Pirataria: uma polêmica sem limites |
Eu não poderia deixar de
comentar na coluna desse mês sobre um assunto que venho batendo na tecla exaustivamente,
mas que é algo tão polêmico e atual que se torna instigante retomá-lo: a pirataria .
Em meu último texto abordei sobre a Pirataria na Internet, porém dessa vez pretendo
concluir meu raciocínio atuando como uma espécie de advogado do diabo, ou
seja, procurando dissecar a verdade de forma nua e crua sobre os argumentos das campanhas
contra a compra de cds piratas, o que está por trás disso tudo e o porquê de
serem inócuos. O argumento mais
difundido é o de que comprando os produtos piratas, a indústria fonográfica perde e,
com isso, muitos empregos são eliminados ou não gerados. Será mesmo? Então quer dizer
que, antes da pirataria, o emprego nessa área era farto, as gravadoras ouviam com menos
dificuldade os novos artistas, e com isso mais nomes eram lançados e, conseqüentemente,
os empregos diretos e indiretos eram gerados? Quem conhece um pouco da história
fonográfica brasileira sabe que não é bem assim. Com o avanço tecnológico atual, na
qual as máquinas substituem o homem em grande parte da linha de produção e concorrem
com os músicos realizando façanhas como verdadeiras orquestras, alguém acredita que,
sem os piratas, teríamos realmente um aumento significativo do nível de emprego? Acho
que não. Ouvimos também que, ao reproduzirmos CDs não originais, os aparelhos de som são danificados. Na verdade, isso até agora não foi efetivamente comprovado. Ocorre que, dependendo da tecnologia que foi utilizada na gravação e da que o aparelho possui, alguns não reproduzem determinado CD. Mas, isso não quer dizer que danifique a máquina. É bom salientar que ninguém compra um CD pirata pensando em prejudicar os artistas ou quem quer que seja. É uma equação óbvia: se há o mercado fornecedor, é porque existe o consumidor. E o que faz a pessoa comprar um CD pirata? Engana-se quem pensa ser apenas pelo fato de o dinheiro andar curto. É claro que esse é, disparado, o principal motivo. Mas há outros que a indústria deve considerar. Como, por exemplo, a qualidade das obras. Por quê vou comprar um CD original que custa, no mínimo, R$ 19,90 em que na prática só duas ou três músicas são boas, se posso comprar três piratas por R$ 10,00? Ou seja, analisemos sob a ótica dos valores: será que algum artista hoje em dia produz um trabalho que valha mais do que R$ 10,00? Ora, é muito difícil! Será que é vantagem pagar
por um CD, onde das 12 ou 15 músicas presentes, só 3 ou 4 são sucesso e o resto é
apenas música pra fazer figuração? Da mesma forma que os artistas e gravadoras se
empenham para erradicar a pirataria no Brasil, acho que não deveriam medir esforços pra
fazer uma obra que justifique esse preço que é cobrado hoje em dia. Outra questão nessa
história toda é que lado a lado com os piratas, como uma espécie de aliado e
grande incentivador, vêm os downloads das músicas pela internet. Reforçando a
idéia da qualidade limitada das obras, fica mais prático e conveniente peneirar músicas
preferidas e reuní-las num único CD, do que ter que ficar trocando toda hora no aparelho
ou pulando as músicas de que não se gosta. Mais uma vez, os avanços
tecnológicos e o democrático acesso a eles contribuem para prejudicar as vendas de
produtos oficiais. O que fazer para derrotar a pirataria? Não há muito pra onde fugir. Penso que o caminho passa por uma redução drástica nos custos de produção, para uma conseqüente queda de preços para o consumidor final. Quando falo em redução drástica, leia-se que, ela deve ser profunda e de cima pra baixo, ou seja, diminuindo, dentre outros, as verbas de jabá (será que eles conseguem?) e, por que não, o que se paga aos artistas. Poderia ser pensada, também, uma reformulação nos conceitos, como por exemplo, a edição de CDs mais enxutos com cerca de quatro músicas (de qualidade, claro) e custando, no máximo, R$10,00. Sei que são muitas as dificuldades para se colocarem em prática idéias como essas e que falar é muito mais fácil. Mas não adianta mais tapar o sol com a peneira! Para vencer essa guerra, a indústria fonográfica vai precisar se reinventar e sair da mesmice, sendo necessária mesmo uma espécie de reengenharia. O resto é conversa pra boi dormir!
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