ENTREVISTA ESPECIAL: Uns e Outros

``A festa está recomeçando de onde parou``

A banda Uns e Outros volta em grande estilo e promete resgatar o verdadeiro rock


Uns e Outros nos palcos no ano 2002!

Os bons tempos estão de volta. Afastado da mídia nos últimos sete anos, o grupo Uns & Outros retorna aos palcos com um novo disco, lançado em março, pelo selo Seven Music, com distribuição da Sony. O novo CD da banda - agora formada por André e Zarmo Manieri, China e os fundadores Marcelo Hayena e Nilo Nunes - será uma coletânea das músicas compostas nos últimos quatro anos (12 inéditas e 4 regravações), como Outro Coração e Pra Nunca Mais Partir, versão de Love Vigilantes, do grupo inglês New Order, entre outras que já estão na ponta da língua como Carta aos Missionários, Dias Vermelhos, Dois Gumes e Canção em Volta do Fogo, que foram regravadas em formato Acústico.

A banda espera obter uma resposta positiva do público em relação ao novo trabalho para poder seguir em frente de cabeça erguida. Nesse novo trabalho, o Uns e Outros busca uma nova sonoridade e a banda garante que quem conhece bem os trabalhos anteriores, a primeira impressão, ao ouvir o novo CD será de surpresa absoluta.

O Uns e Outros, assim como o RPM, Capital Inicial, Nenhum de Nós, Finis Africae, marcou a geração dos anos 80 com suas músicas empolgantes. Vale lembrar que a banda foi criada em 1983 por Marcelo Hayena (voz), Nilo Nunes (guitarra), Cal (baixo) e Jonathas Nunes (bateria), que, juntos, obtiveram o primeiro sucesso três anos depois, quando a música "Dois Gumes" conquistou o segundo lugar do festival Banda Contra Banda.

Como prêmio, a canção entrou na coletânea lançada pelo festival. A faixa teve boa execução nas rádios e o grupo (já com Ronaldo Pereira na bateria) foi contratado pela PolyGram e lançou o primeiro LP, "Nós Normais". Em 88 mudaram para a gravadora Sony e lançaram "Uns & Outros" em 89. Desse disco destacou-se "Carta aos Missionários", maior sucesso da banda. "Dias Vermelhos", "Máquina Mortífera" e "Lágrimas entre Máscaras" também tiveram relativo êxito. O terceiro disco, "A Terceira Onda", veio em 1990, não fazendo tanto sucesso quanto o anterior, mas emplacando algumas músicas, como "Notícias do Leste" e "Canção em Volta do Fogo".

O contrato com a Sony foi rescindido em 1992, e o grupo fez algumas tentativas na seara independente, se apresentando em shows pelo país. Com mudanças na formação, em 1996 entram o guitarrista André Manieri, o baterista Zarmo e o baixista China, e passam a trabalhar em um novo repertório. Em 1998 a versão para "Love Vigilantes", do grupo inglês New Order, intitulada "Pra Nunca Mais Partir", faz sucesso nas rádios de Belo Horizonte. No ano seguinte, assinaram contrato com o selo Seven Music, da Sony. Essa volta promete. Quem agradece é o público, principalmente a legião de fãs dos anos 80.

 

SITE OFICIAL -> http://www.unseoutros.com

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 29/04/2002

1) O que mudou do Uns e Outros da década de 80 para os dias de hoje?

Bem, além de alguns fios de cabelo branco, o que mudou foi a formação original, com as saídas do Ronaldo(bateria) em 93 e Cal(baixo) em 96 a banda deu uma paradinha de 1 ano para um reformulada voltando aos trabalhos logo em seguida no ano de 97 já com a nova formação, que além de mim , Marcelo Hayena (vocal), e Nilo Nunes(guitarra) velhos conhecidos do público, contam agora com André Mainieri (guitarra), China (baixo) e Zarmo (bateria). Houve um amadurecimento natural nas composições. A entrada dos novos integrantes trouxe novas idéias, novas concepções, em conseqüência disso, os arranjos se modernizaram e alguns preconceitos que tínhamos foram deixados de lado para que a gente pudesse arriscar sem medo, pois, não queríamos voltar como um fóssil saído dos anos 80.

2) Fale pra gente como será esse novo CD, Tão Longe do Fim, que está sendo lançado agora em março.

Nesse novo trabalho nós buscamos uma nova sonoridade. Pra quem conhece bem os trabalhos anteriores, a primeira impressão, ao ouvir o novo CD será de surpresa. Nós evoluímos com o passar dos anos, acompanhamos os novos movimentos, as novas tendências e tudo isso acabou influenciando nosso som. Para muitos dos nossos fãs, vai ser como escutar uma nova banda. A produção do Jeveaux (Paulo Jeveaux, produtor da Seven Music) conseguiu aliar todo o peso das guitarras à seqüências eletrônicas, em uma mistura perfeita de efeitos, loops e samplers ao groove do baixo e bateria. O novo CD vai sair com 14 músicas, sendo 10 delas inéditas, incluindo aí versões em português para clássicos dos Smiths (Novamente Só/How Soon is Now) e New Order (Pra Nunca Mais Partir/Love Vigilantes) e como bônus nós regravamos 4 antigos sucessos nossos em versão acústica que são: Carta aos Missionários, Dias Vermelhos, Dois Gumes e Canção em Volta do Fogo. A produção do acústico, que ficou a cargo do Nilo, prima pela simplicidade e objetividade, os arranjos passam longe das grandes produções que estão disponíveis no mercado e são como um presente para os fãs que tanto correram em vão às lojas de discos procurando por nossos antigos trabalhos, alguns deles jamais relançados.

3) Depois desse lançamento, quais os próximos planos do grupo?

Estrada, estrada e mais estrada. O mais legal de se estar numa banda de rock, é poder conhecer novos lugares, novas pessoas, novos costumes e viver novas experiências. É claro que nem tudo são flores, existem os probleminhas, você dorme mal, come mal, nunca passa o som na hora combinada, o hotel nunca tem quartos suficientes… e por aí vai, mas, isso faz parte da história toda. Estamos loucos de vontade de subir naquele ônibus e botar o pé na estrada, afinal, foram 7 anos de espera…nos aguardem.

Durante os shows

4) Conte pra gente por que o grupo ficou um pouco sumido da mídia por quase 7 anos e está voltando agora com força total?

No final de 92 nós ficamos sem gravadora e partimos para a produção de um trabalho independente que iria se chamar "A Sinfonia dos Excessos" um trabalho com uma proposta de som bem pesado para a época, mas, num país tomado por Collor, Sertanejo e Axé não encontrou espaço sequer para ser lançado e acabou ficando na gaveta. No final de 93 Ronaldo (bateria) pulou do barco e entre shows cada vez mais escassos e muita batalha tivemos mais uma baixa no meio de 96 quando Cal não agüentou e seguiu o mesmo caminho. Paramos por 1 ano e meio pra compor, repensar as idéias e esfriar a cabeça. Em 97 já com a nova formação ensaiamos o trabalho antigo e tratamos de ralar em cima do novo material, o que seria o embrião do novo disco. A partir de 98 com o mercado dando sinais cada vez mais favoráveis ao rock, começamos a dar shows esporadicamente já testando o novo trabalho. Em julho de 2000 assinamos com a Seven Music, que é um selo da Sony, e no início de 2001 demos a partida nas gravações de "Tão longe do Fim". Eu acredito que tudo tem seu tempo, nós tivemos chances de voltar antes que não se concretizaram, talvez não fosse nossa hora, talvez não fosse o momento. Acho que o mais importante que aprendemos com todos esses anos foi a arte da paciência, de saber esperar a vez pra não atropelar o curso das coisas, mas agora, acho que chegou a hora de retomar o nosso lugar e de voltar ao caminho pra nunca mais partir.

5) O Uns e Outros veio pra se firmar de vez? Qual o sentimento do grupo em relação a isso?

Bom, vamos ver o que as pessoas vão achar do novo trabalho, quem vai decidir isso é o público. Se o trabalho for legal, tiver verdade, consistência e mensagem ele permanece, assim como os nossos trabalhos anteriores ficaram. Mesmo a gente tendo se afastado da grande mídia e nossos discos quase não sendo relançados em CD's, a nossa música já alcançou outra geração. É muito comum nos shows da gente a molecada de 16 a 19 anos, nos pedir autógrafos em vinis que herdaram de seus irmãos e falarem da história da banda com a autoridade de quem teria vivido tudo aquilo, o mesmo acontece na nossa página na internet, 90% das pessoas que se cadastram tem menos de 19 anos, e assim, mesmo sem termos nos dado conta disso, nosso público já vem se renovando ano após ano.

Durante os shows

6) Como vocês se sentiram tendo o maior sucesso da banda, Carta aos Missionários, regravado pelo Biquini Cavadão?

O Bruno é meu brother, nos conhecemos desde 86 num show que fizemos junto com o Biquíni no Hotel Glória. Ele é uma das pessoas mais talentosas, honestas e dignas que conheci, coisa rara no nosso meio. Em todos esses anos de "exílio" forçado a que fomos submetidos foi a única pessoa que estendeu a mão. Temos uma enorme dívida de gratidão com ele e com todo o pessoal do Biquíni por toda a força que eles deram pra gente. Nós ficamos muito honrados com essa regravação do Biquíni, o arranjo ficou com uma puta pegada e a voz do Bruno tem uma dramaticidade que me emociona. O cara tá cantando muito!

7) Qual o melhor momento que a banda viveu durante toda a carreira?

Esse momento ainda está pra vir. Podem apostar!

8) Vocês acreditam que ainda tem alguma meta a alcançar na música?

Claro! Temos ainda muito o que tocar por aí. A festa está recomeçando de onde parou. Agora é que o bicho vai pegar!

9) RPM, Finis Africae, Léo Jaime e tantas outras bandas que marcaram época voltando ao cenário musical nesse ano, fora outras que estão surgindo. Vocês acreditam que o Rock veio pra ficar de vez?

Acho isso muito legal. Todo esse resgate do que foi o rock nacional nos anos 80 é super saudável, até pra galera mais nova entender melhor o que ela curte agora. Bandas como RPM, Titãs, Legião, Engenheiros, Paralamas, Finis, Biquíni, Capital, Zero e Nenhum de Nós tiveram que quebrar barreiras, marcar território, fincar bandeira e abrir caminho para bandas como Charlie Brown Jr., Rappa, CPM22, Skank e Raimundos poderem ter seu espaço. Não dá pra conceber a existência do Radio Head sem antes haver existido um Jesus and Mary Chain e antes ainda um Sex Pistols, um Led Zeppelin e mais atrás Beatles e, mais ainda, Elvis ou Little Richard. Não aceitar isso seria o mesmo que não acreditar na evolução.

Marcelo Hayena nos anos 80

10) Mande um recado final pra toda galera que curte o Uns e Outros e para os que ainda não puderam acompanhar o trabalho de vocês de perto.

Nós estamos de volta pra nunca mais partir! Rock and Roll na veia!!! Abraços! Marcelo Hayena

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