O descaso com o samba |
Falar de Nelson Sargento é falar de um de um cara extra-série, é falar de uma lenda viva do samba. Só pra quem desconhece (o que eu acho difícil) Sargento é contemporâneo de Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça. Foi ele quem introduziu a ala dos compositores da Mangueira nos anos 50 . Durante toda a sua carreira teve seu nome ligado à escola sendo autor de cinco sambas-enredo. O apelido "Sargento" veio nos tempos que serviu o exército. Seu maior sucesso Agoniza Mas Não Morre", foi lançado em 1978 por Beth Carvalho e tornou-se um hino de resistência da cultura do samba carioca. Isso sem falar em Esquisito", "Falso Amor Sincero", "Vai Dizer a Ela" (com Carlos Marreta), "Nas Asas da Canção" (com Dona Ivone Lara). Além de gravar discos no exterior nos anos 90 e atuar em filmes, esse nobre do samba ainda é escritor e pintor primitivista, atividade que aprendeu graças à profissão de pintor de paredes, exercida por vários anos. É, e se eu falar que um cara dessa linhagem, aos 82 anos, está esquecido pelo mercado e vive grave dificuldade financeira, sem contratos para shows, sendo obrigado a vender suas telas para sobreviver, você acreditaria ? Pois bem, essa é a situação atual de Nelson Sargento. Fiquei estarrecido ao ler uma matéria nos jornais sobre o drama vivido por esse poeta do samba. É revoltante, para todos nós que vivemos de música, saber que um profissional que se dedicou de corpo e alma para elevar o nome do samba, esteja esquecido por aí como uma pessoa qualquer. O mercado não pode dar às costas em nenhum momento.Nelson é um batalhador e não pode vender quadros para pagar despesas. As autoridades públicas deveriam se manifestar, pois sambistas como Nelson Sargento, Jamelão, Monarco, por exemplo, são patrimônios históricos da música. É preciso intervir rapidamente, antes que isso venha virar um efeito dominó. Já soube inclusive que um desses bambas (Jamelão) praticamente foi obrigado a mudar-se para São Paulo, onde recebe três vezes o cachê de cerca de R$ 1.500 que lhe ofereciam no Rio. Será que depois de tudo, com problemas de saúde, um imortal do samba ainda tem que se submeter aos caprichos do mercado? Está na hora das autoridades, sejam elas do meio musical ou não, criarem mecanismos que venham evitar que fatos lamentáveis como esse aconteçam. Começo a acreditar que a mídia não tem o mesmo interesse pelo samba como tem pelo pop, pelo rock, pelo sertanejo. Não vejo quase o gênero tocar no rádio e patrocinadores não se interessam muito. Meus amigos, o samba rendeu os melhores índices do mercado. Não podemos rejeitar um movimento tão rico e tão cheio de relíquias. Está na hora de parar, sentar e analisar uma forma dessa bandeira voltar a sacudir de vez. Querem levar o samba pro fundo do poço ? O drama que Nelson Sargento viveu - se Deus quiser vai ser reerguer - é apenas uma ponta do iceberg do que vem acontecendo nesse mercado. Enquanto imperar a hipocresia, o preconceito e a desiguldade nada vai mudar. Vamos dar vida longa a quem ajudou a construir a história da música de forma digna e soberana.
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