Samba X Pagode |
"Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé..." E para provar que o samba é samba e nada mais do que isso, estou aqui mais uma vez para informar e dar minha modesta opinião nesse assunto que é bastante polêmico e alvo de acaloradas discussões. Bom, é preciso deixar claro pra todos vocês que curtem esse gênero que samba é uma coisa e pagode é outra coisa. Não importa que um surgiu através do outro. O que importa é que cada um é cada um e deveria ser tratato como dois gêneros e não somente um gênero. Generalizar o samba e o pagode é um crime contra os próprios artistas e compositores. Quando o assunto é samba, logo me vem a mente: Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Candeia, Martinho da Vila, Leci Brandão, Moreira da Silva e tantos outros bons sambistas que se eu fosse enumarar aqui não teria espaço. Já quando o assunto é pagode significa dizer que tudo está concentrado em Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, Arlindo Cruz & Sombrinha ou seja a turma raiz mesmo, pois desses grupos todos que estão aí e que se intitulam pagodeiros eu só livro a cara de uns 3 pelo menos. O resto se enquadra no gênero romântico e mais nada. Pra diferenciarrem, as vezes pintam com um ``pagodinho raiz``, mas só pra não fugirem à regra. Mas a minha discussão não é essa. Eu não quero saber se o pagode que é cantando hoje é pagode. O que me interessa é fazer essa distinção do Samba pro Pagode e mostrar que ambos são gêneros completamente diferentes, mesmo que um complemente o outro. Se você não sabe a origem desses ritmos preste atenção que o professor aqui vai tentar te situar (risos). Bom, a palavra pagode foi usada há 450 anos pelo português Jorge Ferreira de Vasconcelos, na Comédia Ulissipo, escrita em 1547, para designar diversão do povo urbano ("Bailem cabrões de sol a sol com mulatas/./façam pagodes."). O termo ressurgiu no Brasil no início da década de 1950 para denominar na música popular urbana e na rural comercializada, qualquer reunião festiva animada por música e dança. A partir da década de 1970, pagode passou a indicar, com freqüência, na música urbana, um tipo de samba vagamente ligado ao estilo do partido-alto, mas transformado em fórmula sonora repetitiva, à base de marcação de surdo e centro de cavaquinho (ou banjo) e melodia fácil e linear. As rodas-de-pagode que hoje conhecemos nas cidades como uma reunião de tocadores de cavaquinho, pandeiro, pessoas dançando e bebendo não é reconhecida no Brasil inteiro desta forma. Na região do rio São Francisco, em Alagoas, nas celebrações juninas, principalmente na festa de São João, uma roda-de-pagode é conhecida como grupos de adultos de ambos os sexos que, de mãos dadas, cantam e dançam ao redor de fogueiras. Os grupos vão-se reunindo até se concentrarem todos em torno de uma só grande fogueira, o "quadro", numa praça pública. Por ser o pagode originado do samba, é importante saber que Samba é uma palavra provavelmente procedente do quimbundo semba e significa umbigda, empregada para designar uma dança de roda popular no Brasil. Músicas essas dançadas pelos escravos e que desenvolveram-se-se em uma área que vai desde o Maranhão até São Paulo. Receberam, em cada Estado brasileiro, um nome diferente e um jeito diferente de ser tocadas. Dos nomes e das ramificações desse ritmo africano temos hoje o tambor de crioula no Maranhão; o bambelô no Rio Grande do Norte; o coco, o milindo, o piaui e o samba no Ceará e na Paraíba; o coco de parelha trocada, o coco solto, o troca parelha ou coco trocado, o virado e o coco em fileira em Pernambuco; o samba de roda e o batebaú na Bahia; o jongo, o samba-lenço, o samba-rural e o samba de roda em São Paulo; o caxambú, o jongo, o samba e o partido alto no Rio. Desde 1870, o cruzamento de influências entre o lundu (origem africana), a polca, a habanera, o maxixe e o tango começou a produzir um tipo de música que tendia ritmicamente para o samba. Há muitas variantes de samba por todo o Brasil. O samba paulista é famoso pela dança de solista em centro de roda e tem como instrumentos as violas, os adufes, os pandeiros. No Rio de Janeiro o samba era inicialmente dança de roda entre os habitantes dos morros. Foi daí que nasceu o samba urbano carioca, espalhado hoje por todo o Brasil, e que tem como instrumentos padrão o tamborim, o violão, o pandeiro, o cavaquinho, a cuíca, o surdo, as caixas etc. Oficialmente o primeiro samba foi gravado em 1917 com o título de "Pelo Telefone" e sob a autoria do músico carioca Donga. Há também quem afirme que a palavra tenha sua ligação com a língua luba e com outras línguas bantas, nas quais samba significa pular ou saltar com alegria. O que prova que o samba é bem anterior à música de Donga. Portanto, é certo afirmarmos que o samba pode ser visto hoje como um ritmo que engloba vários outros, já que suas ramificações não param de crescer. Por exemplo, o pagode, ao qual estamos nos referindo nessa coluna, é uma dessas novas manifestações advindas do samba. Na entrevista que realizei com o vocalista Mário Sérgio do Fundo de Quintal, para nosso site ano passado, ele foi muito feliz num comentário sobre o fato de tentarem igualar o samba ao pagode e vice-versa. Mário afirmou, com toda sua experiência no meio, que por desconhecimento utilizam esses dois termos se referindo a uma coisa só, mas não é nada disso. Tem muito mais coisa aí no meio. Samba é samba. Isso mesmo, samba é samba, porém a pergunta que alguns sambistas da antiga faríam nesse atual momento em que vivemos e que não quer calar é a seguinte: Como vai o samba? E sem dúvida alguma responderiam: O samba? Bem, o samba tá na corda bamba... Não preciso ser vidente pra acertar. Tá na cara !
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