ENTREVISTA ESPECIAL :  Quarteto em Cy


As representantes do fino da bossa nova

Quarteto em Cy chega aos 42 anos de carreira e é considerado o melhor conjunto vocal feminino do país


Elas foram lançadas por nada mais nada menos que Vinícius de Moraes e hoje já somam 42 anos de carreira. Marca essa completada com muita união, carinho e respeito. E é por essas e outras que o Quarteto em Cy é considerado o melhor conjunto vocal feminino do país. Trata-se também de um dos maiores representantes da Bossa Nova, movimento nascido na década de 60, que possibilitou um enorme avanço para a música brasileira. O progresso desse grupo rompe fronteiras. O quarteto já fez vários shows na Europa, nos Estados Unidos e até no Japão e foram muito bem recebidas pelo público desses países, que têm Tom Jobim como um ídolo.

O Quarteto em Cy foi formado inicialmente por quatro irmãs (Cyva, Cynara, Cybele e Cylene) nascidas em Ibirataia (BA). No início da década de 60 elas foram para o Rio de Janeiro, onde conheceram Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que tornou-se padrinho do grupo. Estrearam em estúdio cantando na trilha sonora do filme Sol sobre Lama, de Alex Viany, em 1963. No ano seguinte fizeram show na boate Zum Zum, ao lado de Dorival Caymmi e Vinicius, e gravaram o primeiro LP, Quarteto em Cy, com arranjos de Carlinhos Castilho e Eumir Deodato.

Nos anos 60 gravaram outros discos antes da saída de Cylene, que deu lugar a Regina Werneck. Com essa formação, viajaram para os Estados Unidos, onde participaram de programas de televisão e fizeram um disco. Voltaram aos EUA ainda em 1967, com o nome The Girls From Bahia, e se apresentaram em diversos espetáculos. De volta ao Brasil, Cynara e Cybele se desligaram do Quarteto e passaram a atuar em dupla. As duas foram as intérpretes de Sabiá (Chico Buarque/ Tom Jobim) no III Festival Internacional da Canção, em 1968, que levou o primeiro lugar do festival debaixo de um vaia histórica do Maracanãzinho lotado, que torcia por Caminhando, de Geraldo Vandré.

Enquanto isso, Cymiramis e Sonia entraram no Quarteto, mas em 1970 o grupo se desfez. Dois anos depois voltou, com outra formação (Cyva, Cynara, Sonia, Dorinha Tapajós) e sob direção de Luís Cláudio Ramos, com quem gravaram seis discos. Em 1980 Cybele voltou, no lugar de Dorinha, consolidando a formação que se mantém até hoje: Cyva, Cynara, Cybele e Sonia. Desde 1983 com direção musical de Celia Vaz, gravaram vários outros discos, muitos deles homenageando compositores específicos: Vinicius em Cy, Chico em Cy, Bossa em Cy, Gil & Caetano em Cy. No fim dos anos 90 o Quarteto em Cy gravou dois discos com o MPB-4: Bate Boca (1997) e Somos Todos Iguais (1999), e ainda um terceiro, Vinicius - A Arte do Encontro, em 2000. 

Em 2001, lançou, pela CID, o CD Falando de amor pra Vinicius, gravação resgatada dos arquivos de Cynara do show realizado em Curitiba, em 1981, ao lado do violonista Luís Cláudio Ramos. No repertório, canções como Mundo melhor (Pixinguinha e Vinicius de Moraes), Luciana (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Carta ao Tom (Toquinho e Vinicius de Moraes), Preconceito (Fernando Lobo e Antonio Maria) e Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant), entre outras. Em 2004, participou, ao lado de Gilberto Gil e outros artistas, da gravação do CD Hino do Fome Zero (Roberto Menescal e Abel Silva). No ano seguinte, celebrando 40 anos de carreira, apresentou-se no Teatro Rival (RJ), com banda formada pelos músicos Kiko Furtado, João Faria, João Cortez e Chico Faria.

O mais recente trabalho do Quarteto aconteceu em 2006 com o lançamento do CD Samba em Cy. Com arranjos vocais de Cynara, o disco conta com  releituras de Capital do samba (José Ramos), Perdão, meu bem (Cartola), Pam pam pam (Paulo da Portela) e Insensato destino (Maurício Lins, Chiquinho e Acyr Marques), além das inéditas A saudade é que me consola (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro), O samba é o som (Rubens Nogueira e Paulo César Pinheiro) e a faixa-título (Nei Lopes e Ruy Quaresma), entre outras.

E por falar em Cynara, estivemos reunidos com ela para que, em nome do Quarteto, pudesse nos falar tudo sobre esses 42 anos de carreira. Confira !


http://www.quartetoemcy.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 16/03/2007

1) Qual o balanço que vocês fazem dessa vasta carreira na música nacional ?

O melhor possível. Fomos lançadas por Vinicius de Moraes e isto nos deu muita força por todos estes 42 anos de carreira. O balanço é super positivo, valeu a pena tudo até aqui. Somos gratas a muita gente que nos promoveu e nos fez evoluir no nosso trabalho.

2) O Quarteto em Cy ao longo dos anos foi sofrendo modificações de integrantes, mesmo assim vocês mantiveram a qualidade do grupo. A que devem isso ?

As integrantes que entraram foram se adaptando e os ensaios vocais trataram de fazer o resto. Além de tudo, a coerência do nosso repertório é a nossa marca.

3) Em algum momento diante dessas idas e vindas vocês acharam que a história do grupo ia ter um fim breve ?

Nunca, apesar de termos parado por três anos, entre 84 e 87. Mas esta parada só serviu pra nos dar mais estímulo pois vimos que não dava pra viver sem a música. Também, nós paramos por motivos alheios a nossa vontade.

4) Fale pra gente sobre a união que vocês têm juntas.

É muito bom o nosso relacionamento. Temos um respeito uma pelas outras e uma amizade grande. Somos três irmãs ( eu, a Cybele e a Cyva) e mais a Sonia que já participa do grupo desde 1968, há quase 40 anos, portanto. Ela é quase uma irmã.

5) Em 2006 vocês lançaram o CD Samba em Cy, o mais recente trabalho. Nos fale um pouco sobre ele.

Foi bacana poder cantar um CD inteiro de sambas. A produção é de Ruy Quaresma e tivemos a sorte de ter oito sambas inéditos de grandes autores como Nei Lopes (que fez o Samba em Cy em nossa homenagem, contando a nossa história), D. Ivone Lara, Sombrinha, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro, Noca da Portela, Almir Guineto, etc. E tem também seis regravações como Paulinho da Viola, Chico, Paulo da Portela e outros. É um CD muito querido e estamos em pleno trabalho com o show do mesmo nome: Samba em Cy.

6) Como vocês estão vendo o pouco espaço dado pelas rádios em geral à bossa nova que é um dos gêneros mais ricos do país ?

Olha, sempre foi assim. Os ritmos mais dançantes sempre estiveram na frente da mídia. Mas isso não nos incomoda pois temos o nosso público. Só acho pouco democrático este espaço dado a outros gêneros em detrimento do nosso.

7) Existe algum projeto acústico em vista que possa virar DVD ?

Estamos terminando a montagem do nosso novo DVD e CD ao vivo que deverá sair em maio próximo. Chama-se VINICIUS E CAYMMI EM CY e ainda faz parte das comemorações dos nossos 40 anos de carreira. Vai sair um pouco atrasado mas é importante que saia pois remete a um show que fizemos com os dois compositores Vinicius e Caymmi, nos anos 60, em duas temporadas de muito sucesso, aqui no Rio. Neste DVD lembraremos esta época cantando as músicas dos dois e contando pequenas histórias de quando estivemos juntos.

8) Qual a sensação de ser apontado por críticos e mídia especializada como o melhor grupo vocal ?

Maravilha. Vamos tentar fazer sempre o melhor pois é assim que a gente consegue ter um público cativo, fiel e generoso.

9) Quais os próximos passos do Quarteto dentro da música ?

Temos este lançamento do DVD/CD e, por enquanto, estamos em pleno trabalho sobre o nosso Samba em Cy, além de termos um show montado, este ano, em homenagem a Tom Jobim, que, se vivo fosse, teria completado 80 anos em 25 de janeiro. Viva o Tom!

10) Deixe um recado final para todos os amantes da bossa nova e do Quarteto em Cy espalhados pelo país a fora.

Quero só agradecer a força que vem das pessoas que nos admiram. Faremos sempre o possível para não decepcioná-los. Viva a música!

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