ENTREVISTA ESPECIAL : Jorge Mautner
O
profeta do Kaos em ação
Profissional versátil, Jorge Mautner
celebra 45 anos de uma carreira vitoriosa e de muitas influências
Poeta, escritor, violinista, pianista, bandolinista, compositor, cineasta, cartunista, artista plástico e cantor. Isso é o que podemos dizer de Jorge Mautner, um profissional, que noutros tempos se chamava de multimídia. Gênio das artes e chamado de mestre por Gilberto Gil e Caetano Veloso, Jorge lançou dez discos ao longo de sua carreira. Com mais de 40 anos de estrada, é considerado um dos compositores mais gravados em vida. Compôs músicas para os discos mais recentes de Gilberto Gil, Zé Ramalho, Kid Abelha e Lulu Santos. Natural do meio jornalístico e literário, gravou seu primeiro LP e mergulhou de vez na música em 1972. Desde então não parou mais. São conquistas atrás de conquistas. Sua última, aconteceu no Grammy de 2003, onde arrebatou através do trabalho Eu não peço Desculpa em parceria com Caetano Veloso, o prêmio de melhor disco da MPB. Esse artista eclético aprendeu a tocar violino aos sete anos com seu padrasto, Henri Müller, primeiro viola da Orquestra Municipal de São Paulo. Na década de 50 já se apresentava em programas de calouro imitando Jorge Veiga, cantor carioca das décadas de 40, 50 e 60, mestre do samba e da música de carnaval, reconhecido pela malandragem que carregava na voz. Ícone da contracultura, assumindo a condição de maldito porque seguia a linha de intelectuais inquietos como Arthur Rimbaud e Antonin Artaud, Mautner iniciou a carreira como como escritor e jornalista, tendo publicado seu primeiro livro, "Deus da Chuva e da Morte", aos 21 anos, em 1962. Em 1965 lançou eu primeiro compacto ("Radioatividade" e "Não Não Não"), e passou a tocar em bares e casas noturnas de São Paulo. Nesse mesmo ano, como "fruto" do seu trabalho, foi exilado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional pela Ditadura Militar (que apreendeu o compacto e o livro Vigarista Jorge) e, segundo o próprio Mautner, um dos primeiros intelectuais a serem punidos, já que os demais somente foram "premiados" quando da decretação do Ato Institucional Número Cinco, em 1968. Mas isso não era obstáculo para Jorge Mautner que começou a produzir mais e mais. Entre as décadas de 60 e 70 morou nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde exerceu intensa atividade literária, musical e cinematográfica. Em 1972 gravou seu primeiro LP (o ao vivo "Para Iluminar a Cidade") e compôs ao lado de Nelson Jacobina - seu parceiro mais constante - o sucesso "Maracatu Atômico", gravado por Gilberto Gil em 1973 e regravado por Chico Science e Nação Zumbi em 1996. Gil gravou outras composições de sua autoria, como "Herói das Estrelas" e "O Rouxinol", Gal Costa registrou "Lágrimas Negras" e até Wanderléa faz parte do rol de intérpretes, com "Ginga da Mandinga". Desde a década de 70 alterna períodos literários e musicais, inovando sempre em sua constante produção. Ao longo de 4 décadas de carreira, Mautner é autor de vários livros: "Deus da Chuva e da Morte" (seu 1º livro, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura, no ano de 1962), "Kaos", "O Vigarista Jorge", "Narciso em Tarde Cinza", "Jardim de Guerra", "Fragmentos do Sabonete", "Panfletos da Nova Era", "Sexo do Crepúsculo", "Fundamentos do Kaos", "Miséria Dourada", "Fragmentos de Sabonete e outros Fragmentos". Sua discografia também é repleta e com destaques como: Para Iluminar a Cidade (1972); Planeta dos Macacos (1972); Mil e Uma Noites de Bagdá (1974); Bomba de Estrelas (1981/1995); Antimaldito (1985); Árvore da Vida (1988); Pedra Bruta (1992); Estilhaços de Paixão (1997). Em 1999, se comemorou seus 40 anos de carreira com o álbum duplo O Ser da Tempestade, onde se encontram seus clássicos como Maracatu Atômico e Vampiro. Seu último trabalho coroou sua vitoriosa carreira com a conquista do Grammy 2003. Trabalho esse em conjunto com Caetano Veloso. Eu não peço Desculpa retrata, de acordo com Mautner, a celebração da enlaçante amizade e de um encontro eterno de assuntos das paixões humanas, profecias políticas, e tudo isso energizado pelos infames e malignos ataques do terror no dia 11 de setembro de 2001 em New York. Vale lembrar que Jorge também é o idealizador do "Kaos" (com K, "trilo/mitologia" iniciada em 1956), pensamento que perdura até hoje gozando de plena saúde na terra de Pindorama e que apregoa a total modificação da humanidade por meio de um movimento revolucionário anarquista pacifista democrático cultural. Para falar sobre sua extensa carreira e tudo que pode vir por aí em 2005, entrevistamos o próprio Jorge Mautner, esse carioca eclético e o profeta do Kaos! Confira na íntegra, essa rica reportagem! Site: Contato: |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 08/12/2004
1) Qual o balanço que você faz desses 45 anos de carreira ? Kaótico, positivo, otimista e fatal.
4) Um profissional multimídia e gênio das artes. Esses dois conceitos fazem aumentar sua responsabilidade em relação às suas composições ? A minha responsabilidade sempre foi demasiada pelo motivo de ser eu o filho do holocausto. Eu seria cinza de forno de crematório de campo de concentração nazista se não tivesse nascido no Brasil. Toda a minha obra literária, musical e minha própria vida tem sido determinada por esta missão. 5) Dentre as diversas áreas que você atua, alguma em especial te dá mais prazer? Por que ? Minha música é a minha literatura cantada. Minhas ocasionais incursões no cinema e na pintura fazem também parte desta mitologia do kaos, e tudo isto se confunde com minha vida. Tudo isto me dá prazer e tudo isto leva a descoberta do outro.
8) Qual análise que você faz sobre a a música que é produzida atualmente ? Com a vitória da democracia e plenitude em quase todo o planeta as formas de criatividade mais inusitadas cheias de multi diversidades estão pipocando por aí. A eletrônica com os batuques e as danças frenéticas fazem as pessoas cantar e dançar ao predominante som do Hip-Hop, do Funk e do Rap além das outras tradicionais e até mesmo folclóricas. É um êxtase retumbante.
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