Artistas da MPB e Pop/Rock agitam a nova cena musical
com críticas veladas ao lixo que entra em nossos ouvidos
(15/03/2018)
Mês passado a cena musical brasileira foi alvo de uma grande polêmica. O
respeitado cantor Jorge Vercillo esteve no centro de críticas e elogios depois
de publicar um desabafo em seu Facebook no qual discorre sobre o 'nível
baixíssimo de música' consumido pelos brasileiros. De acordo com o astro da MPB,
a responsabilidade desse nível de música é em grande parte do público,
haja vista que muitas pessoas não estão dando a menor importância pra ela.
Segundo ele, o problema não é o estilo, mas sim a péssima qualidade de música que
parte do público está escolhendo, pois uma parte grande da população parece que
tem preguiça de pensar ou ouvir. Ele enfatiza que as pessoas têm dado ibope
apenas pra canções apelativas, cafonas, infantis e sem o mínimo de musicalidade.
E Vercillo vai mais além desse universo. Ele acredita, inclusive, que os
próprios músicos de sertanejo, "sofrência" e funk queriam "no fundo viver de
música de mais qualidade" e "poder sobreviver de música e fazendo algo melhor da
sua vida". Diz afirmar isso, pois conhece pessoalmente muitos desses artistas e os respeita
inteiramente. Destaca que vários desses profissionais tem total talento para cantar músicas
infinitamente melhores do que eles tem feito e fariam isso sem sair dos seus
etilos próprios. Ele encerra a polêmica pedindo para que todos, de uma maneira
geral, assumam quem são e suas escolhas. Que as mudanças que almejamos não
dependem do governo, nem de Jesus, nem dos militares, nem de Tom Jobim e nem dos
extraterrestres ! E que tudo só depende de nós, já que essas letras e melodias
mais infantis do que o ´´Clube da Xuxa``são refelexo do nível da consciência
coletiva do público. Olha, que tiro foi esse, heim ?!
O posicionamento de Vercillo lembra também o de Lulu Santos, que no fim de 2017 criticou duramente as letras de funk ao afirmar que
a MPB regrediu à fase anal com
tantas canções explorando o bumbum. Ambos são 2 monstros da música e podem
perfeitamente levantar a bandeira da banalização musical e apontar o dedo para
quem é o verdadeiro culpado. Só que nessa história toda vejo que a culpa não
está somente do lado do público. Está também com o artista que critica e
principalmente com a mídia que acertam nossos tímpanos e poluem nossos ouvidos
com verdadeiros lixos musicais.
Os brasileiros realmente precisam ser mais exigentes na hora de escolher o que
escutar. Mas a culpa maior é de quem divulga isso 24 horas numa programação.
Acaba que vira uma febre, uma doença que logo se propaga pelo corpo e torna modinha.
Aí, já era ! Em relação aos artistas envolvidos nessa polêmica acho que precisam
entrar no jogo e se reinventarem para lutar contra o lixo musical. Lulu foi um
artista sempre conectado com as novidades. Fã assumido de funk e rap, ele soube
até o fim dos anos 90 como inserir o que estava em evidência na sua própria obra
e acredito que não terá problemas em avançar, apesar que seus últimos trabalhos
não foram tão relevantes. Já Vercillo tem um estilo voltado para a MPB de
barzinho e hoje, em 2018, esse gênero está muito batido e com pouca procura. Com
isso perde a força perante o que a mídia coloca como boom para nossos ouvidos. E
diga-se de passagem que Pabllo Vittar, Anitta e Jojo Todynho, que tiveram suas
músicas citadas dentro dessa grande polêmica, também vão passar por isso caso
não se readaptem ao que o mercado pede. Hoje eles estão por cima, mas será que
em breve estarão ? Tudo que vem, passa rápido...
Isso é nada mais nada menos que o ciclo da renovação musical. Meu único porém é
que realmente a renovação musical precisa existir, mas ela está num nível muito
baixo. E aí o público acaba aceitando essa demência, póis não tem como remar contra a
maré. Mas numa terra onde a ganância pelo poder e dinheiro fala mais alto, é
compreensível que os produtores e donos de gravadoras estejam mais interessados
em lucrar do que poetisar nossos ouvidos com relíquias. Sou do tempo que
seriedade, dedicação e principalmente respeito existia dentro de um artista de
verdade. A música inteligente saindo da alma para os nossos corações. Um pena
ver grandes talentos da MPB, deixados de lado pela mídia e por grandes gravadoras.
Seria valioso os trazer de volta nesse momento em que temos coisas como ‘o meu
pau te ama’, de conteúdo explícito relacionado a sexo e drogas, invadindo nossos
ouvidos. É importante restaurar os valores poéticos, sim senhor !
Marcus Vinicius Jacobson
Jornalista e diretor do MVHP -
Portal de Cifras
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