ENTREVISTA ESPECIAL :    Fernanda Porto

A diva do Drum´n´Bass brasileiro

Bebendo da fonte do Drum´n´Bass, cantora conquista os ingleses e logo depois estoura no Brasil

Fernanda revolucinou o Drum´n´Bass`no Brasil

Considerada a voz brasileira do Drum´n´Bass, Fernanda Porto vem conquistando um espaço cada vez mais concreto no cenário musical. Suas músicas estão estouradas nas principais pistas de dança do país e seu trabalho conseguiu atingir uma dimensão internacional na mídia. Ela foi uma das principais responsáveis pela MPB se abrir para a música eletrônica que hoje conta com uma legião de adeptos. Sua notoriedade é tão grande que fica fácil distinguir o som de Fernanda para os visitantes gratuitos do estilo. Ela sabe como ninguém fazer canção brasileira e misturar a elas elementos acústicos e harmônicos sofisticados.

Cantora, compositora e multi-instrumentista, a paulista Fernanda Porto não caiu de pára-quedas na música. Muito pelo contrário. O amor por essa vocação começou deesde cedo. Aos 4 anos, já apresentava sinais de uma admiração especial pela flauta doce, flagras que foram registrados em vídeo por uma professora. Aos poucos foi se entrosando com outros instrumentos e aprimorando suas habilidades. Iniciou os estudos de piano ainda adolescente com a intenção de ingressar em uma faculdade de música. Logo em seguida, com mais bagagem, entrou para o curso superior aos 16 anos  e em menos de um ano depois, já quis aprender composição e regência.

A versatilidade de Fernanda veio com o tempo. Já considerada a única cantora lírica de São Paulo, ela hoje se destaca pela habilidade em mesclar drum'n'bass, bossa nova e MPB num trabalho consistente e inspirado em referências regionais. Mas Fernanda Porto, que foi evelada através de uma coletânea de drum 'n' bass lançada em 1999 pelo DJ Patife através de sua versão para o clássico de Tom Jobim "Só Tinha de Ser com Você",  não ficou muito tempo restrito ao público eletrônico. Dona de um bela voz, talentosa ao piano e ao saxofone, e graduada em música erudita, Fernanda logo demonstraria ser bem mais do que uma artista eletrônica, e seu aguardado disco de estréia, lançado em 2002, confirmaria as expectativas.

Misturando ritmos regionais, MPB e Bossa Nova sempre sobre um beat e usando timbres tipicamente eletrônicos, Fernanda foi uma das responsáveis pelo início de uma ponte sólida, no Brasil, entre a música eletrônica, a música brasileira e a música pop. Do seu 1º e único CD intitulado simplesmente “Fernanda Porto” pela gravadora Trama, a cantora compôs 13 das 14 faixas. Sambassim, uma de suas músicas que contagiou as pistas brasileiras numa versão remix e a releitura de Só Tinha De Ser Com Você - de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira -  e que foi tema da personagem vivida por Renata Sorrah na novela global Um Anjo Caiu Do Céu, conquistando o público e crítica no Brasil, são os principais destaques do trabalho.

Depois do sucesso do remix de Sambassim, em busca de oportunidades, a cantora viajou pela Europa, participou de programas de rádio, passou por Miami e pela Itália, onde recebeu um convite da gravadora Irma Records. Nesta mesma época, foi chamada pela Trama e decidiu aceitar a segunda proposta já que seu desejo era lançar seu trabalho aqui no Brasil. Fernanda também foi sondada pela Universal, mas preferia a Trama, que segundo ela, dá mais liberdade ao artista. Mas ao contrário do que se imagina, Fernanda não apareceu do nada. Ela já era muito conhecida no mundo independente desde o começo dos anos 90, quando cantava música pop. Antes de fazer sucesso no Brasil, seu tipo de som sacudiu as pistas do mundo inteiro, ganhando elogios de revistas como DJ Mag, Jockey Slut e The Face. Por ter esse reconhecimento internacional, em 2003  foi convidada para gravar algumas vozes no CD que marcou a volta do Living Colour, uma das bandas mais conceituadas dos Estados Unidos.

Com mais de 10 anos de estrada e com um amplo conhecimento musical Fernanda começou um samba assim, sem pandeiro ou tamborim e veio confirmar essa sua nova fase aqui em nosso site com uma entrevista super especial. Confira, na íntegra, todo nosso papo com a cantora!

Site: http://www.fernandaporto.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 30/03/2004

1) Qual a sensação de ser considerada a voz brasileira do drum'n'bass?

Em 97 conheci o Drum and Bass através do Xerxes De Oliveira.Adorei aqueles beats acelerados e cheios de riqueza rítmica. Não sabia por onde começar a pesquisa. Em 98 fui à Londres para buscar mais elementos, inclusive para conhecer a cena como um todo. Jamais imaginaria que dois anos depois, poderia ser reconhecida por um trabalho que na verdade é um eterno desafio. Fazer canção brasileira e misturar a ela essas sonoridades. Como diz o Dj Patife é só ALEGRIA!

2) Você foi uma das responsáveis pela MPB se abrir para a música eletrônica. Está satisfeita com a repercussão?

Com certeza. Esse ritmo é maravilhoso. Estava na cara que outras pessoas se aproximariam dele dentro da MPB. Isso ajudou a quebrar o preconceito de algumas pessoas em relação à Música Eletrônica. Ela também pode conter elementos acústicos e harmônicos sofisticados. Depende de quem está produzindo.

3) Ano passado o drum 'n' bass brasileiro ficou conhecido em Londres através de seu trabalho e de outros como Patricia Marx, e do DJ Bruno E. Como foi a receptividade do povo britânico com o gênero?

A música brasileira já conquistou a simpatia de todo o público internacional.Acredito que principalmente porque a nossa música se desenvolveu muito harmonicamente o que aproxima os ouvidos do europeu, por exemplo que ouve muito jazz. Dizem eles que adoram a sonoridade da nossa língua.Consideram uma língua sensual e doce.

Ela está bastante feliz com a repercussão da música eletrônica no país

4) Você teme que o drum'n'bass possa virar moda e se tornar uma coisa estereotipada dentro do mercado futuramente?

Já virou moda. Na verdade é um ritmo que veio para ficar.Como sempre existem as boas e as más produções dentro do estilo. Infelizmente este é um perigo que está por aí. Cabe aos ouvintes saber identificar os visitantes gratuitos do estilo.

Seu trabalho solo já está na casa de 100 mil cópias vendidas

5) Fale pra gente sobre seu primeiro trabalho solo que estourou nas pistas de dança de todo país e no mercado musical em si.

Nesse meu primeiro disco quis trazer o material mais representativo do que vinha fazendo. Ao mesmo tempo remixei algumas músicas que havia composto a mais tempo, como 1999 uma música lírica que havia composto em 93, já eletrônica. Entre baladas e músicas mais dançantes quis principalmente mostra minha forma de pensar em um arranjo. Fazendo desse disco uma mostra do que faço sempre. Compondo uma canção com o computador do lado. Muitas vezes o próprio arranjo me sugere a continuação de uma canção.

6) Antes do drum'n'bass, você chegou a vislumbrar uma possibilidade de se tornar uma cantora estilo Marisa Monte ou já tinha em mente investir pesado nesse gênero mesmo?

Desde 1990 me utilizo de recursos eletrônicos para compor. Adora MPB mais sinceramente estava um pouco enjoada das sonoridades mais acústicas.Gosto de mesclar meu violão ou piano com ambientes "estranhos".Experimentar sempre.

7) Só Tinha de Ser com Você e Sambassim foram duas canções que tornaram seu trabalho mais conhecido na mídia. Você tinha certeza que essas músicas estourariam?

De forma alguma. A própria letra do Sambassim diz _ Será que é samba assim? Eu assumo letra minhas dúvidas. Passei o ano de 99 compondo várias canções sem ter coragem de mostrar para nenhum DJ. A música é sempre uma fórmula mágica. Tão pouco quero saber premeditar aquilo que faço. O que vale nessa hora é a coincidência entre aquilo que a gente está fazendo e a real necessidade das pessoas precisarem daquilo.

8) Você acredita que o mundo eletrônico, apesar do mercado estar tomado pela pirataria, pode ir mais além revelando mais gente nova?

Com certeza! A pirataria atinge mais aos artistas de grande vendagem. Hoje a música eletrônica se tornou mais acessível. Todos os equipamentos que precisamos baixaram de custo graças ao avanço das tecnologias digitais. O artista tem que cavar seus espaços. Eles não são fáceis, mas existem. Se o artista não se dispuser a entender isso, não terá força nem determinação para nada!

9) Fale pra gente sobre seus próximos passos dentro da música.

Estou compondo a trilha do novo filme de Toni Venturi - Cabra Cega.Trabalhei anos com isso. É sempre maravilhoso musicar alguma coisa. Sempre musico letras. Adoro ter as imagens e o roteiro como fonte de inspiração. Ao mesmo tempo tenho composto novas músicas para meu próximo disco. Acredito que devo começar a gravar em abril.UAU!! Muitas emoções!

10) Deixe uma mensagem final pra todo seu público que te acompanha de longa data

Meu eterno obrigada por todo o carinho que vcs me dão. Sempre brinco dizendo que tocar em casa não tem graça. Cada show tem no público a sua verdadeira estória.

Fernanda dando seu recado final

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