ENTREVISTA
ESPECIAL : Netinho
Um
artista único e iluminado
Netinho, considerado o rei da Axé
music, reaparece no mercado com uma produção mágica para comemorar seus 20 anos de
carreira
Peça fundamental do movimento da axé music e que conseguiu atingir num único CD mais de 2 milhões de cópias. Esse é Netinho, que depois de um tempo afastado dos holofotes da mídia, está de volta e com aquele mesmo pique do começo de sua trajetória. Para marcar essa nova fase e comemorar os 20 anos de carreira, o cantor acaba de lançar o novo CD/DVD Ao Vivo, Caixa Mágica, que teve seu registro feito em um hotel em Aracajú. O trabalho tem repertório inédito, composto por 20 canções de compositores baianos. Entre as participações especiais estão Jorge Vercillo, na faixa Himalaia, Alinne Rosa em A Vida é Festa, D'Black em Pedindo pra voltar, Tomate em Impossível e Saulo Fernandes, na música Paixão Não Tem Cura. Sem dúvida alguma uma super produção de um registro único e histórico, rico em interpretação e encantamento e que faz jus ao cantor que dominou as execuções radiofônicas e vendas da música popular brasileira na primeira metade dos anos 90. Ernesto de Souza Andrade Junior, o Netinho, nasceu em 12 de julho de 1966 no interior da Bahia, na cidade de Santo Antonio de Jesus. Ainda criança, mudou-se com a família para a capital Salvador e, aos 16 anos, já freqüentava o circuito noturno cantando clássicos da MPB. Naquela mesma época, os carnavalescos do Bloco Beijo abriram testes para contratar um novo cantor. Netinho passou no concurso e começou a excursionar com o grupo por todo o Nordeste. A estréia em disco se deu em 1988, com o trabalho que incluiu o sucesso Beijo na Boca. As constantes execuções radiofônicas iniciaram a ampliação do público da Banda Beijo para todo o país. Em 1989, o álbum Sem Repressão apostou na diversidade rítmica em canções como Jeito e Fome Careta. No ano seguinte, Netinho e companhia lançaram moda ao levar um trio elétrico para a Itália, durante a realização da Copa do Mundo de futebol. E foi na Europa que aconteceu o primeiro indício da carreira solo do vocalista: após o torneio, ele fez uma mini turnê, sozinho, por cidades como Roma e Turim. Na volta ao Brasil, a Banda Beijo ainda soltou Eu Quero Beijo (1990), Badameiro (1991) e Aconteceu (1992), antes que Netinho aceitasse a proposta de sua gravadora e se desligasse do grupo. A primeira investida do baiano em trilhas solitárias chegou ao mercado em 1993 e emplacou, de cara, um grande sucesso: Menina (antigo hit de Paulinho Nogueira). Nas temporadas seguintes, aportaram nas lojas Nada Vai Nos Separar, cujo destaque foi a regravação do forró Gostoso Demais, de Dominguinhos e Nando Cordel e Netinho com Preciso de Você, que viraria um dos hinos da axé music. Foi com Ao Vivo (1996), entretanto, que Netinho se consolidou como um expoente da música popular. O disco, cujo repertório incluiu hits do passado e o arrasa-quarteirão Milla, vendeu mais de 2 milhão de cópias e engrandeceu a carreira do artista até em terras distantes como África, Itália e Portugal. Com o movimento da música carnavalesca baiana já em fase de desaceleração, Netinho produziu, em 1997, Me Leva, que rendeu disco de platina e emplacou Fim de Semana e Pra Te Ter Aqui e, um ano mais tarde, Rádio Brasil. A brusca queda das vendagens em terreno nacional levou o vocalista a explorar ainda mais os mercados exteriores. A investida deu resultado particularmente em Portugal, onde uma turnê rendeu até vídeo gravado no Coliseu de Lisboa. Desde então, Netinho se dividiu entre os públicos brasileiro e europeu nos lançamentos e turnês. Foi assim, por exemplo, com os álbuns Clareou (1999) e o duplo Corpo & Cabeça (2000). Em 2001, ele organizou a primeira micareta (carnaval fora de época) de Portugal, que atraiu mais de 200mil pessoas em apenas um final de semana. 2003 foi um período atípico para o cantor. Ele passou todo o ano afastado de atividades profissionais. Foi um momento de reclusão e reencontro com sua vida pessoal, que o obrigou a se afastar da mídia. Muitas pessoas achavam que o cantor havia desistido da Axé Music, mas era apenas uma má impressão. Em 2004, ele resolveu gravar um CD com composições próprias, depois de um reencontro com o violão e com antigos parceiros de música. O fruto desse retorno se deu em 2005 com o lançamento pela EMI Music do CD pop Outra Versão, com direção musical assinada por Marcelo Sussekind. É bom lembrar que a axé musica estava sendo deixada de lado temporariamente para realizar um sonho do cantor de lançar um CD voltado pro mercado pop e com composições próprias. A música Abra a Sua Cabeça foi o carro-chefe desse trabalho. Sentindo a necessidade de registrar toda a sua carreira em DVD, Netinho começou, logo em seguida a arquitetar este projeto. Com isso, em dezembro de 2005, deu início aos ensaios para a gravação do primeiro DVD da sua carreira. Em fevereiro de 2006, Netinho filmou seu primeiro DVD na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia, assinando a concepção, o roteiro e a direção do trabalho. Foi montada uma super produção contando com a participação de convidados como Ivete Sangalo e o grupo Ilê Ayê. A partir daí, o cantor baiano retomou os shows pelo Brasil em palco e em trio elétrico. No dia 12 de julho o primeiro single, Balanço Legal, chegou às rádios. Em dezembro, gravou a música Tá Bom, numa perceria com Carlinhos Brown, e lançando nas rádios para o Carnaval 2007. O cantor estava com pique total e mostrando que a Axé Music ainda fazia parte de sua vida. Em 2007, por exemplo, retornou ao Carnaval da Bahia puxando o Bloco Trimix por três dias no Circuito Barra/Ondina. Após o carnaval, mais um single estoura na rádio. Trata-se de Onde Você Se Esconde?, de uma composição própria, gravada em seu DVD com participação de Ivete Sangalo. Nesse mesmo ano voltou a participar das grandes micaretas do Brasil como Fortal, Carnatal, Micarande, etc. Levou, inclusive, seu show à África para participar do Festival da Baía das Gatas, no arquipélago de São Vicente. O show foi considerado o melhor do Festival pela produção do evento e público. No ano seguinte o cantor voltou a desfilar no Carnaval da Bahia, no comando dos Blocos Trimix e Tio Bacana recebendo o prêmio de Melhor Puxador de Bloco da rádio Itapoan FM. Após o Carnaval, levou seu show aos Estados Unidos numa mini tour em Boston, Miami e Denbury. Na volta ao Brasil lançou a música Impossível, nas rádios. Para coroar esse momento, ele ressurgiu a mídia com o CD, Minha Praia, pela gravadora Som Livre. O primeiro single Caça e Caçador chegou as rádios com força total e mostrou que Netinho ainda brilhava pelos palcos do Brasil. O Carnaval está chegando e nada melhor que entrevistarmos Netinho, que tem tudo haver com esse movimento em Salvador. Fizemos uma entrevista franca e direta, onde Netinho revela muitas outras facetas de sua vida e seu mais novo trabalho, Caixa Mágica. Confira ! |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 28/01/2010
1) Qual o balanço que você faz de sua vasta carreira até aqui ? Faço um balanço muito positivo. Completei agora em novembro 20 anos de carreira, desde a gravação do primeiro LP com a Banda Beijo. Tenho 19 Cd's lançados, um DVD, e me preparo para lançar agora no início do ano meu novo DVD/CD "Netinho e a Caixa Mágica". Durante esta caminhada eu pude colecionar dezenas de sucessos nacionais e discos de diamante, platina e ouro aqui no Brasil e também em Portugal. Me orgulho de tudo que já fiz e de estar na estrada produzindo, cantando e levando a música baiana para o mundo. Entre os acertos, dúvidas e erros, faria tudo outra vez, da mesma maneira.
4) Como avalia a música baiana atual? Vivemos uma fase boa, criativa, com a maioria dos artistas buscando elevar o nível do seu trabalho com boas produções e boas canções. Acho esta postura fundamental para que possamos, mais uma vez, ter a música baiana entre as mais tocadas no Brasil. 5) Como você define seu momento atual? Podemos dizer que você está de volta as suas origens ou sua música está mais voltada para o mercado pop ? Meu momento atual é de criatividade e voltado para a música que sempre fiz. Meu axé sempre teve um sotaque mais pop nos arranjos das músicas, no meu comportamento em palco e no meu jeito de cantar. Isso sempre, desde os tempos da Banda Beijo. Nunca abandonei minhas origens. Em todos os meus discos, incluindo aí os que gravei com a Banda Beijo, sempre gravei baladas românticas em meio às músicas de axé. Essa é a minha característica que mantenho até hoje.
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