ENTREVISTA ESPECIAL : Nação Zumbi

O expoente do mangue beat busca novos horizontes

Banda criada pelo saudoso Chico Science continua na ativa e promete alçar novos vôos em breve

A cidade de Olinda-Pe teve a honra de, em 1990, trazer para o mundo da música 2 expoentes do estilo que se convencionou chamar de "Mangue Beat", gênero marcado pela mescla de ritmos tradicionais pernambucanos, como o coco e o maracatu, com elementos do rock.  Trata-se de Chico Science & Nação Zumbi. O ponta pé inicial de todo esse movimento foi dado por Chico, que co-fundou também a banda Mundo Livre S/A. O cantor e compositor pernambucano teve, em fevereiro de 1997, sua carreira precocemente abortada por um acidente de carro. Porém, deixou todo um legado através de sua banda Nação Zumbi e dois discos gravados: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia. Uma herança que gerou muitos frutos e enriqueceu ainda mais o atual cenário nordestino. Sua contribuição foi tão importante para os rumos da música que até hoje Chico é lembrado e reverenciado por onde o Nação Zumbi se apresenta. Prova de um trabalho digno e sério à frente do mangue beat.

A Nação Zumbi foi resultado da união de alguns componentes da banda de rock pós-punk Loustal com o bloco de samba-reggae Lamento Negro. O cantor e percussionista Otto (ex- Mundo Livre S/A) fez parte da banda, no início da carreira, não chegando a participar da gravação do primeiro disco. Na primeira formação constavam Chico Science (voz), Lúcio Maia (guitarra), Alexandre Dengue (baixo), Gilmar Bolla (tambor), Gira (tambor), Canhoto (caixa), Toca Ogam (percussão) e Otto ( percussão).   O grupo fez a sua primeira apresentação no espaço Oásis, em Olinda, no ano de 1991,em uma festa chamada Black Planet. Em 1993, ao lado da banda, também pernambucana, Mundo Livre S/A, realizou sua primeira excursão na região Sudeste, tocando em São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG). Devido ao bom acolhimento, tanto da crítica quanto do público, no ano seguinte, o grupo foi convidado por Roberto Frejat a participar do CD "Rei", em homenagem a Roberto Carlos, no qual interpretou Todos estão surdos. Neste mesmo ano, a banda chamou a atenção do público e da crítica em sua apresentação, na primeira edição do festival Abril pro Rock.

No ano de 1994, assinou com a Sony Music e lançou, pelo selo Chãos, o CD Da lama ao caos. Produzido por Liminha, o disco teve como destaque a composição A praieira (Chico Science), incluída na trilha sonora da novela Tropicaliente, da Rede Globo. Ainda deste disco, destacaram-se as faixas Da lama ao caos (Chico Science), Lixo do mangue (Lúcio Maia), Maracatu de trio certeiro (Chico Science e Jorge du Peixe), Monólogo ao pé do ouvido (Chico Science) e Rios, ponte & overdrives, de autoria de Chico Science e Zero Quatro. Outra participação importante no CD foi a de Chico Neves, além do próprio produtor Liminha em uma das faixas. No encarte do disco foi publicado o texto Caranguejos com cérebro, primeiro manifesto Mangue redigido por Fred Zero Quatro (do Grupo Mundo Livre S/A) e pelo jornalista Renato L. No ano seguinte, o grupo fez sua primeira excursão ao exterior. Em Nova York, dividiu o palco com Gilberto Gil em show no Central Park.

Apresentou-se, também, em diversas cidades européias, como Bruxelas, Berlim, com destaque para o tradicional Festival de Montreaux. Em 1996, lançou Afrociberdelia", neologismo resultante da soma das palavras "afro"', "cibernética'' e "psicodelia". Produzido pelo DJ paulista Eduardo Bidlowisk, contou com as participações especiais de Gilberto Gil, fã declarado do grupo, em Macô, e a de Marcelo D2 (Planet Hemp), na mesma faixa. O disco também contou com as participações de Fred Zero Quatro, Marcelo Lobato, Lucas Santtana, Mário Caldato Jr., Hugo Hori (Karnak), Serginho Trombone, Tiquinho e Bidinho. Ainda nesse ano, gravou a trilha sonora do filme O baile perfumado e fez uma nova turnê, passando por cidades da Europa, dos Estados Unidos e por quase todo o território brasileiro.

Com a morte prematura de Chico Science em 1997, a Nação Zumbi teve que encontrar forças e se reerguer. Afinal, tinham todo um legado para representar na música. Com a nova formação que incluia Jorge Du Peixe ( percussão e voz), em abril deste mesmo ano, em espírito de luto, o grupo voltou a se apresentar no festival Abril Pro Rock, em show que contou com a participação de Max Cavalera (ex-Sepultura e que comandava, na ocasião, o grupo Soufly). Neste mesmo ano, lançou o CD duplo CSNZ. O primeiro disco continha cinco músicas inéditas com Jorge Du Peixe no vocal e mais cinco ao vivo ainda com Chico Science.

Já o segundo disco contou com remixagens de sucessos da banda feitas por convidados, como o ex-Talking Heads David Byrne, em Rios, pontes e overdrives (Chico Science e Zero Quatro), e de Arto Lindsay, em O cidadão do mundo. Em 1999, a banda gravou a música O fole roncou na coletânea Baião de viramundo, disco só com composições de Luiz Gonzaga. Em 2000, gravou Rádio S.AMB.A. - Serviço Ambulante da Afrociberdelia. Produzido pelo próprio grupo, foi o primeiro CD só com músicas inéditas e com Jorge Du Peixe cantando em todas as faixas após o falecimento de Chico Science. O disco contou com a participação especial do astro norte-americano do funk Afrika Bambaataa, Fred Zero Quatro, Maciel Salu (Orchestra Santa Massa), Éder "O" Rocha (Mestre Ambrósio), Bocato e Lia de Itamaracá. Vale lembrar que após a morte de Chico Science, o grupo passou a atuar apenas com o nome Nação Zumbi.

No ano de 2002, a banda lançou o disco Nação Zumbi, produzido por Arto Lindsay, pela gravadora Trama. O CD trouxe a participação especial de Dona Cila (vendedora de tapioca e cantora de coco, 63 anos) que interpretou "Caldo de cana" e, ainda, as participações de Marcos Matias, Nina Miranda, Scott Hard, Ganja Man, Dj Marcelinho, Fernando Catatau, Rodrigo Brandão e John Medeski. Ainda em 2002, ao lado de Otto, Fred 04, B Negão e o rapper paulista Sabotage, entre outros, participou da coletânea Instituto - Coleção Nacional. No ano seguinte, fez lançamento do novo disco no Canecão e, na ocasião, contou com as participações especiais de Marcelo Yuka (ex-baterista do Rappa), B Negão (Planet Hemp), Otto (Ex- Mundo Livre S/A) e o rapper Black Alien. Ainda em 2003, o grupo partiu para uma turnê internacional por vários países da Europa, entre eles, Portugal, Espanha e França.

Em 2005, pela gravadora Trama, a banda  lançou o DVD Propagando, com o qual comemorou dez anos de carreira. O DVD traz vários sucessos de várias da carreira, além de clipes, making of e um documentário sobre a turnê européia da banda. Neste mesmo ano lançou o CD Futura. Em 2007, com produção de Mário Caldato, foi lançado, pela gravadora Deckdisc, o disco Fome de tudo. Do CD destacaram-se as faixas Olimpo" e Bossa nostra, ambas com grande repercussão na midia. Deve-se destacar que, ainda nesse ano, a banda recebeu homenagem do prêmio Multishow, do canal da Globosat, de mesmo nome.

O Nação Zumbi continua na ativa, se apresentando pelo país a fora e preparando muitas novidades para o próximo ano. Confira, na íntegra, a entrevista que fizemos com o baixista Dengue !

Site: http://www.nacaozumbi.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 28/01/2011

1) Qual o balanço que vocês fazem da carreira da banda até aqui ?

Degrau a degrau sempre subindo. Não tão rapido quanto gostariamos e nem tão lento a ponto de por fim a banda.

2) Vocês têm uma preocupação social nas letras, o que acham da explosão do movimento hip hop, dos Racionais?

Mano brown é um escritor nato. tem todo o talento necessário de passar sua realidade para o papel. Isto é o mais importante no que diz respeito ao racionais, mais do que ser hip hop Brown é um comunicador de massas e bastante consciente do seu papel.

3) A Nação Zumbi começou no início dos anos 90, em Recife, como uma das precursoras do movimento Manguebeat, que logo ficaria conhecido em todo Brasil. Como vocês se sentem diante desse feito ?

Sentimos cada vez mais que nosso trabalho como profissionais da musica tem sido visitado por todos sem distinção. Se gostam? não interessa muito. Mas viramos tema obrigatório quando se fala de musica brasileira. Ficamos felizes com esse reconhecimento.

4) E por falar nisso, vocês tiveram oportunidade de gravar um DVD em casa depois de mais de 15 anos na estrada? Como foi esse momento ?

Foi super complicado. Apesar de estarmos em casa ocorreram vários problemas de som e de produção, a cobrança do publico e as expectativas de todos, inclusive a nossa, foram fatores que balançaram um pouco. Tanto é verdade que ainda não conseguimos terminá-lo pois estamos com dificuldades para a liberação da verba na FUNDARPE. Vai fazer 1 ano de sua gravação...Mas quando sair nos sentiremos aliviados e felizes com o resultado certamente.

5) O que vocês acha do caminho que alguns grupos estão seguindo de misturar a música tradicional com a música eletrônica?

Cada um faz o que quer com sua musica. Nós já fizemos tudo isso. Achamos natural é a liberdade artística.

6) Vocês, depois da gravadora Deckdisc, voltaram ao mercado da música independente. Quais as vantagens que estão vivenciando nesse mercado comparado ao anterior ?

Não muitas. Mesmo com gravadoras fizemos sempre o que queríamos. A vantagem maior é que com a gravadora seus "amigos" te cobram uma grana preta pra fazer as coisas, e quando se está independente, todos fazem de graça.

7) O manguebeat não é tão difundido pela grande mídia comparado a outros ritmos populares. O que vocês pretendem fazer para mudar esse panorama ?

Continuar batendo na pedra.

8) Após a perda de Chico Science, como vocês encontraram forças para prosseguir na carreira e continuar a serem uma das principais bandas do movimento manguebeat ?

Se eu acreditasse em karma diria que esse é o nosso.

9) Fale pra gente sobre o mais recente trabalho lançado.

O mais recente já tem 3 anos e foi nosso primeiro disco com a deck. Chama-se "FOME DE TUDO". Foi muito bom de fazer em todos os sentidos. Desde a produção que foi de MARIO CALDATO passando pela composição e finalização .

10) Deixe um recado final pra todos os fãs do grupo espalhados pelo país a fora.

Obrigado a todos que estiveram sempre ao nosso lado nos apoiando em todas as fases que passamos e as que ainda estão por vir.

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