ENTREVISTA ESPECIAL : Inimigos do Rei

Com Inimix, agora o pop é rock !
Banda dos anos 80 reaparece no mercado com um power trio e uma nova identidade

Sucesso estrondoso na década de 80, os Inimigos do Rei estão de volta. Reduzidos, desde 2009, a três integrantes da formação original, o grupo carioca agora parte para sua evolução e são conhecidos como Inimix. O novo "power trio"- Mokkó Lyrio (Guitarra), Celão Marques (Bateria) e Marcelo Crelier (Baixo) -  faz da música algo mais objetivo e visceral e deixando o público redescobrir um Inimigos do Rei renovado na pele do Inimix. O resultado é tão bom que eles conseguiram manter o repertório da banda e acrescentando diversas músicas inéditas como A Crise, O Medo e A Vida que valorizam o conteúdo. De acordo com o baixista Marcelo Crelier, agora o Pop é Rock mesmo!

A história do Inimigos do Rei é nítida de sucessos. A banda formou-se em 1987, no Rio de Janeiro, da desintegração do grupo Garganta Profunda em outros menores, e contava com sete integrantes: Luiz Guilherme, Luiz Nicolau, Paulinho Moska, Marcelo Marques, Marcelo Crelier, Marcus Lyrio e Lourival Franco. Ficou conhecida por seu estilo irreverente e humorístico, contando com músicas de duplo-sentido com acentuados jogos de vozes e letras de humor. O grupo fez história nos anos 80 e era figurinha fácil em programas de auditório como os programas do Chacrinha e do Bolinha.

Em 1989, gravou o LP Inimigos do Rei, destacando-se as faixas Uma barata chamada Kafka e Adelaide, versão para "You Be Illin" (Simmons, White e Mizell), que fizeram sucesso nas emissoras de rádio, chamando a atenção da mídia e  rendendo um disco de ouro à banda logo no álbum de estreia. Em 1990, lançou o álbum Amantes da Rainha e, no ano seguinte, Paulinho Moska deixou o grupo para seguir carreira solo. Em 1991, participaram do Rock in Rio II, num show espetacular que consolidou o sucesso da banda.

Em 1997 gravaram mais um disco, então com seis integrantes, que contava com músicas inéditas e algumas regravações como Mamãe Passou Açúcar em Mim, de Carlos Imperial (imortalizada na voz de Wilson Simonal), e Come Together, de Lennon e McCartney (The Beatles). O Arquivo - Inimigos do Rei só sairia em 1998, junto com a primeira pausa da banda. Pausa essa que foi originada devido a desgastes pessoais dos integrantes que optaram de dar um tempo para se dedicar mais as suas respectivas famílias. A banda voltou a a tiva em 2003 depois de se apresentarem juntos num projeto Revival anos 80 de uma rádio carioca e perceberam que a vibração do público era o sinal que faltava para o regresso.

Entrevistamos o trio que tem muito para nos contar a respeito da nova formação e novos planos. Confira na íntegra a matéria !

Site:

http://www.inimigosdorei.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 01/03/2012

1) Qual o balanço que vocês fazem da carreira da banda até aqui ?

Marcelo Crelier: Começamos em 1987 tocando em bares alternativos do Rio de Janeiro, mas o sucesso só viria em 1989 depois de “Uma Barata Chamada Kafka” e “Adelaide” nos proporcionarem um disco de ouro. Em 1991 estávamos no palco do Rock in Rio II tocando no Maracanã para 45 mil pessoas e com um travesti (Telma Lipp) semi-nu dançando para as câmeras da Rede Globo em transmissão para o mundo inteiro. Tudo acontecia muito rápido e éramos muito jovens. Hoje, 25 anos depois, podemos olhar para trás com orgulho mas, sobretudo, podemos olhar para frente com outra maturidade... e a sonoridade do trabalho acompanha nossas cabeças. Já fomos 7 integrantes e hoje somos 3, neste formato a soma é mais precisa. Em 2011 voltamos a estar em evidência por conta do “Viradão Carioca” (evento no Rio de Janeiro com ampla cobertura da mídia para todo país) em que nos apresentamos com um show repleto de sucessos mas também com muitas músicas inéditas. O resultado? O público carioca vibrou junto conosco, e pôde redescobrir um INIMIGOS DO REI renovado na pele do INIMIX...

2) Fale pra gente sobre esse novo projeto Inimix na qual vocês dão o nome a nova formação.

Marcelo Crelier: A partir de 2009, reduzido a três integrantes, o INIMIGOS DO REI toma um novo rumo e investe numa formação rock`n roll clássica de “power trio”, onde Mokkó Lyrio (Guitarra), Celão Marques (Bateria) e eu, Marcelo Crelier (Baixo), todos integrantes originais da banda, decidimos continuar a tocar os clássicos do grupo original, só que priorizando a produção de material inédito. A esta formação decidimos chamar: INIMIX - O Compacto dos Inimigos do Rei, onde o conceito de “power trio”, faz da música algo mais objetivo e visceral. Esta formação, embora restrinja um pouco a movimentação cênica que sempre tivemos, valoriza por demais o conteúdo do trabalho, onde o que se canta e toca passa a ter uma pressão maior junto ao público... As novas composições como “Crise”, “Vida” e “Medo” são sintéticas como seus nomes, temas objetivos e muito presentes no cotidiano de todos. O diferencial do INIMIX está em dois pilares: na estética das composições e dos arranjos... que valorizam o conteúdo. Agora o POP é ROCK mesmo!

3) Vocês andaram um período sumidos da mídia. O que foi feito nesse tempo ?

Marcelo Crelier: Após a apresentação do INIMIGOS DO REI no Rock in Rio II em 1991, tivemos mudanças na formação com a saída de Paulinho Moska mas continuamos trabalhando por todo Brasil, só que a exposição na mídia foi sendo gradualmente reduzida com o passar dos anos. Em 1997, após o lançamento do terceiro CD da banda, ainda durante a turnê de divulgação, nos demos conta do quanto estávamos cansados, e decidimos “dar um tempo”. Parecia que lançar o disco tinha sido um “parto”. Até porque, individualmente, alguns de nós com família e filhos pra criar estavam desgastados com a correria dos shows e havia um desejo de aumentar a dedicação em casa. Demos uma pausa no trabalho da banda a partir de 1998, mas em 2001 nos reencontramos para fazer um show no antigo Ballroom. Voltamos a tocar juntos em 2003 por causa de um convite da Rádio Cidade (que então era a Rádio Rock do Rio) para participar de um projeto de Revival dos anos 80, onde além dos INIMIGOS DO REI, estavam Ritchie, Ira, Uns & Outros, Plebe Rude, Picassos Falsos e diversos artistas que fizeram sucesso nos anos 80. Depois deste show, ao percebermos a receptividade da platéia, resolvemos voltar a tocar juntos. Depois de 7 anos separados, a energia estava renovada e nenhum de nós precisaria do dinheiro do trabalho pra sobreviver... tudo fica mais fácil quando é assim, só pelo prazer de tocar. No começo de 2004 decidimos montar um novo show com músicas inéditas, novas versões para músicas antigas e resgatar músicas de outros artistas que foram referência em nossa formação como banda. O show foi tão bem recebido pelo público que, em 2005, acabamos gravando duas faixas “ao vivo” no Circo Voador para o DVD da Festa Ploc 80`s, único registro “ao vivo” de nossos sucessos “Barata” e “Adelaide”. De lá para cá, não paramos mais... mas só retornaríamos à mídia depois do show no “Viradão Carioca” em 2011.

4) Irreverentes, bem humorados. Essa foram marcas importantes do grupo quando iniciou o trabalho. Vocês continuam com esse pop sátira ?

Marcelo Crelier: Na verdade o trabalho sempre foi irreverente e bem humorado porque sempre fomos assim, individualmente, na essência de cada integrante. Junte-se integrantes com esta afinidade em comum e isto fatalmente se refletirá no trabalho. A proposta original da banda era a de fazer uma crítica bem humorada ao universo POP... jamais imaginaríamos que seriamos transformados em um produto POP, pertencente ao universo que satirizávamos... rs... foi uma “rasteira” interessante do destino! Posso afirmar que sempre fomos e sempre seremos irreverentes na temática e na performance. Divertir é o nosso maior compromisso. Hoje estamos mais maduros, e a sonoridade está mais pesada. Cada integrante está mais seguro de sua parte no conjunto do trabalho. O INIMIX tem uma pressão que o INIMIGOS não tinha antes. A idade também influencia nas letras, os assuntos hoje são mais existenciais e um pouco menos urbanos, mas a crítica contundente e divertida sempre vai estar presente em nosso trabalho.

5) O que vocês estão achando do mercado da música atual ?

Marco Lyrio: O processo de convergência dos meios de comunicação, as novas mídias mexem significativamente nas funções da musica no nosso cotidiano. Cada vez mais o mercado se alinha pela internet e hábitos e costumes, cabe a todos os artistas estarem atentos e dispostos a enfrentar as transformações sem deixar de lado princípios básicos de criação, genuinidade e muito trabalho. se as gravadoras não são mais os únicos promotores de novas canções temos que estar ligados em tudo, sobretudo nos eventos ao vivo, nas tendências à interatividade e na velocidade com que a internet pode dar aos nossos conteúdos. O negócio é estar atuante e disposto a trabalhar.

6) Como está a turnê do grupo pára 2012. Muitos eventos fechados ?

Marco Lyrio: Estaremos fazendo um movimento importante em 2012, assumindo os espaços adequados para o nosso repertório inédito como A Crise e A Vida que já estão circulando na web, ao mesmo tempo mantendo as aparições nas festas temáticas com o repertório consagrado, mas acho que o principal é a formação de platéia para o formato power trio e as novidades que isso traz para nossa musica.

7) Quais as diferenças do rock dos anos 80 pra esse que está sendo difundido atualmente ?

Celão Marques: Os anos 80 foram marcados pelo fim da ditadura e, consequentemente, da censura. Uma possibilidade, inclusive, de não ter a postura séria e politicamente correta que reinava na MPB principalmente. Não queríamos nos levar muito a sério e/ou ficar refletindo a respeito da teoria da Mais-valia de Karl Marx ou do posicionamento do proletariado em relação aos dogmas dos intelectuais da USP! Rs... Fomos de “Vem Kafka comigo” um convite para celebrar e viver a festa da vida! Como, sabiamente, dizem os Titãs: ”A gente não quer só comida...” Infelizmente o Brasil não possui uma política para, efetivamente, fomentar a produção cultural. A presidente Dilma, por exemplo, foi ao CCBB em Brasília assistir à uma peça de teatro e o cerimonial do Palácio do Planalto foi demasiadamente discreto com esse “movimento”, com essa grande notícia. Por que gente? Na verdade gostaria de ler em caixa alta nos principais veículos de comunicação: “A PRESIDENTE DILMA FOI AO TEATRO DO CCBB E ADOROU A PEÇA“ O Brasil, sexta economia do mundo dito capitalista de produção, consome menos produtos culturais, proporcionalmente, que os nossos vizinhos sul-americanos. Tem algo errado, né? A classe média brasileira consome mais churrascaria, carro zero do que livros ou CD’s. Quanto a diferença entre os “rocks” é o processo normal da vida... a fila anda e o assunto em voga, também. A “atitude rock” ainda permanece de certa forma. O mais legal é que vejo poucas novas bandas nacionais cantando em inglês. Sempre achei muito chato essa cantoria em inglês macarrônico. Vamos deixar essa função aos nobres roqueiros de língua inglesa. Não se trata de xenofobia, rebeldia, anarquia ou anauê... é que acho a língua portuguesa muito rica e belíssima. E a maioria entende... Disco é cultura!

8) O DVD ao vivo é uma das metas principais da banda. Já tem alguma previsão ?

Marco Lyrio: Estamos buscando parceiros para documentar este show autoral do INIMIX. Lançamos 3 Cds até hoje e estamos com 2 músicas no CD e no DVD da Festa Ploc 80`s (da Som Livre) que vendeu muito bem. Esperamos gravar o novo CD e DVD do show do INIMIX até o final deste ano mas enquanto isto vamos viajando e filmando os shows para aprimorá-lo cada vez mais e seguindo as gravações de estúdio com as inéditas. Agora é usar a venda pela web, faixa a faixa e participar de grandes Festivais.

9) Quais os próximos planos da banda dentro da música ?

Marco Lyrio: Firmar a imagem e as potencialidades do “power trio” e buscar cada vez mais uma linguagem genuína, sem perder a vocação para a Festa e o bom humor.

10) Deixe um recado final pra todos os fãs da bandaespalhados pelo país a fora.

Celão Marques: Unidos venceremos! Beba com moderação!

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