ENTREVISTA
ESPECIAL: Finis Africae
A
volta dos veteranos de Brasília
Banda histórica dos anos 80 se
reúne novamente em busca da afirmação do Rock
Parece que o verdadeiro rock está ressucitando mesmo. Depois do RPM, mais uma banda histórica dos anos 80 está de volta e promete tornar o movimento ainda mais unido. Trata-se do grupo brasiliense Finis Africae. Quem não se lembra de hits como Armadilhas, Mentiras, Máquina do Prazer, que tanto empolgaram multidões de roqueiros? Pois é, depois de tantas idas e vindas o Finis Africae reaparece no ano 2002 com a proposta de se firmar de vez. Surgida na década de 80 em Brasília, a banda se destacava juntamente com outras da época como a Legião Urbana, Cabine C, Violeta de Outono, Capital Inicial. Optando por um estilo mais dançante e melódico, o Finis Africae se diferenciava bastante. A banda lançou dois discos independentes antes de assinar com uma grande gravadora e lançar seu LP homônimo (EMI) em 87. Excursionou por todo o país emplacando os hits que já estavam na boca da galera. No início dos anos 90 o grupo se separa. O vocalista Eduardo de Moraes vai morar na Suécia onde trabalha com diversos grupos de Estocolmo, entre eles o Brasa que fazia uma mistura de jazz com MPB. Neste mesmo período o baterista Ronaldo Pereira inaugura no Rio o Estúdio Groove. Com a volta do vocalista Eduardo ao Rio em 99, a banda se reúne novamente para a comemoração de 15 anos de seu primeiro show realizado em Brasília em 84. Após 9 anos longe dos palcos, o Finis Africae bate o record de público da casa de espetáculos The Ballroom no Rio de Janeiro com a participação do grupo Hojerizah. O que era para ser apenas uma festa de aniversário se transforma no projeto Anos 80 Rock Brasil. O anfitrião Finis Africae convida uma banda amiga que também está voltando para excursionarem juntas. Paralelamente a banda faz o show de encerramento do projeto Arte Por Toda Parte ,no Teatro Nacional em Brasília e excursiona pelas lonas culturais do Rio de Janeiro. Em 2001 volta a capital federal para o show de inauguração do memorial Renato Russo e retorna ao Rio para finalizar as mixagens de seu CD ao vivo que já está pronto. Muitas bandas quando retomam às origens, voltam com mudanças drásticas a fim de atingirem novamente o sucesso. Mas com o Finis Africae não. Eles prometem manter os ingredientes que conquistaram uma legião de fãs pelo país:um som sofisticado e melodioso, com destaques para as texturas de guitarra e um baixo sinuoso, juntamente com as letras sem refrão. Estivemos reunidos com essa galera para um bate-papo descontraído, na qual eles contam tudo sobre o começo da banda, os fatos positivos, negativos da carreira e principalmente o novo CD que estão lançando para marcar a volta do grupo ao cenário do rock em grande estilo . SITE OFICIAL -> http://www.finisafricae.com.brBIOGRAFIA ->Saiba mais sobre o Finis Africae |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 16/04/2002
1) O que mudou do Finis Africae da década de 80 para os dias de hoje? No que concerne ao som do grupo usamos timbres mais atuais, modernos, principalmente nas guitarras e teclados. Por outro lado mantivemos certas características típicas como por exemplo, músicas sem refrão, ou com um refrão que não se repete mais de uma vez e a música não retorna a parte A. Não planejamos isso, simplesmente sai assim. Continuamos compondo em Jam Sessions e as idéias vão sendo colocadas a medida que a música vai rolando. Rola também de alguém já trazer uma idéia pronta e começarmos fazendo um arranjo juntos. Foi o caso de Acrobata, Jovens e O homem, mas é mais raro. Nós mudamos muito como pessoas, já não saímos tanto quanto fazíamos e isso faz com que a nossa convivência tenha um tempo mais reduzido, não é de todo negativo, isso criou um compromisso mais profissional, afinal não temos tempo à perder e muito menos à desperdiçar. Posso dizer, sem medo de estar exagerando, que os ensaios hoje são muito mais disciplinados e conseqüentemente mais produtivos do que eram nos anos 80. 2) Como será esse CD ao Vivo que vocês lançarão em breve? Esse CD foi gravado em Brasília às margens do Lago Paranoá, num evento de comemoração do aniversário da cidade. Acho que foi o primeiro show que fizemos lá no Distrito depois que voltamos. Isso foi muito importante para nós, porque sabíamos de que iria um público que gosta do nosso trabalho e estariam curiosos para saber como estaríamos tocando depois de tanto tempo sem tocarmos juntos. Foi um desafio que assumimos com prazer e muito afinco porque sabíamos que éramos capazes e queríamos deixar claro que havíamos voltado, não para só matar as saudades ou por uma mera circunstância mercadológica, pois outros grupos dos anos 80 tinham voltado a gravar e fazer sucesso, mas porque realmente ainda sentíamos prazer em tocar juntos, fé no nosso trabalho e confiança mútua. É um CD que tem como proposta básica resgatar o repertório que até então só existia em vinil. Claro que não iríamos resistir a inclusão de músicas inéditas nossas. No show tocamos ainda covers de amigos contemporâneos: Até quando esperar (Plebe Rude), Fátima (Capital Inicial) e Conexão Amazônica (Legião Urbana), mas essas são para aqueles que vão aos shows. Vocês podem encontrar mais detalhes sobre o CD, repertório, letras, vídeo, MP3, fotos no site do grupo: http://www.finisafricae.com.br
4) O que de fato aconteceu para a banda se desfazer em 1990? As coisas não iam bem para nós, já estávamos uns dois anos sem contrato com gravadora, só produzindo "demos" e tentando entrar numa gravadora. Os shows iam ficando mais raros, o cachê caiu, e os membros do grupo naturalmente se envolveram em outras atividades. Assim o grupo foi naturalmente deixando de existir. Eu me lembro que quando fizemos o show de despedida no Circo Voador junto com O Violeta de Outono, já estávamos seis meses sem nos apresentar. Pessoalmente eu tive outros motivos, estava casado com uma cidadã sueca, ela estava desempregada, o Collor tinha ganho a eleição e aí tudo parecia conspirar para que eu deixasse o país. O resto do grupo entendeu numa boa, mas a iniciativa foi minha.
6) Qual o melhor momento que a banda viveu durante toda a carreira? Com certeza cada músico diria um momento diferente. Para mim foi a vinda de Brasília para o Rio. Era a hora de pagar para ver. Ainda bem que deu certo, pelo menos não voltei para Brasília. É brincadeira! Se tivesse voltado não teria sido ruim, ainda tenho diversos amigos por lá e praticamente duas vezes por ano me encontro sobre o solo vermelho do planalto central. Mas aquela coisa de sair de uma cidade e se mudar para outra completamente na fé que se tem no seu trabalho me impressiona muito. E foi magnífico ter vivenciado. 7) Quais as influências do Finis Africae? São muito ecléticas, também não sei dizer se as coisas que ouço influenciam diretamente no nosso trabalho. No grupo em comum e no começo da carreira poderia citar: Joy Division, Siouxsie and The Banshees, Echo & The Bunnyman, The Cure. Mas o baixista por exemplo adorava a música negra norte-americana e tocava num estilo parecido com Sly & The Family Stone, Stevie Wonder e coisas do gênero. Hoje ouvimos de tudo e cada um tem os seus prediletos dentro dos mais variados estilos. Eu ouço muito música eletrônica tipo: Chemical Brothers, Fat Boy Slim, Massive Attack, Junkie XL e tantos outros, mas ouço muita música acústica, World Music, MPB, Rock, enfim ouço muita música. 8) Armadilha, Máquinas do Prazer e Mentiras ainda são as músicas mais pedidas durante as apresentações da banda? Há alguma música nesse novo CD que vocês acreditam que vai estourar logo? É engraçado mas nosso público tem um gosto pelas coisas raras. Me surpreendeu muito e ainda continua a me surpreender ouvir as pessoas pedindo insistentemente para tocarmos Ëtica, Van Gogh e Chiclete. A reação quando tocamos Armadilha, Máquinas do Prazer e Mentiras é excelente, mas não são músicas muito pedidas. Acho que eles tem absoluta certeza de que vamos tocar essas e então ficam pedindo as mais raras de serem tocadas. Das inéditas a que eu acredito que possa emplacar é Acrobata. Ronaldo Pereira o baterista crê que O Homem é a música que deverá fazer mais sucesso. 9) O grupo tentou se reunir em 1998 para fazer shows no Rio e gravar um CD Demo, mas até então não tinham em mente voltar com força total. Depois do lançamento desse novo trabalho, a banda vai tentar se firmar de vez? Depois de todas nossas apresentações marcadas até setembro, iremos analisar a receptividade do público, mídia, para aí sim decidirmos se vale a pena prosseguir. De fato estamos hoje numa posição mais cômoda e já não somos mais tão ansiosos e desesperados como éramos há 20 anos atrás. Além do que todos os membros do grupo são envolvidos em outros projetos musicais paralelos, então o fim do Finis não é o fim da atividade musical para nós.
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