ENTREVISTA
ESPECIAL : Quinteto em Branco e Preto
Os
verdadeiros bambas do samba
Grupo formado na periferia de São
Paulo resgata o samba raiz e desponta no cenário
A periferia de São Paulo é conhecida por concentrar representantes do rap nacional e a maior parte dos grupos de pagode que surgem a cada momento. Até aí tudo bem. Mas o que poucas pessoas sabem é que de lá um grupo vem, com grande estilo, resgatando o samba raiz. Trata-se do Quinteto em Branco e Preto. Apesar do pouco espaço dado pela mídia a eles, o grupo veste de corpo e alma a camisa do samba e mostra a todos que tem qualidade suficiente para repor o gênero nos trios. Os irmãos pretinhos, como se referem a eles mesmos, Magno de Souza e Maurílio de Oliveira junto com os irmãos branquinhos Yvison José, Everson Manoel e Victor Hugo, formam o Quinteto em Branco e Preto, uma das melhores coisas que surgiram no cenário do samba nos últimos tempos. Esse conjunto é composto por jovens rapazes da periferia de Santo Amaro e São Mateus. Magno de Souza é o mais velho: tem 24 anos, é comerciário, toca pandeiro e compõe. Seu irmão, Maurílio, toca cavaquinho. Os outros integrantes são irmãos: Yvison responde pelas percursões diversas; Everson toca violão e Victor Hugo, surdo. Na contramão da onda pagodeira, esses rapazes, com idades entre 20 e 25 anos, optaram por fazer um samba maduro e tradicional, o samba de raiz. Formado em 1997, o Quinteto já acompanhou bambas do samba como Nei Lopes, Monarco, Arlindo Cruz e Almir Guineto. Isso só para citar alguns. Surpreendida pelo talento dos músicos, a cantora Beth Carvalho se tornou madrinha do grupo. E foi dela a idéia de batizá-lo Quinteto em Branco e Preto. Vale lembrar que, antes, Beth havia batizado de Quinteto Café com Leite. Mas foi descoberto que já havia um grupo com esse nome - e um grupo de música de péssima qualidade por sinal. Com isso, a cantora sugeriu Quinteto em Branco e Preto. Rapidamente, o grupo começou a ocupar todos os espaços do samba - afinal, eles tocam bem, cantam bem, compõem bem, arranjam bem, são bonitos, alegres, simpáticos e muito talentosos. O álbum de estréia do grupo foi, Riquezas do Brasil, lançado em 2000 pela Gravadora CPC-Umes e que conta a participação de verdadeiros bambas do samba. A direção musical, bem como os arranjos de cordas e sopros são de Luizinho Sete Cordas, outro mestre que aposta todas as fichas no Quinteto. Grandes músicos, como Mauro diniz (cavaquinho), Pratinha (flauta) ou Gerson Martins (repique de mão) e Chocolate (cuíca) tocam com os integrantes do Quinteto. Beth Carvalho faz participação especial em Sempre Acesa, samba inspirado de Sombra e Luiz Carlos da Vila; Almir Guineto empresta a voz que é rouca e melodiosa a Reveses, bela composição de Maurílio de Oliveira, o cavaquinhista do Quinteto, e Edvaldo Galdino; Wilson das Neves está com a turma em O Tempo em Que Eu Era Criança, dele e de Paulo César Pinheiro. A maior parte das composições de Riqueza Brasileira é de integrantes do grupo - e são composições extraordinárias -, mas eles não deixariam de mencionar as fontes em que se alimentaram. Assim, além das mencionadas, estão no repertório Amor Malfazejo, de Wilson Moreira e Nei Lopes, Nem Pensar em te Perder, de Monarco e Mauro Diniz, Quero lhe Ver em Meus Braços, de Nelson Cavaquinho e Wilson Moreira, um pot-pourri que junta Ataulfo Alves, Wilson Batista, Ismael Silva, Bide, Marçal, Geraldo Pereira e Noel Rosa, Cantar para não Chorar, de Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres e outro pot-pourri, com sambas de quadra da Camisa Verde e Branco, alguns registrados pela primeira vez. Com letras contemporâneas, o álbum nos faz reviver estilos do samba quase esquecidos pela nova geração. Samba de breque, de terreiro, partido-alto. Depois de 3 anos sem lançar um novo trabalho, o Quinteto em Branco e Preto retorna à cena com o disco Sentimento Popular, com lançamento previsto para agosto/2003. Enquanto isso o grupo vai se tornando um dos grandes representantes do verdadeiro samba raiz e mostrando que o que a mídia oferece não passa nem perto do que eles tocam e mostram. Para falar desse grupo e tudo sobre o samba entevistamos Maurilio de Oliveira, que toca cavaquinho no Quinteto. Veja tudo que eles nos disse ! Contato para Shows: (0 xx 11) 5103-2752 |
Marcus Vinicius Jacobson
Reportagem
Entrevista publicada no dia 17/06/2003
3) Fale pra gente sobre o CD de estréia de vocês. O Cd de estréia chama-se Sentimento Popular.Titulo este, de um samba feito por Wilson das neves e Vitor pessoa com a participação especial da nossa ilustríssima madrinha Beth Carvalho, à qual dedicamos o disco. Contamos também com as participações especiais de Nei Lopes, Xango da Mangueira, as Velhas Guardas do Camisa verde e branco e Nenê de Vila Matilde e Murilão. 4) O trabalho de vocês é caracterizado por letras contemporâneas e com Samba de breque, de terreiro, partido-alto. Vocês pretendem manter essa origem, mesmo diante da pressão das gravadoras que poderá acontecer? Olha, quando as gravadoras chegaram o samba já existia. Quer dizer, precisou existir música para existir gravadoras então!!! Quem deve mudar são eles e não nós. Aconteça o que acontecer, ninguém pode se esconder atrás de uma mentira por muito tempo. Essa é a filosofia do samba. 5) Vocês são considerados por muitos como um grupo está resgatando o samba de raiz e colocando-o nos trios . Como vocês se sentem com esse reconhecimento? Todos querem ser reconhecidos pelo trabalho que faz,pela semente que planta. É o que está acontecendo com a gente. Há varias formas de explicar o que sentimos com isso. Mas tudo se resume em uma só coisa: somos vitoriosos por nos tornarmos imortais.
7) Na contramão da onda pagodeira, vocês, com idades entre 20 e 25 anos, optaram por fazer um samba maduro e tradicional, o samba de raiz. Explique como isso se deu. Optamos pela qualidade porque somos verdadeiros.Nossa realidade é essa. O samba tem as verdades que só ele tem. Com ele podemos expressar o que sentimos o que passamos o que vivemos. Podemos até contar a nossa história. Há tantas coisas a descobrir. Se a massa tivesse acesso a um terço disso, nossa vida, nosso mundo seria outro!!!.Só Deus! 8) Como vocês se sentem vendo o samba raiz hoje em dia sendo pouco divulgado pela mídia em geral ao passo que o pagode é super exaltado e nem sempre o que é tocado tem haver com o gênero? Infelizmente o oba!oba! americano tomou conta do pedaço. E a opção como sempre,é aquele pão com água, imposto por eles. Por exemplo: Ah!!! o povo não "gosta" de pensar...então eles tentaram facilitar,falsificando a verdade, induzindo aqueles talentosos meninos da periferia que nunca tiveram informação de nada na vida e mal cursaram o primeiro grau. Dizem: Oferecem milhões"num pricisa" tocar bem basta ser "bunito"... E os pobres alienados não pensam duas vezes em fugir do desespero pra evitar que façam banalidades, monopolizando, dessa forma, uma nação inteira. Vem onda! sai onda! e o samba está sempre aí!!!
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