ENTREVISTA
ESPECIAL : kleiton & Kledir
A
dupla que conquistou o Brasil
Com irreverência e qualidade,
Kleiton & Kledir são apontados como ícones da música regional
``Deu prá ti, baixo astral, Vou prá Porto Alegre, tchau``. Versos como esses ficaram marcados na década de 80 e são lembrados até os dias de hoje. Como tudo que é sucesso não se esquece, o público que viveu aquela época vai se lembrar perfeitamente da dupla formada por irmãos gaúchos de Pelotas que conquistaram todo país e se tornaram ícones da música regional. Quem não se recoda de Kleiton & Kledir? Pois é, o tempo passou, as coisas mudaram, mas eles continuam sendo referência musical, mesmo com os obstáculos impostos pela mídia que dá preferência aos produtos descartáveis. A história da dupla começou cedo, lá pela segunda metade dos anos 70. Recém-chegados a Porto Alegre para estudar engenharia, os irmãos Kleiton e Kledir Ramil, mais três amigos da região Sul do estado, criaram o grupo Almôndegas. O ponto de encontro da turma era a Rádio Continental, que passou a gravar os novos músicos gaúchos em seu estúdio de dois canais e colocá-los na programação. Em pouco tempo, a Continental tornou-se a preferida dos jovens porto-alegrenses. Do sucesso no rádio vieram os shows, mobilizando multidões de duas, três, quatro mil pessoas e despertando o interesse das gravadoras. Pela paulista Continental, o Almôndegas lançou seu primeiro LP em 1975, tornando-se o mais popular grupo sulista. Na base de violões e belas harmonizações vocais, misturando MPB, rock e folclore gaúcho, o grupo marcou época. Tanto, que várias de suas músicas continuam a ser tocadas e gravadas. Depois do segundo disco, em 1976, sucesso nacional com Canção da Meia-Noite (incluída na trilha da novela Saramandaia), o Almôndegas mudou-se para o Rio. Foi o começo do fim. Alternando formações e alterando a identidade original, o grupo gravou o terceiro (1977) e o quarto (1978) discos para a Philips e se dissolveu. Únicos remanescentes dos velhos tempos, Kleiton e Kledir assumiram-se como dupla estreando em 1979 com uma das melhores músicas do último festival da TV Tupi, Maria-Fumaça. Ao lado de Vira Virou, essa canção puxou as vendagens do primeiro disco da dupla, lançado em 1980 pela Ariola (que acabara de se instalar no Brasil). O LP seguinte fez de Kleiton & Kledir efetivos astros nacionais, com mais de 100 mil cópias vendidas e maciças execuções das músicas Deu pra Ti, Trova e Paixão. De Norte a Sul eles passaram a lotar teatros. O terceiro disco (1983) lançou os hits Nem Pensar e Tô Que Tô, e a faixa O Analista de Bagé foi proibida de tocar no rádio pela censura. Em 1984, veio o quarto disco e a tentativa de conquistar o mercado latino-americano, com a gravação de um LP em espanhol que reuniu os principais sucessos e teve a participação dos argentinos Mercedes Sosa e Leon Gieco. A essa altura, a dupla já dava sinais de desgaste. Há muito tempo longe do Rio Grande do Sul, sua fonte de inspiração, eles finalizaram o enlace com o disco de 1986, último da primeira fase. A volta só se daria dez anos depois, com o CD Dois (1996). No intervalo, retomaram a pesquisa de ritmos gaúchos e lançaram um disco individual cada, sem maior repercussão. Atualmente continuam fazendo shows por todo o Brasil. De qualquer forma, apesar dos eminentes obstáculos surgidos, eles já justificaram sua "passagem" pela MPB com a mais profunda e influente renovação da música gaúcha feita até aqui. Apresentaram, com maestria, um outro Rio Grande ao Brasil. Algo com qualidade e humor. Mas eles estão aqui em nosso site para mostrarem o que andam fazendo e tudo sobre a carreira da dupla que marcou o país. Veja nossa entrevista com Kledir Ramil, que tem muito pra contar ! |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 24/09/2003
1) Qual avaliação que você faz desses 30 anos de carreira dessa parceria com seu irmão Kleiton? É uma história de vida. Na verdade a parceria começou quando nasci. Fomos criados juntos, descobrindo tudo em dupla. Isso produziu uma relação profunda, complexa e, graças a Deus, produtiva. Profissionalmente temos tido uma trajetória muito interessante, passamos por dificuldades, mas alcançamos o sucesso. Separamos e estamos de volta. Tudo isso nos deu uma maturidade e uma certeza de que estamos realizando coisas boas.
4) A mídia dá muito destaque aos artistas e bandas do eixo Rio-São Paulo. Você, em algum momento,sofreram esse bairrismo por serem do sul? No início sim era muito estranho para as pessoas verem dois gaúchos cantando. Depois foram se acostumando.
7) Qual balanço que você faz da música popular brasileira atualmente? O cenário está um pouco sufocado pelos valores exclusivamente de mercado imposto pelas grandes gravadoras. Mas como criaram uma crise enorme e chegaram ao fundo do poço, acredito que a tendência é que as coisas melhorem para projetos mais artísticos. 8) O que vocês estão fazendo no atual momento, paralelamente à música? Recentemente apresentamos um espetáculo na Ópera de Arame, em
Curitiba, com a participação de 20 corais, totalizando 500 vozes. Foi uma noite
inesquecível e a culminação dos shows que temos feito por todo país, sempre com a
presença de corais, em cada cidade que se chega. Também temos feito alguns espetáculos
com orquestra, o que nos dá grande prazer. A Universal acaba de colocar no mercado
vários CDs contendo a obra da primeira fase da dupla, nos anos 80. São 5 discos de
Kleiton & Kledir, que haviam sido lançados apenas em LP, e também os 2 últimos do
Almôndegas (Alhos com Bugalhos e Circo de Marionetes).
Atualmente, estamos terminando de formatar o projeto Letra & Música, um
workshop sobre criação de música popular (com livro e CDRom), que deverá ser
apresentado nas universidades por todo o Brasil. Meu único trabalho solo é
que estou escrevendo crônicas que têm sido publicados por importantes jornais e revistas
como Istoé, O Globo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Zero Hora, Diário
Catarinense, Gazeta do Paraná, Seleções Reader´s Digest e outros. Atualmente tenho uma
coluna semanal no Brazilian Voice (jornal brasileiro nos Estados Unidos), na BrasilNet
(revista brasileira em Londres) e no site O Fuxico, onde toda semana sai uma nova:
www.ofuxico.com.br
|