ENTREVISTA ESPECIAL : Geraldo Azevedo

Um artista que dispensa apresentações
Pernambucano Geraldo Azevedo é um dos ícones da música nordestina e amante do bom e velho romantismo musical

Um artista que leva a raiz nordestina nas veias e dispensa apresentações e justificativas para apreciar sua obra. Assim podemos definir o cantor e compositor Geraldo Azevedo. Com mais de 40 anos de carreira recheada de discos de ouro, platina e uma vasta coleção de álbuns lançados e muito bem vendidos por sinal, esse pernambucano de Petrolina, nascido às margens do Rio São Francisco, tem na música a sua verdadeira paixão. A seriedade com que encara cada trabalho realizado é um exemplo a ser seguido por qualquer artista iniciante. Só pra ter idéia, Geraldo teve sua iniciação musical por contra própria. Começou a tocar violão de forma autodidatal. Foi treinando em casa e pegando dicas com amigos que ele aprendeu a sonoridade das cordas e as aprimora até hoje, segundo ele mesmo declara em entrevistas. Geraldo costuma dizer que um músico nunca é completo, ele está em eterna construção. E é dessa forma que o cantor é um ícone da música brasileira.

A história do cantor Geraldo Azevedo com a música começou aos seus 18 anos de idade, quando foi morar em Recife. Com cenário musical forte, o cantor juntou-se a um grupo folclórico intitulado Construção, onde conheceu ninguém menos que a cantora Teca Calanzas e o percussionista Naná Vasconcelos. Em 1967,  Eliana Pittman o trouxe para o Rio como músico de sua banda, onde se tornou conhecido como compositor e instrumentista versátil. Na cidade maravilhosa, reencontrou Naná Vasconcelos e juntaram-se a Nelson Ângelo e Franklin para formar o Quarteto Livre, grupo que acompanhou Geraldo Vandré, até que os problemas com a ditadura militar fizeram com que Vandré fosse obrigado a deixar o país. Era o fim de um projeto, mas outros ainda estavam por vir.

Logo em seguida, Geraldo participou com Alceu Valença (até então um antigo amigo de Pernambuco) de um festival de música, onde defenderam a canção 78 Rotações. Era o início de uma carreira que iria dar bons frutos e que conduziu os artistas ao Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro ,em 1972, com Papagaio do Futuro. Juntamente com o lendário cantor popular Jackson do Pandeiro, eles tiveram uma notável apresentação no Festival e foram contratados pela Gravadora Copacabana. Seu disco de estréia, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, foi lançado no mesmo ano.

De lá para cá foram vários sucessos e grandes momentos na carreira desse artista pernambucano. Só para enumerar alguns podemos citar composições de puro lirismo como Dia branco e frevos embrasados, como Tempo tempero e Pega fogo coração. Além disso, teve diversas músicas utilizadas em novelas e outros programas de televisão, entre os quais, Juritis e borboletas, na novela "Saramandaia e Arraial dos tucanos, do seriado Sítio do pica-pau amarelo, ambos na TV Globo.  Porém, um dos seus grandes êxitos foi o lançamento do disco Bicho de Sete Cabeças em 1979, onde nesse LP, além da canção que dava nome ao álbum, a música Táxi Lunar levou o cantor às paradas de sucesso, sendo inspiração mais tarde para dar nome ao filme Bicho de Sete Cabeças (2001) com Rodrigo Santoro, um dos destaques do cinema nacional.

Outro auge de sua carreira foi a participação no disco O Grande Encontro, em 1996,  onde se reuniu através de um show com Elba Ramalho, Zé Ramalho e Alceu Valença. Nesse projeto mostraram clássicos de suas respectivas carreiras, além de recuperarem sucessos de mestres como Luiz Gonzaga, Geraldo Vandré e Trio Nordestino. O trabalho gerou duas sequências nos anos de 1997 e 2000. Atualmente o cantor divulga o CD e DVD Salve São Francisco, um álbum idealizado por Geraldo Azevedo que conta com as participações especiais de alguns dos mais talentosos artistas produzidos no país, como Dominguinhos, Alceu Valença, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Djavan, Moraes Moreira, Fernanda Takai, Roberto Mendes, Geraldo Amaral, Vavá Cunha e Márcia Porto.

Dono de uma voz inconfundível e de uma maneira única de fazer música, Geraldo é uma daquelas pedras raras da arte Brasileira. Para trazer um pouco mais sobre esse grande artista e discorrer sobre sua obra, o MVHP conversou com o cantor e traz mais abaixo a entrevista realizada. Confira !

Site:

http://www.geraldoazevedo.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 14/06/2013

1) Qual o balanço que você faz de toda sua vasta carreira até aqui ?

Eu não paro pra refletir muito nessa coisa de tempo, sei que faço o que gosto e consigo viver bem fazendo música, cantando e tocando aquilo em que creio. Para mim isso é o mais importante.

2) Como artista pernambucano que sempre buscou divulgar a musica nordestina, qual a importância dos nossos ritmos para a manutenção da nossa cultura diante da massificação de músicas descartáveis nas rádios ?

A musica retrata muito a cultura de um povo. Ela retrata e divulga, por isso não podemos parar de compor e gravar . Apesar de todo o processo de massificação das musicas descartáveis, creio queinternet de certa forma possibilita essa troca e acho que cada vez mais as pessoas estarão escolhendo o que ouvir nesta imensa rede.

3) Falando nisso, como você vê essas seguidas produções excessivamente comerciais da música brasileira ?

Acho triste o fato dehoje em dia e cada vez mais a musica esteja sendo feita de forma tão displicente. É a busca por notoriedade a qualquer preço. Mas acho ainda mais deplorável que as rádios e TVS cedam seu espaço para este tipo de manifestação com palavras e temáticas depreciativas e carentes de poesia e beleza.

4) Fale um pouco sobre o CD e DVD Salve São Francisco, que conta com as participações especiais de alguns dos mais talentosos artistas produzidos no país.

Quando comecei a gravação do CD, com produção de Robertinho de Recife, eu já almejava realizar duetos com artistas que tivessem afinidade com o rio. A ideia de transformar o makingof das gravações em um DVD foi de Lara Velho que é cineasta e como uma filha para mim. Sabendo que o CD teria muitas participações especiais, tantos encontros importantes, ela achou que deveria filmar. No decorrer das gravações, tivemos oportunidades de ir para diversas cidades por onde corria o rio São Francisco e unimos essas imagens com o makingofdas gravações e os depoimentos dos participantes e fizemos essa homenagem ao rio que é considerado o rio da integração nacional.

5) Pela sua experiência, é difícil viver de produção independente no Brasil?

Não vou dizer que é fácil, acho que já foi mais dificl. O fato é que tenho conseguido levar minha carreira dessa forma e não saberia fazer de outra maneira.

6) Você nunca precisou aderir aos modismos para fazer sucesso. Como se sente diante disso ?

Muito realizado, feliz em poder fazer o meu trabalho com a verdade do que sinto e desejo cantar. Podendo passar minha mensagem para meu publico sem interferência de mercadoou qualquer outra.

7) Seus shows são marcados pela alegria, alto astral e o agito do público, sempre numeroso e dependente de sua poesia multifacetada. Como você definiria a relação que tem com o seu público?

Costumo dizer que meus shows agora não são mais voz e violão, mas sim: voz, violão e coro. Meu publico é muito participativo e se renova a cada dia. Nossa relação não podia ser melhor, sou muito grato aos meus fãs.

8) De onde vêm a sua inspiração para as composições? Tem algum parceiro predileto?

Acho que minha inspiração vem do amor, da natureza, de sentimentos bons e também pode vir de uma dor de cotovelo, tristeza, medo. Pode ser tanta coisa. Os processos são cada um de um jeito e é um mistério, mas toda canção é uma forma maravilhosa de comunicação.. Eu adoro parceria e fica complicado dizer quem é meu parceiro favorito, pois cada um deles tem suas características! Acho que sempre acrescenta ao meu trabalho, dá grandeza e amplitude. Já comecei letras que, que foram completadas por parceiros com palavras e significados que eu não tinha imaginado e ficaram maravilhosas.

9) Quais seus próximos planos dentro da música ?

Tenho vários: gravar um CD de inéditas, que já estão todas prontas. Fazer um DVD de frevo, outro para crianças, outro de xote. Tem que ter tempo e verba para tudo, mas se Deus quiser, irei conseguir!

10) Deixe um recado final para todos os seus fãs espalhados pelo país a fora.

O meu recado para meus fãs é de uma musica minha, Principio do Prazer que diz “O meu coração me diz fundamental é ser feliz!”. Sejam todos muito felizes e muito obrigados por estarem sempre ao meu lado e, principalmente, divulgando e cantando as minhas musicas!

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