A falta de espaço
para shows na cena independente |
No dia a dia muitas são as notícias e polêmicas envolvendo o mundo da música. Mas uma em especial me deixou com a pulga atrás da orelha. O fato se originou de uma matéria, no ínicio do ano, no Jornal O DIA, que relatava a fustração das bandas independentes com a falta de espaços para shows e consequentemente a tomada de praças públicas para se apresentarem. Na reportagem, músicos, produtores e o próprio público reclamavam que o circuito de espaços para shows no Rio estava diminuindo em ritmo acelerado. As bandas perceberam que estavam tocando cada vez menos, sempre nos mesmos lugares, para as mesmas pessoas e ganhando pouco. Por isso resolveram se apresentar nas ruas e com isso conseguiram alcançar um público novo, com a vantagem de não depender de ninguém, só deles mesmos. Com as caixas dos instrumentos na frente aberta a contribuições dos passantes, grupos como Astro Venga, Tree e Dominga Petrona e Beach Combers, podem ser vistos a qualquer momento em locais como Aterro do Flamengo, Praça São Salvador, Praça General Osório, Posto 9 (da Praia de Ipanema), Praça Saens Peña, Cinelândia, Largo do Machado, Praça 15, Parque dos Patins, Rua do Lavradio, Largo da Carioca e até em cima da Pedra do Arpoador. E eles conseguem se virar às duras penas para atingirem o objetivo. Para a alimentação dos amplificadores, por exemplo, uma bateria comum de automóvel é ligada a um inversor. Em relação à divulgação das apresentações de rua, elas não são feitas com antecedência, pois fenômenos da natureza e algum tipo de repreensão por parte da Prefeitura ou agentes municipais podem ocorrer. Mas é preciso abrir o olho para esses fatos, pois de acordo com a lei municipal número 5.429, que dispõe sobre a apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos do município do Rio de Janeiro, são permitidas as manifestações culturais de artistas em espaços públicos abertos, mas é preciso respeitar requisitos tais como volume, horários e não atrapalhar a circulação de pedestres. Enfim, os artistas podem mostrar sua arte e até comercializar seus CDs, DVDs ou livros. A única coisa vedada a eles é cobrar ingresso. Confesso que fiquei curioso com esse tipo de matéria, pois ali só mencionava o cenário musical do Rio de Janeiro como problema. Com isso, resolvi ir mais a fundo para ver se em outras cidades do país essas coisas aconteciam. Recorri ao velho google e não é que descobri outros casos recentes como esse. Em Brasília, por exemplo, sem atender às principais demandas comerciais, as bandas de heavy metal estão sofrendo com a carência de locais dispostos a abrir as portas para receber grupos autorais e independentes. A falta de apoio e de espaços para tocar, unida ao desinteresse do público, compõe o principal quadro de reclamações entre os amantes do rock pesado. De acordo com uma pesquisa, a cena se mantém mais ativa fora do Plano Piloto, em cidades como Samambaia, Ceilândia e Guará, principalmente, e em festivais direcionados, como o Porão do Rock e o Marrecos Fest. Já em Pernambuco, o problema está acontecendo com as bandas neopsicodélicas. Seus shows são raros na cidade e elas acabam por tocar mais no Sudeste do País. Segundo os músicos, falta espaço físico, mas não público alvo. Bom, se em todos esses casos é notório que há público para esse perfil de gênero, o problema está, então, na criação de mais espaços culturais para atender a essa demanda. É inconcebível privilegiar apenas gêneros restritos ou artistas mais famosos. Uma cidade grande como Rio, Brasília, Recife, enfim, qualquer outra, não pode ficar carente de espaços para apresentações de espetáculos, sejam eles para bandas independentes ou não, por causa da absoluta ausência de teatros amplos, salas apropriadas ou casas de "shows" dotadas de requisitos exigidos por grandes companhias e artistas famosos. É preciso ter bom senso nessa hora e criar os verdadeiros espaços alternativos que contemplem esse tipo de banda. A verdade é que não faltam artistas talentosos com trabalhos originais, mas poucos conseguem viver da música autoral devido a enorme dificuldade de produzir um CD. E agora, com essa falta de espaço as coisas ficam ainda mais difíceis. Está visível também que, muitas vezes, essas cidades possuem tal estrutura para abrigar todas essas bandas, porém falta vontade para convidá-las. Até porque, hoje em dia, as pessoas querem ouvir o que está na moda. A não ser que você faça uma música super popular. E popular, hoje, é sertanejo, funk...O setor de entretenimento precisa se atentar para essa igualdade de condições. Uma nova perspectiva desse setor e dos nossos governantes culturais precisam existir. Caso contrário, nosso mercado estará fadado aos mesmos rostos e aos mesmos clichês de refrão.
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