, com boa música, bons artistas, e bons produtos, tudo se resolve. E isso, o Brasil tem de sobra !
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