Os 90 anos da música caipira |
A música caipira no Brasil está em festa! Juntamente com a viola, o gênero está completando 90 anos desde a primeira gravação fonográfica oficial, ocorrida em 1929, com a canção "Jorginho do Sertão", do compositor, jornalista, escritor, folclorista e importante etnógrafo da cultura e do dialeto caipira Cornélio Pires e executada pela dupla Mariano e Caçula. Se hoje existem vários tipos de música sertaneja é porque lá atrás Cornélio abriu a porteira para um estilo musical que hoje é sucesso. O gênero caipira foi o primeiro a valorizar as raízes folclóricas que, aliado à viola, traziam canções que falavam das coisas do coração e do dia a dia. A lista de ícones desse segmento é imensa. Inezita Barroso, Pena Branca & Xavantinho, Liu e Léo, Renato Andrade, Almir Sater, Roberto Corrêa, Zé Mulato e Cassiano, Raul Torres e Florêncio, Gerson Coutinho da Silva — o Goiá, Pereira da Viola, As Galvão.... Nossa, é tanta cultura reunido através de nomes, que peço desculpas a quem deixei de fora. As vezes, a memória engana a gente ! Uma cultura rica como essa deveria ser mais valorizada em nosso país. Falta apoio dos nossos governantes para criar projetos de divulgação. O público de hoje precisa estar atento às diversas nuances e vertentes do uso da viola caipira, desde as músicas mais tradicionais de raiz sertaneja da cultura popular brasileira até a evolução por estilos mais urbanos e modernos. Talvez fosse interessante a criação de um espaço próprio para se refletir sobre o futuro, a preservação e a valorização desta relevante e significativa expressão artística brasileira. É bem verdade que há investimentos e recursos culturais. Mas quase sempre não vão para a divulgação de nossos artistas, que trabalham em prol da cultura de raiz do nosso país. A maioria desses recursos é direcionada para oss que não precisam ou já possuem patrocínio no setor privado. A viola caipira é um dos principais símbolos desse segmento. Quase sempre não vejo divulgação por parte da mídia por esse instrumento, que hoje foca apenas no violão e guitarra. Vale lembrar que as canções que são entoadas com o recurso da viola passam de geração em geração, cujas raízes são preservadas e respeitadas. Uma notícia interessante, surgida em meio a esses festejos e que até certo ponto é uma justa homenagem à cultura caipira, é o projeto de lei que institui o dia 13 de julho como o Dia Nacional da Música e Viola Caipira (PL 399/2019) e que tramita na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). A matéria, de iniciativa do deputado João Daniel (PT-SE), recebeu parecer favorável do relator, senador Luiz do Carmo (MDB-GO), e está pronta para pauta no colegiado. A escolha do dia 13 de julho se justifica por ser a data do nascimento de Cornélio Pires, que foi organizador e divulgador da música caipira ao adaptá-la ao formato fonográfico e registrar os cantos que ouviu dos artistas populares caipiras. Que a música caipira, assim como a viola, tenha um lugar de maior destaque no atual cenário. Os sertanejos, que hoje estão no auge do sucesso, deveriam ser os primeiros a reconhecer a importância desse gênero. Por que não tratá-lo com mais carinho e dignidade. Não fiquemos apenas olhando nossos próprios umbigos. Sejamos fiéis a quem sempre nos acolheu. Os violeiros agradecem.
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