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A falta de liberdade
de criação


Dificuldades dos Mutantes lançarem álbum no Brasil expõe a interferência das gravadoras no processo de criação das bandas

(03/10/2013)

Depois de alguns meses sem escrever um artigo devido a alguns problemas particulares, estou de volta, firme e forte, para dar continuidade ao No Mundo da Música e debater aqui alguns assuntos que dão ``pano pra manga``. Eu poderia falar do Rock in Rio 2013 ou de outras polêmicas envolvendo o cenário atual, porém um assunto me despertou a atenção durante esse período em que fiquei afastado: a dificuldade de uma banda brasileira histórica em lançar um novo trabalho no Brasil e ser obrigado a se apresentar somente em solos estrangeiros. Tal fato aconteceu com, nada mais nada menos, Os Mutantes. A banda que fez história nos anos 1960 e 1970, com Sérgio Dias, seu irmão Arnaldo Baptista e Rita Lee, reapareceu no mercado em maio desse ano para lançar um novo disco, com 12 faixas as quais abordam a crise que os cidadãos enfrentam na América atualmente. Dessa vez Oa Mutantes surgem personificados na figura de apenas um só integrante: o guitarrista Sérgio Dias. O álbum “Fool metal Jack” — cujo nome faz alusão ao filme “Full metal jacket” (“Nascido para matar”), dirigido por Stanley Kubrick em 1987 — chegou ao Brasil apenas digitalmente, pelo iTunes, pois as principais gravadoras no país não têm procurado o conjunto. Sérgio se queixa dos grandes produtores nacionais que restringem a liberdade de criação do artista.

Bom, inicialmente é lamentável que isso esteja ocorrendo. Na verdade esse fato não poderia acontecer com ninguém. Muito menos com uma banda histórica do cenário do rock nacional. Mas antes de mais nada, para que possamos analisar isso de uma forma mais centrada, vamos ao papel das gravadoras, pois elas é quem alimentam os artistas. De certa forma patrocinam as bandas e fazem as pessoas ouvirem o que as bandas tem a dizer. Digamos que elas dão voz às bandas. Mas ninguém faz uma coisa dessas e graça. Principalmente porque também custa fazer uma banda ser ouvida. Então as gravadoras impõem certas condições aos músicos. E apesar de quase todos os músicos falarem mal as gravadoras, no fundo todos sabem da importância delas.

Investir em uma banda é, para as gravadoras, um investimento como comprar imóveis ou outro qualquer. Eles pagam, cobrem as despesas e esperam um lucro. E para conseguir lucro as gravadoras fazem propaganda dos grupos. Mandam eles fazerem turnês, gravarem álbuns, etc. Mesmo que existam grandes absurdos em certos contratos de gravadoras, elas são extremamente importantes. Algumas gravadoras exigem coisas que não se pode exigir de uma banda. Por exemplo, orientam um determinado grupo escrever e gravar um 'Hit' em duas semanas. Isso eu considero um absurdo. Como a banda pode saber o que a gravadora entende por um Hit?

E e aí que começa a interferência na liberdade de criação do artista. Coisa que eu abomino, pois não é porque fazem todas essas coisas que as gravadoras se sentem no direito de intervir nas letras ou melodias. O artista tem que se isolar nesse momento, sem qualquer tipo de interferência. Cabe a gravadora acreditar nele, investir no que é preciso e fazer sua divulgação. Não podem ser tratados como fantoches ou personagens criados.  Sou um fã da liberdade do artista. Creio que o máximo que as gravadoras deveriam fazer é selecionar as músicas que serão lançadas e não manipular a criação. Ou pelo menos dar uma opinião das canções que se encaixam mais no perfil de cada artista.

Por isso que sempre frizo qu se houver uma banda que consiga pagar as próprias gravações e se promover será melhor do que assinar um contrato com uma gravadora, pois o grupo recebe o lucro integral e não se depara com essas exigências. Mas como poucas bandas tem tanto dinheiro para isso, elas começam procurando uma gravadora que aceite assinar um contrato com elas. E ai dependendo da empresa, o artista acaba tendo que sofrer as consequências futuras. Infelizmente a indústria fonográfica está marcada por essas imposições e chantagens. E o verdadeiro artista é quem acaba ``pagando o pato``. Acorda Brasil ! ! !


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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