ENTREVISTA ESPECIAL : Lula Barbosa

Um veterano de festivais

Nome de peso na MPB,  Lula Barbosa é destaque nos palcos da vida com suas composições


           Centenas de composições e conquistas em festivais

Atualmente o nome Lula é sinônimo de otimismo e mudanças no cenário de nosso país. Mas esse que vamos falar é sinônimo de experiência e talento na MPB. Ele já tem mais de cem composições pelo Brasil afora. Só pra ter idéia, algumas delas já foram gravadas por nomes ilustres como Jessé, Fábio Jr., Célia, Jane Duboc, Christian e Ralph, Jair Rodrigues, O Terço, Sérgio Reis, Tania Libertad (México), Pedro Fernández (México), Amaya (Espanha), Katinguelê, Negritude Jr., Só pra Contrariar, Peninha e muitos outros. Estamos falando do mineiro Lula Barbosa, bastante conhecido por suas letras que, mais cedo ou mais tarde, acabam virando sucesso na voz de outros intérpretes.

A carreira artística do cantor começou por volta dos anos 80, nos bares da vida, como se dizia antigamente, época fértil da MPB e da vida noturna no bairro do Bixiga, em São Paulo. Cantou durante alguns anos numa das casas mais famosas e badaladas da época, o Boca da Noite, na Rua Santo Antônio, onde conheceu lá grandes nomes da MPB, como Djavan, Ivan Lins, Eduardo Gudin, César Camargo Mariano, Nelson Cavaquinho, Adoniran Barbosa e muitas outras grandes estrelas, que normalmente após seus espetáculos terminavam a noite ouvindo Lula e seus amigos

Lula Barbosa passou a ser conhecido em todo o Brasil durante esse década, juntamente com o Grupo Tarancon e a cantora Míriam Mirah, quando sua canção Mira Ira foi classificada em segundo lugar no Festival dos Festivais da Rede Globo. Após o festival, gravou Os Tempos são Outros (Sony), com participação de Roberto Menescal, Wagner Tiso e Léo Gandelman. Pela Velas, lançou os CDs Paixão e Fé, interpretando músicas sacras, e A Voz do Violão, indicado para o Prêmio Sharp, no qual faz a releitura de sucessos do cantor e compositor Francisco Alves. Além disso,  em parceria com o amigo Wilson Dakota, lançou Horizonte (1998).

Mas o sucesso de Lula não parou por aí.  O cantor e compositor venceu alguns dos principais festivais de música do país, destacando-se sua participação, em 2000, no Festival MPB da Rede Globo de Televisão, onde recebeu prêmio do júri popular, com a música Brincos, de Amauri Falabella. Atualmente está em fase de divulgação de seu mais recente álbum: Músicas que marcaram à noite, uma coletânea de sucessos nacionais, gravados ao vivo, na voz de Lula que interpreta clássicos como Andança, Travessia, Flor-de-liz, O bêbado e o equilibrista, Eu sei que vou te amar, Somos todos iguais nesta noite, entre outros.

Lula Barbosa também atua no campo da publicidade, como intérprete de premiados jingles, entre eles Kaiser (Aquarela do Brasil), Brahma Chopp (Vai de Branco prá Dar Sorte), Telesp Celular (Andança), Itaú (Amanhã, música de Guilherme Arantes), e faz trilhas para documentários em vídeo para a Verbo Filmes, destacando-se Canção para Zumbi (em parceria com D. Pedro Casaldaglia), Mãos Vazias, Nossa Senhora Aparecida. Estivemos reunidos com esse grande nome da MPB e trouxemos ele aqui para você passar a conhecer um pouco mais sobre sua vida e passagem na música. Confira abaixo tudo na íntegra!

Site: http://www.lulabarbosa.hpg.com.br

E-mail: lulabarbosa@hotmail.com

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 28/01/2003

1) Você é bastante conhecido entre os cantores da MPB por suas belas composições que mais tarde viram sucesso. Você se sente melhor compondo ou interpretando e por que?

Gosto das duas coisas. Criar uma música é um dom muito especial. É um parto: você poder ver o nascimento de uma música é bem legal. Agora interpretá-la é diferente, pois você tem que dar a sua personalidade a uma obra que às vezes não é sua, sem descaracterizá-la, respeitando a obra e o seu autor.

2) Desde que começou na música qual momento que você acredita que tenha sido a melhor fase de sua carreira?

Apesar de todas as dificuldades, acho que no momento atual é mais fácil trabalhar com MPB, pois nos anos 80 as gravadoras tinham verdadeira urticária, quando se falava em MPB. Diziam que os nossos temas eram elitistas e nossas músicas muito complicadas, cheias de acordes etc... Hoje há novas pequenas gravadoras que estão investindo na MPB, como a Velas, a Lua Nova, a Trama etc, tentando suprir uma carência do mercado, dando espaço para os bons e belos trabalhos que não têm espaço na grande mídia.

Nos palcos, mostrando todo seu talento

3) Hoje em dia a mídia liga determinada música ao artista que interpreta, mas não dá importância a quem realmente compôs a canção. Qual sua opinião sobre essa não valorização do compositor?

Existe uma lei que obriga as rádios a divulgarem o nome das obras e seus respectivos autores, mas na maioria das vezes esta lei não é respeitada. Na minha opinião nossos direitos autorais são ainda muito mal geridos e o autor é o mais prejudicado. O sistema de arrecadação é muito complexo e há muita desinformação também. O que eu sei é que com o sucesso de uma música as gravadoras ganham muito, as editoras ganham muito, o cantor ganha com shows, ganha notoriedade, ganha na vendagem dos discos e o compositor na maioria das vezes pode ganhar mais dinheiro apostando com as pessoas que a música que está tocando no rádio é de sua autoria, do que com o direito autoral. Mas sem os compositores e autores, não existiria a música.

4) Quantos CDs você já tem na carreira e qual aquele que você considera o seu mais rico trabalho?

Bom, eu tenho um compacto duplo independente (1981) com Caminhada, de minha autoria e de Vagner Salis; Noite e Nada de viver, só minhas e Dudu Meningite de minha autoria mais Marco Antonio e Mindú. Um compacto simples (RGE - 1984) com as músicas Prá ver nascer o sol e Felina, ambas de minha autoria. Dois LPs Os tempos são outros (CBS - 1986) e Amor demais (Inédito - 1989). Quatro CDs: A voz do violão (Velas - 1994) em homenagem a Francisco Alves, que será relançado no segundo semestre deste ano, com participação de Ivan Lins e Fabio Jr. Horizonte (Independente - 1997). A roda do tempo (Atração - 2000). E Músicas que marcaram a noite (Caravelas - 2001) gravado ao vivo. Acho que todos os trabalhos que fiz foram e são muito importantes para mim, sem distinção nenhuma, pois foram feitos com muito carinho e com muita luta também.

5) Fale pra gente sobre esse seu último trabalho, o CD “Músicas que marcaram a Noite”.

Adorei este trabalho pela simplicidade e pelo desafio de apresentar uma versão toda especial de músicas que marcaram toda a minha geração e de gravar ao vivo sem retoques, sem truques. Participaram desse show músicos geniais: Pichú Borrelli, Dinan Machado e Adriano Busco.

6) Como você está vendo o mercado de novos talentos da MPB atualmente?

Vejo com muita preocupação, pois a maioria dos intérpretes está americanizada demais: muitas Mariah Carey, Whitney Houston, Celine Dion, Laura Fabian. Nada contra, são cantoras maravilhosas em suas respectivas línguas. Só que ao pensar que Elis começou imitando Ângela Maria; Francisco Alves imitava Vicente Celestino, e Roberto Carlos imitava João Gilberto, acho que estamos correndo o risco de perder a nossa sonoridade. A nossa língua portuguesa é tão linda, nossa música tão rica e a nossa poesia, nem se fala.

7) Todo artista que inicia uma nova carreira ou fase tem dificuldades para atingir o reconhecimento do trabalho. Quais os obstáculos você enfrentou ou vem enfrentando em relação a isso?

Encontrei vários, pois a maioria das gravadoras tinha suas sedes no Rio de Janeiro e a grande mídia também. Os grandes artistas da MPB mudaram-se para o Rio de Janeiro e quem não tinha esse trânsito ficou de fora. Uma vez o Ivan Lins me sugeriu que me mudasse para o Rio, mas meu trabalho estava estruturado em São Paulo e fiquei por aqui. O Ivan dizia que, no que se refere à MPB, São Paulo era como um país, muito grande e disperso, e o Rio de Janeiro era o Brasil concentrado num pequeno espaço.

8) Em 2000, no Festival MPB da Rede Globo de Televisão, você recebeu o prêmio do júri popular com a música Brincos. Você considera sua principal canção? Qual foi a experiência que você levou nesse concurso?

Não, a minha música principal é a Mira Ira, 2ª colocada do Festival dos Festivais (1985), mas adorei defender a linda música Brincos do meu amigo Amauri Fallabela. Acho que cumpri bem o meu papel. O resto todo mundo sabe. Aprendi muito com aquilo tudo e “a voz do povo é a voz de Deus”.

Depois do show, agradecendo ao carinho do público

9) Fale pra gente sobre seus próximos projetos dentro da música.

Estava fazendo shows e divulgando meu recente CD, Músicas que marcaram a noite e no segundo semestre do ano passado relançei o CD A voz do violão, homenagem a Francisco Alves, o rei da voz, por ocasião dos 50 anos de aniversário de sua morte. Francisco Alves foi o maior cantor brasileiro do século passado.

10) Mande uma mensagem final para os seus fãs e para as pessoas que ainda não conhecem seu trabalho.

Bem, para quem não me conhece, sou cantor e compositor paulistano e filho de mineiros de Mar de Espanha. Adoro o que faço e por isso mesmo sou feliz. Com muita luta, venho por esses anos todos entoando os sons, as palavras e as coisas em que eu acredito.

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