ENTREVISTA ESPECIAL :    Natiruts

Um reggae autêntico e sofisticado

Natiruts mostra, a cada trabalho, a fórmula para estar sempre em paz com a música e o sucesso

Natiruts: um dos expoentes do reggae

Lá do Planalto Central uma banda de de “reggae roots” tem representado com dignidade o gênero no país e arrastado multidões por onde passa. Estamos falando nada mais nada menos do Natiruts,  originalmente chamado de Nativus, que, desde 1997 quando surgiu, vem sendo uma das principais vozes do reggae de raiz brasileiro. Juntos, Alexandre Carlo (guitarra e vocal), Izabella Rocha (vocal), Juninho (bateria), Luís Maurício (baixo e vocal) e Bruno Dourado (percussão e vocal) têm dado uma pintada a mais no movimento, sofisticando e politizando o teor das letras a cada novo disco e mostrando com isso que vieram pra ficar de vez.

Essa banda de reggae de Brasília, como quase todas as outras bandas do mundo, nasceu de uma brincadeira entre amigos. Por volta de 1994, Alexandre e Juninho tocavam no esquema violão e bongô nas festas de amigos, mas a coisa foi ficando séria. Alexandre, que era estudante de computação na Universidade de Brasília, conheceu Luís e Bruno do time de futebol da UnB. Logo depois, juntaram-se à banda André Carneiro e Izabella. André saiu alguns shows depois e, em seu lugar, entrou Kiko Péres.

A brincadeira começou despretensiosamente, mas a cada ano o grupo tomava corpo e o sucesso era apenas questão de tempo. Em 1997, depois de algumas apresentações e de muito ensaio e ralação durante noites e noites, estava então formada a banda Nativus (nome inicial). Para brindar essa estréia, o grupo lançou seu primeiro cd: "Nativus" no ano seguinte.  Foi apenas o começo de uma grande estrada. Com a música "Presente de um Beija-Flor", os "Nativus"surgiu na música brasileira, conquistando um forte carisma do público. Outros sucessos, como “Liberdade pra Dentro da Cabeça”, emplacaram rapidamente levando os regueiros do planalto central às paradas de sucesso em todas as rádios do Brasil. 

Já em 2000, às vésperas de lançar seu segundo trabalho, a banda passou por um momento delicado. Perdeu seus direitos sobre o antigo nome e teve de ser rebatizado e, sem qualquer ressentimento, mostraram mais firmeza do propósito musical. O segundo disco Povo brasileiro flertou com a MPB e teve bastante repercussão, assim como Verbalize (2001), aproximou-se do dub e do rock e mostrou que o grupo tem um senso muito grande de inovação musical e evolução, se tornando um grande expoente do reggae no país. O mais recente CD da banda, intitulado Natiruts 4 vem recheado de composições inéditas e que já estão na boca da galera.

Mas o Natiruts não perdeu a pegada e vem se firmando com naturalidade nesse mercado competitivo. A cada álbum o grupo se consolida ainda mais. Vale lembrar que em relação aos integrantes da banda, atualmente o guitarrista carioca Tonho Gerbara, ex-Baía e os Rockboys está ocupando o posto de Kiko Péres, agora artista solo prestes a lançar o segundo álbum. Ele, juntamente com Tom Capone, é produtor do novo trabalho do Natiruts. Também faz parte da família o tecladista Bruno Wambier, músico acompanhante do sexteto em estúdios e palcos.

Estivemos reunidos com o vocalista Alexandre Carlo que tem muitas novidades pra contar. Confira essa entrevista na íntegra !

Site

http://wwwbandanatiruts.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 06/08/2004

1) Vocês são considerados uma das principais bandas de reggae do país. Como vocês lidam com essa responsabilidade ?

Na verdade a responsabilidade vem antes do reconhecimento. Vem na hora de fazermos as letras, os arranjos. Estamos sempre buscando inserir novas idéias e principalmente mesclar outros estilos ao nosso reggae e mostrar que isso pode ser feito sem se perder a identidade reggae. Atingimos hoje uma quantidade de pessoas que nem temos a noção exata. Que vêem nossa musica não apenas como diversão mas também como estilo de vida. Esse é o universo da nossa responsabilidade.

2) Qual a fórmula que a banda encontrou para estar sempre em paz, com a música e com o sucesso ?

É não ter medo de ser autêntico. É colocar nas músicas o que realmente se está sentindo.

A bela vocalista Izabella numa apresentação

3) Vocês estão na ativa desde 1996. Passados 8 anos, o que mudou no grupo musicalmente falando ?

A raiz continua a mesma e não mudará nunca. Mas a cada trabalho é inserida a visão atual sobre todas as coisas ao redor, são colocadas as influências adquiridas recentemente, que se unem as antigas. Isso faz com que a banda consiga soar nova e ao mesmo tempo com a identidade do começo.

Show recheado de dedicação e qualidade

4) A sociedade costuma associar o reggae à maconha. Você acha que isso faz com que a mídia não dê tanta atenção ao gênero como mereceria ?

É, infelizmente a associação que se faz é a mais banal possível. Tipo aquele cara que curte ficar “doidão” vendo a vida passar. Não sei se é proposital para ridicularizar a idéia principal. Isso contraria totalmente o verdadeiro discurso pregado pelo reggae sobre o assunto que é: - a revisão das leis sobre o uso da maconha; - a distorção que é feita por outros dos verdadeiros efeitos da erva sobre o homem; - o direito de um povo de ter sua própria cultura e sua religião, no caso os Rastafaris; Imagine se proibissem os escoceses de tomarem uísque, os franceses de tomarem vinho; Isso tem muito haver com questões históricas, colonização, interesses políticos. Mas a verdade sempre chega com o tempo. Trabalharemos por ela hoje ou para as próximas gerações.

5) Logo no CD de estréia da banda em uma grande gravadora foram vendidos mais de 250 mil cópias. Vocês estavam confiantes que estourariam tão depressa no mercado?

Não. Foi uma surpresa a aceitação do público.

6) O que você acha que está faltando para o reggae ter uma maior penetração nas rádios de todo o país ?

Essa é uma pergunta difícil de responder por que nós por exemplo fazemos shows pelo Brasil inteiro sempre com público superior a cinco mil pessoas nas capitais igualmente as ótimas bandas de outros estilos e no entanto nunca somos lembrados nas ocasiões em que se reúne os artistas que se destacam na música brasileira. Exceto na MTV. O Natiruts já não precisa de confete mas vemos bandas de reggae com trabalho de primeira qualidade e vendagens expressivas para o mercado independente que não tem seu valor reconhecido pelo fato de fazerem reggae. Ainda bem que fazemos reggae por ser de coração pois aí essas coisas todas ficarão sempre em segundo plano na nossa concepção de felicidade. Estamos organizados e criando o próprio espaço para o Natiruts e para o reggae no Brasil.

7) Vocês já estão com 4 discos na bagagem. Desses trabalhos qual aquele que sintetiza bem o trabalho do grupo ?

Acho o último. No primeiro nós queríamos um ritmo mais para linha Bob Marley deixando a brasilidade para as melodias e letras. No segundo decidimos querer dar ainda mais uma cara própria para o nosso reggae. Trabalhamos arranjos e harmonias direcionadas para música brasileira. Fomos criticados pelos que se auto-intitulam “regueiros de raiz”, mas hoje entedemos que tudo que é novo assusta um pouco. No terceiro entramos numa de misturar com rock. Apesar de todas as músicas serem minhas é o que menos gosto. E o quarto a gente resolveu fazer mesclando tudo que já tínhamos feito. Arranjamos e gravamos tudo em três meses para não ter muito tempo de ficar mexendo. Gostei muito do resultado.

8) Fale pra gente sobre esse quinto CD de inéditas que será lançado ainda esse ano?

Na real não queremos adiantar muito o que vai ser. O certo é que esse quinto disco será diferente dos outros quatro que por sua vez são diferentes entre si. Será lançado no segundo semestre desse ano.

9) Quais os próximos planos da banda dentro da música ? Passa pela cabeça a produção de um acústico ?

O formato Acústico tem muito haver com a banda. Mas esse é um projeto para um futuro mais distante. O que está nos planos a curto prazo é um DVD ao vivo.

10) Deixe uma mensagem pra todos os fãs que acompanham o Natiruts desde longa data.

Tudo de bom para vocês e continuem gostando da nossa música somente pela nossa música. Inté.

A galera dando o recado final

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