ENTREVISTA ESPECIAL : Eletrosamba
Uma
nova cara do samba-rock
Eletrosamba consegue resgatar o
gênero e trazer mais vida ao cenário musical com uma mistura de influências
Com uma mistura de influências do drumn bass e hip-hop com o swing do samba rock, um novo grupo vem despontando no mercado carioca rumo ao apogeu. Trata-se do Eletrosamba. Desde que começaram, eles já fizeram mais de 250 shows - incluindo 17 em Londres - e foram indicados ao Prêmio Multishow como grupo revelação. A qualidade das composições próprias, aliadas à criatividade nas releituras ousadas de clássicos dos mestres Tim Maia, Jorge Benjor, Gilberto Gil, conseguiu resgatar as raízes da música negra brasileira com uma roupagem autoral de qualidade. Formado por Waltinho AC (vocal e percussão), Wellington Soares (percussão), DJ Negralha (carrapetas), Felipe Rodarte (violão) e César Belieny (baixo e vocal), o Eletrosamba promete, com muito trabalho, dar vida longa a esse movimento. Fica fácil explicar a diversidade de elementos presentes na sonoridade da banda. Wellington Soares tem um batuque de baiano arretado. Ex-percussionista do Rappa, foi um dos criadores da festa AfroRio, que mistura a percussão com som pulsante dos Djs. César Belieny, diretamente da baixada fluminense, tocou no Nocaute, banda que foi indicada para o Grammy latino de Hip Hop. Waltinho AC domina os vocais e marca o compasso com seu surdo. Mangueirense de nascimento, toca na bateria da escola há 20 anos e fez parte do Funk N Lata.O tijucano Felipe Rodarte traz no seu violão com efeitos a batida seminal do samba rock e compõe as músicas da banda. Para complementar esse agito, os beats do Dj Negralha adicionam diversos elementos, principalmente de hip- hop, e dão um toque diferente e ousado ao grupo. Vale lembrar que todo esse cenário foi se constituindo aos poucos e com outro propósito. A idéia inicial do grupo era animar as noites de uma boate na zona sul do Rio, mas o som desenvolvido por eles foi tão marcante que acabou caindo no gosto do público. Com isso ficou fácil a exposição aos holofotes do mercado. A maior prova é o contrato com uma grande gravadora e o lançamento de um CD que leva o nome do grupo. Esse é o primeiro de muitos feitos da banda. Só pra ter idéia, o sucesso é tão grande que o samba-rock, que estava totalmente perdido, conseguiu dar uma revitalizada e respirar novos ares no mercado. Quem ficou feliz foi Bebeto, um dos mestres desse gênero e atual padrinho do grupo. O cantor, que andava sumido do cenário musical voltou a fazer shows logo de cara e participar de apresentações do Eletrosamba. Estivemos reunidos com Felipe Rodarte, um dos integrantes do Eletrosamba, para que eles nos falasse mais sobre o grupo, a receita do sucesso e tudo que vem por aí. Confira na íntegra ! |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 11/04/2006
1) Qual avaliação que vocês fazem de toda trajetória do grupo até os dias de hoje? Nós felizmente desde o início tivemos uma grande resposta do público. Isso nos deu a oportunidade de trabalharmos muito. Tivemos grandes alegrias e também grandes decepções, mas acho que isso faz parte da vida e da riqueza de acontecimentos que fazem a estória de uma banda. Se formos analisar a fundo o que fica são as grandes alegrias como : ter tocado com a Daniela Mercury no seu Tecno-Trio no Carnaval da Bahia em 2003, ido para Londres em 2004 onde fizemos 17 shows, abertura de shows de artistas como O Rappa, Paralamas, Marcelo D2, Lulu Santos, Jorge BenJor , participado de eventos como o SkolRio (2003/04/05), Coca-Cola VibeZone, Telefônica e Vivo Open Air , Oi Novos Urbanos, entre tantos outros e tido a possibilidade de dividir o palco com Alceu Valença, OrlanDivo, Durval Ferreira, Marcelo D2, Falcão do Rappa, Daniela Mercury, Tony Garrido, Seu Jorge dentre outros. Agora a grande alegria esta sendo poder trabalhar com o Marcelo YuKa que está produzindo o nosso novo cd. 2) Vocês criaram um novo conceito de música misturando samba e batucada com batidas eletrônicas. Podemos dizer que esse é o principal diferencial do grupo ? Sim pela originalidade e proporcionamos com isso uma nova direção para a música brasileira. Temos observado várias bandas sendo influenciadas por essa estrutura musical que fazemos. O próprio Ministro Gilberto Gil fez o seu Eletro-acústico muito semelhante com a formação que temos. Mas o grande diferencial é que cada integrante tem voz ativa dentro do processo musical e pela diversidade de influências de cada um, se dá uma criação única no som que fazemos, incluindo além do samba e batucada com batidas eletrônicas, pitadas de Dub, Rap, Funk, Funk carioca, Reggae, Ragga e Rock também.
4) O EletroSamba é formado por músicos com diferentes influências. Isso foi preponderante para o crescimento da banda ? Sim. É a harmonia na diversidade. Todos já tinhamos muita estrada antes do Eletrosamba, com isso fazemos uma grande miscelânea. O Waltinho vem da mangueira, é caixa da Bateria verde e Rosa, e tem grande influência do samba de raiz, além de ter tocado muitos anos com o Funkn Lata, já o Wellington é baiano, cresceu na casa de Caetano e além de trabalhar com ele, trabalhou muito com o Gil e ainda tocou por sete anos como Rappa, ele traz uma visão prática da música. O Cesinha vem da Baixada e tocou com o Sérginho Merity e foi do Nocaute por dez anos, traz uma grande influência do reggae e do Rap pro som, já o Dj Negralha é de São Bernardo, vem dos bailes black como o Choppapo e já remixava samba-rock com batidas eletrônicas, é totalmente do Hip-hop também. Já eu venho da Tijuca, cresci ouvindo Jorge Ben e Tim Maia, e passeando pela Rua do Matoso. Tenho influência de rock e de black da década de 70, toquei numa banda baile de black chamada Mr.Bad Blues Band, junto com a Guta Menezes (trompetista) do Altas horas e o Glauco Cerejo (sax ) que estava tocando no projeto do Ney Matogrosso com Pedro Luís e a Parede, além de ter ouvido muita MPB, como Caetano, Gil, Mutantes, Chico, Elis, enfim, muita coisa boa. 5) Vocês conseguiram através desse trabalho inovador resgatar músicas brasileiras que andavam esquecidas. Como se sentem sendo um dos precursores desse movimento ? Na verdade não pensamos nisso, vamos fazendo o nosso som, criando, instigando um ao outro e seguindo o nosso caminho. Lógico que ficamos orgulhosos de vermos pessoas tentando fazer o que fazemos, mesmo que não dêem o crédito, o que importa é a música, de resto é conseqüência. É muito bom também mostrar pras novas gerações canções há muito esquecidas, músicas de nossa raiz e vemos que também o pessoal da velha guarda curte por poder ouvir uma música que fez parte de sua vida sendo resgatada com um toque diferente, mas sem deixar de exaltar as raízes de nossa cultura.
7) Desde que começaram , vocês já fizeram mais de 250 shows, incluindo muitos no exterior, e foram indicados ao Prêmio Multishow como grupo revelação. Vocês conseguiram lidar bem com essas mudanças ? Pela experiência de anos de estrada, sempre mantivemos a serenidade, o pé no chão, vimos que se você parar, achando que o jogo está ganho, que é o cara, as coisas desandam, param, e você acaba perdendo o foco principal, que é a criação, a música e acaba sendo esquecido. Nós não paramos, estamos sempre pensando no próximo cd, no próximo show, na música que estamos querendo, e na evolução que almejamos. E o principal, respeitamos muito uns aos outros e ao nosso público também. 8) Vocês deram uma nova roupagem ao samba rock que andava esquecido das rádios. Acreditam que esse gênero ainda pode vir a fazer mais sucesso ? O que falta é uma maior democratização dos grandes veículos de divulgação como o rádio e a tv. Nós nunca fizemos um grande programa de tv ou tivemos nossa música tocada nas rádios de sucesso. O que fizemos foi um processo de guerrilha, cada show era mais uma galera sendo cooptada pelo nosso som, pela nossa mensagem e esse público foi fazendo a divulgação de nossas músicas o que poderia ser feito por esses grandes órgãos. Tenho certeza que isso mostra que se for tocada nas rádios e Tvs o povo vai abraçar e amplificar ainda mais o êxito que temos.
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