A polêmica da música comercial |
Volta e meia ando recebendo e-mails com dúvidas do que seria música comercial, quais as vantagens de se fazer esse tipo de canção e se o fato dela vender muito mostra que ela tem qualidade. Bom, e é a partir dessa polêmica que começo a pautar minha coluna dessa semana. Digo polêmica, pois hoje em dia muito se discute da predominância de músicas descartáveis nas rádios. Mas será que o fato de uma música ser comercial pode ser considerada ao mesmo tempo descartável também? Será que somente os artistas têm culpa nisso? E o grau de satisfação deles, não conta ? Pelo que sei música é arte sim, mas nos tempos modernos pode vir a ser um entretenimento para aqueles que a usam como um produto. O mundo tá globalizado, os tempos são outros e a massificação está em larga escala. E dentro dessa conjuctura é que a música comercial começa a aparecer. Mas vamos ao que interessa minha gente. Podemos dizer que, no sentido literal da expressão, toda (eu disse toda) música que é gravada seja ela por uma gravadora grande, média, pequena ou uma simples produção independente, tem um fundo comercial. Não me venham com a história de que vai gravar pra mostrar para os amigos ou netinhos! Se o sujeito gravou, é porque tem alguma pretensão, mesmo que bem lá no fundo, de ganhar algo com aquilo. Geralmente, na classe artística, há o preconceito contra músicas ou artistas que vendem muito. Se vendeu muito é porque não tem muita qualidade, é de apelo fácil, popular, comercial. Mas temos que tomar um certo cuidado nessa relação, pois não dá pra se misturar e nem confundir os conceitos comercial e descartável. Na verdade a mídia tem uma parcela considerável de culpa nessa história toda. O número elevado de execuções faz com que uma música, aparentemente comercial, seja considerada, de forma errônea, descartável. E isso tem um efeito negativo nos próprios artistas. Alguns chegam a renegar sua própria música por ela ter sido um grande sucesso. Um exemplo atual é a banda Los Hermanos. O grupo consolidou seu nome e projetou-se nacionalmente graças à Ana Júlia. Uma excelente canção, a meu ver, e que até por isso fez um enorme sucesso, obtendo, conseqüentemente, um grande resultado comercial. Mas, vamos tirar o sentido pejorativo dessa palavra. Vendeu bem porque é de ótima qualidade e com grande poder de alcance aos ouvintes. Talvez, o único problema tenha sido o excessivo número de execuções pela mídia. Todos os grandes sucessos sofrem e é até natural que, naquele momento, tenhamos enjoado um pouco de ouví-la, causando, dessa forma, um certo desgaste. Mas isso não diminui em nada o mérito da composição. A banda rejeita completamente seu maior sucesso, de repente, para se inserir no contexto filosófico-papo-cabeça dos pseudo-intelectuais e pseudocríticos que se fazem de incomodados quando uma obra vende muito. Porém, eles se esquecem que, sem esse hit, talvez não existissem os outros seguintes. Ana Júlia não pode ser considerada descartável por isso. Respeito a opinião da banda mas, assim como emitem opiniões sobre outros músicos, e querem respeito por elas, acho que saberão respeitar as minhas, caso venham a ler esta coluna. Então, vamos deixar bem claro uma diferença. Uma música pode ser comercialmente bem sucedida, sem necessariamente ser descartável ou de baixa qualidade. Se ser comercialmente bem sucedida é ser uma música comercial, então tudo bem. Mas vamos analisar sua qualidade sem inveja ou falsos moralismos por ela estar rendendo uma boa soma de dinheiro a seus compositores. É preciso evitar a conotação negativa para o termo comercial. Não é vergonha alguma ser bem recompensado por uma obra artística. Ao meu ver não existe essa coisa de música comercial. A música é boa ou não, para o gosto de quem a está ouvindo, evidentemente. Existe sim letras pobres que podem descaracterizar a música. Mas cabe ao ouvinte distinguir o que é bom e o que é ruim. O que é bom pra mim pode não ser para você e vice-versa. Se a maioria do povo gosta de músicas de fácil assimilação, isto se deve ao fato de que é para esse tipo de composição que está preparado e, claro, há pessoas com competência para fazê-lo. Ou seja, existem músicas que, antes de serem comerciais, são de rápido consumo e, por isso, descartáveis ou perecíveis. Toda música é de certa forma comercial, seja ela de boa qualidade ou não para o seu gosto. Caso contrário, você que é artista e não quer que sua música seja taxada de comercial, é só avisar: não comprem meu cd! Ele é muito bom, mas não comprem, por favor!
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