Obrigado madrinha ! |
Estava com a coluna do mês de maio toda pronta para falarmos de assuntos polêmicos no meio da música, mas um trágico acontecimento fez com que eu repensasse a idéia. Estou me referindo ao falecimento da eterna madrinha Beth Carvalho. Prestes a completar 73 anos, Beth nos deixou precocemente. A música brasileira, mais uma vez, fica órfã de um de seus maiores expoentes e como não poderia deixar de ser, me sinto no dever de fazer esse artigo em sua homenagem, que tanto dignificou o mundo do samba pelo país a fora e ajudou, inclusive, a revelar nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre outros. Beth Carvalho foi simplesmente a cantora mais importante da história do gênero. Ao lado de Clara Nunes, teve grande contribuição no resgate de velhos compositores esquecidos, no incentivo aos jovens autores que iam surgindo e na valorização dos poetas das escolas de samba, da velha e da jovem guarda dos terreiros cariocas. De coração botafoguense e unida, de corpo e alma, à escola Estação Primeira de Mangueira, a cantora lançou em 1965 seu primeiro compacto simples com a música Por Quem Morreu de Amor, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. O álbum inicial da carreira veio em 1969, na qual trouxe Andança como carro-chefe e que mais tarde se tornaria um dos grandes clássicos do samba. Mas foi em 1979 que a sambista conquistou definitivamente o Brasil e o mundo com Coisinha do Pai, incluída no LP No Pagode. O hit se juntaria a inúmeros clássicos, como Saco de Feijão, Olho por Olho, Firme e Forte e Vou Festejar.
Ao longo dos seus mais de 50 anos de estrada, Beth gravou cerca de 34 discos e 5 DVDs e levou o samba carioca aos 4 cantos do mundo. Teve, dessa forma, seu reconhecimento merecido pela importância de sua carreira e por seu papel para o gênero. Chegou até a ser homenageada na edição 2009 do Grammy Latino, em Las Vegas. Na ocasião, a cantora foi a primeira sambista a receber uma das aclamações mais importantes do Grammy, o prêmio Lifetime Achievement Awards. Nem mesmo seus últimos problemas de saúde, que fizeram com que se afastasse dos palcos em algumas ocasiões, impediu que seguisse carregando seu legado e apresentando o ritmo, que a acompanhou por toda vida, ao público. Beth tinha muitos caminhos a seguir na música. Por pouco não se enveredou oficialmente para a MPB, haja vista que seu primeiro álbum foi voltado para esse gênero. Mas quando um artista tem determinada vocação, basta um sinal para trilhar seu rumo. Ao se deparar com as cores da sua verde e rosa tomando o centro do Rio soube, naquele momento, exatamente o que queria ser. E foi no samba que essa guerreira construiu o seu apogeu. Sua perda transcende barreiras inimagináveis. É uma perda do ponto de vista de acervo e repertório musical e do canto que emanou como uma conexão entre o samba entoado no Estácio, o das escolas de samba e o dos muitos partidos altos da região da Leopoldina. Mas nossa intenção até aqui não é resumir a sua carreira. E isso seria impossível, haja vista a grandeza de sua história. Queremos transmitir através dessa coluna uma mensagem de carinho, de respeito por quem sempre levantou a bandeira do samba com maestria. À memória de uma artista com destacada importância para a cultura brasileira. Essa é Beth Carvalho, a única mulher que o samba chamou de rainha. Sua trajetória nos dá a certeza de que “o show tem que continuar”!
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