ENTREVISTA ESPECIAL : Miltinho Edilberto

Um violeiro apaixonado pelo forró

Miltinho Edilberto, violeiro cultuado no meio artístico e profundo pesquisador da cultura popular, dá a entonação certa para o gênero regional

Um caipira de Mirandópolis, divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul e ao lado do Triângulo mineiro e Goiás, tocando forró como os bons nordestinos. Esse é Miltinho Edilberto, violeiro cultuado no meio artístico e respeitado por medalhões da música regional como Xangai, Elomar e Renato Teixeira, de quem é afilhado musical e parceiro. O artista é um dos precursores do forró universitário, um movimento que, no final dos anos 90, contagiou o eixo Rio - São Paulo e se espalhou por todo o país revelando grupos como Falamansa, Rastapé, entre outros. Miltinho toca viola de 10 cordas e mistura forró com uma entonação caipira autoral como ninguém. Aos poucos, vai conquistando seu espaço merecido entre o povo.

Além de músico, o cantor é multi-instrumentista e desenvolve também um trabalho bem interessante de pesquisa do folclore brasileiro. No palco, mostra uma mistura de xaxado, baião e embolada, acrescida de uma dose de picardia. Até alcançar popularidade, andou pelo interior do país participando de festivais de música. A primeira conquista foi o circuito universitário paulista. Não demorou muito para ser considerado o rei do forró da noite paulistana, reunindo cerca de mil e quinhentas pessoas por apresentação em casas de espetáculos.

Miltinho Edilberto iniciou sua carreira cantando na escola. Por volta dos seis anos de idade, começou a cantar, nas festas cívicas do colégio canções de Roberto Carlos e já esboçava algumas composições, estimulado pela mãe, Dona Tereza. Integrou, também, aos 14 anos, uma orquestra de baile no interior, com repertório que ia do jazz ao samba. Só começou a tocar um instrumento por volta dos 15 anos. Era o violão, que aprendeu a partir de algumas noções ensinadas por amigos em sua cidade natal.

Apesar de começar a compor aos 14 anos, sua obra só começou mesmo a ser construída por volta de 1980. As participações em festivais de músicas impulsionaram sua carreira de compositor, pois mesmo longe da mídia conseguiu ser conhecido por músicas como Cantiga de Ajuda” e Viola Apocalíptica. Ele foi parceiro de talentos como Genésio Tocantins, Juraíldes da Cruz, Dércio Marques e outros tantos bardos sertanejos.

Considerado um dos mais completos violeiros do país, Miltinho já teve suas músicas gravadas por muita gente boa por aí. Anaí Rosa, Maria Bethânia, Maurício Tizumba, Sérgio Reis , Falamansa ,Tânia Alves, Trio Nordestino, Trio Sabiá, Trio Virgulino, Jackson Antunes, Saulo Laranjeira, Anaí Rosa, Bicho de Pé, Rastapé,  Paulinho Pedra Azul, Dércio Marques são alguns desses nomes que incorporaram a obra do músico. Como compositor conquistou, com maestria, a admiração da crítica especializada ao ganhar o Prêmio Sharp de Música em 1998, na categoria Revelação Regional (atual Prêmio TIM).

Miltinho tem três CDs gravados. O primeiro, Viola Que Fala, de 98, tinha pouco de forró. Era um trabalho de música sertaneja de raiz, que lhe rendeu o Prêmio Sharp daquele ano na categoria regional, conforme já foi informado acima. Prestigiado por essa vitória, ainda em 98, Maria Bethânia gravou, do compositor, a romântica Não Tenha Medo.  Em abril de 99 lançou Como Alcançar Uma Estrela, gravado ao vivo, esse sim seguindo a tradição de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Marinês e Trio Nordestino. Produzido por Arnaldo Saccomani, o disco - resultado de 15 anos de pesquisas pelo Brasil - é cheio de letras politicamente corretas. Um exemplo é Heroína, na qual o músico diz que a droga da paixão é muito mais forte que qualquer outra.

Em 2001 gravou o terceiro, CD, Feito Brasileiro, com as participações do Trio Virgulino, Maria Bethânia e o Grupo Falamansa, com quem gravou seu maior sucesso No Balanço do Busão, incluída na novela “O Clone” (Rede Globo). A inserção da música nessa trilha sonora valeu a Miltinho o convite para participar de um capítulo desta novela que já foi exibida em mais de quinze países como EUA, URSS, Japão, México, Portugal, Espanha, Argentina e vários do Oriente Médio.

Para falar um pouco mais sobre sua vasta carreira e experiência na música trazemos aqui o próprio Miltinho. Confira o que ele tem para nos contar !

Site: http://www.miltinhoedilberto.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 16/07/2009

1) Qual o balanço que você faz de toda sua vasta carreira até aqui ?

Além do "balanço do busão"(rs). Eu creio que a viola é um instrumento riquíssimo e ela, a verdadeira "Estrela" dos meus shows e cantorias, é que abriu muitas portas...seja no Caipira Raíz, no "Forró de Viola" ou na viola Universal que empresta sua sonoridade e magia a vários gêneros musicais. Acima de qualquer definição sobre o violeiro e o compositor, eu me considero um pesquisador da Cultura popular... O violeiro neo-caipira e o apaixonado por forró são partes de um trabalho de concepção mais ampla.

2) Você foi um dos criadores do movimento batizado de "Forró Universitário". Como se sentiu diante desse feito ?

O termo "Forró Universitário", forjado pela própria mídia para rotular o movimento comportamental que se criou em torno do Forró, serve apenas para definir o público... Antigamente o forró era reduto apenas de Nordestinos e nortistas (Os verdadeiros criadores) e havia um preconceito muito grande quando se chamava de "Risca-faca", Rela-bucho...etc Com esse movimento que reuniu também muitos universitários nas casa da zona sul de São Paulo (Projeto Equilibrio, KVA...), e com a descoberta do filão pela mídia fonográfica, logo foi batizado de "Universitário"...mas o forró autentico é o "Pé- de- serra", ao contrário do forró estilizado e comercial que assola o Brasil, e que vem do próprio berço Nordestino (Infelizmente).

3) Desde a tradicional Viola Caipira, que o consagrou como um dos principais instrumentistas do gênero, até o Forró pé-de-Serra, passando por Oficinas e apresentações sobre Folclore Brasileiro. Toda essa abrangência lhe caracterizou como um artista bastante completo. Você projetou tudo isso para chegar a esse patamar ?

Na verdade eu não projetei mas isto me projetou...á medida que vamos conhecendo a nossa cultura, e percebendo que é fundamental conhecermos nossa própria lingua, a riqueza e diversidade do nosso País, só uma pessoa alienada e Americanizada (Infelismente, a maioria) não percebe o tesouro que temos na mão. A viola transcende a barreira do regionalismo, assim como o forró hoje é patrimonio nacional, legado deixado pelos grandes mestres como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro...Violeiros como Tião Carreiro, Renato Andrade, e as grandes duplas da história da musica caipira..A universalidae de um Tom Jobim, a Cultura imensa de Chico Buarque...nosso chorinho, nosso frevo, a música e o dialeto de Elomar Figueira... Acho que a gente é o que a gente come, o que a gente vê, e o que a gente ouve... Alimente-se de boa musica!...recuse o lixo sonoro pasteurizado e sem criatividade das paradas de "Sucesso"!.

4) Você é dono de muita habilidade na viola. Podemos dizer que essa é sua principal paixão ?

Quando peguei uma viola pela primeira vez, eu já tinha 18 anos de idade...fiquei fascinado com a sonoridade e o desafio de uma nova afinação, técnica...e antes que eu a tocasse, ela me tocou. Acho que os violonistas deveriam "brincar com a viola", para ampliar horizontes e abrir novas perspectivas sonoras e estéticas dentro do universo musical. Quando comecei a empunhar a viola como arma e bandeira, ela estava quase em extinção...hoje temos dezenas de grandes violeiros atuantes e todo dia surge um novo companheiro para levar a tradição adiante.

5) Muita gente boa já gravou suas canções e até na novela das oito você foi tocar. O que mais falta, na sua opinião, pra dar ainda mais visibilidade à sua música ?

Para um artista que busca reconhecimento e destaque na mídia, certamente ter uma música na trilha da "Novela da Globo" é um dos ápices de uma carreira. No caso, minha musica "No balanço do Busão", com participação do "Falamansa", foi trilha da novela "O Clone", exibida em mais de 30 países. Mas eu creio que a maioria dos meios de comunicação de massa (Rádios, TVs) são viciados no imediatismo, no modismo criado por uma máfia da mídia, sangue- suga, superficial, mercenária, sem nenhum conteúdo cultural, ético e sem nenhuma responsabilidade sócio educativa...tanto é que não é preciso ser muito esperto para perceber que 60% da programação radiofônica é lixo descartável Pop em Inglês, e o que resta é também subproduto brasileiro com pouquissima qualidade. È um paradoxo, pois o mundo inteiro sabe que a nossa música e nossos artistas estão entre os melhores do planeta.

6) Artistas consagrados como Maria Bethânia não cansam de elogiar o seu trabalho dando provas suficientes da sua importância na música. Esperava um dia que tivesse todo esse reconhecimento da classe artística ?

Ter musicas gravadas por artistas do porte de Maria Bethânia é mais que um reconhecimento, é uma benção... Aliás, ela tranforma tudo em ouro quando canta. Tenho muitos e queridos amigos no meio artístico, e noto que todos os grandes artistas, os verdadeiramente talentosos são humildes...Já vi também "estrelas" de nariz empinado e que, sem a produção "Róliudiana" são pessoas vazias, sem talento, sem conteúdo, sem afinação e principalmente sem a humildade caracterísca dos verdadeiros mestres.

7) Qual sua opinião sobre a música regional e o forró atual ?

A musica regional, infelismente ofuscada pelo estilo "Sertanojo" ou "Breganejo", continua substindo e sobrevivendo á globalização/Bobalização, e tem espaços específicos na mídia como "Sr Brasil" com o mestre dos mestres Rolando Boldrin (TV Cultura), "Viola, minha Viola" com a heróica Inesita Barroso, "Arrumação" com Saulo Laranjeira (Rede Minas), "Nos braços da Viola"(TV Brasil/RJ). O forró atual se divide em 2 universos: O Verdadeiro Pé-de-serra que subsiste em casas especializadas, e o que toca no rádio, na novela, nos programas populares e vende milhões de cópias que é o forró eletronico, plastificado, adulterado...e que como folclorista afirmo com segurança:-Nem forró isso é!

8) A que você atribui a falta de interesse da mídia a verdadeira música regional e o tradicional forró pé de serra?

Atribuo á burrice, á falta de visão, á gana pela grana, á falta de cultura, de informação e principalmente falta de respeito aos pobres ouvidos que sentem saudades da época de ouro do rádio... aos jovens que sua formação musical adulterada e restritaá imposição deste cartel sem escrúpulos, que sexualiza nossas crianças através de letras impróprias e sem nenhum parentesco com a boa música. Creio que os" todo-poderosos" das grandes gravadoras estão sentindo o Tsunami da Internet, revirando e destruindo todos os conceitos e o conforto desses burocratas que entendem muito de comércio e pouquissimo de arte e Cultura.

9) Quais seus próximos planos dentro da música ?

Para não depender de gravadoras-patrões, de produtores comerciais...montei meu próprio estúdio e a "CULTUR@VISTA Produções"onde estou produzindo além do meu próximo CD, trilhas, jingles e principalmente documentários que visam o resgate, a documentação e revitalização de nossas tradições e valores culturais como o folclore, as lendas e os artistas anônimos e geniais que encontro pelo Brasil sem fim.

10) Deixe um recado final para o seu grande público que te acompanha desde longa data.

Agradeço aos que compartilham minhas idéias, esclareço aos que não sabiam, e convido a todos para que visitem minhas páginas (Meus sítios...rs) onde teremos contato e agenda sempre atualizados... Visitem, adicionem e me mandem notícias, músicas, poesias, fotos etc.  Abraço Sonoro a todos !

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